- Tu não és capaz. - Ela está plenamente certa do que diz. - Tu amas-me.

Eu amo-a.

Sinto as pernas fraquejar e inspiro dolorosamente, tentando não pensar no sangue que escorre por mim abaixo.

- Sim, eu amo-te Julles. - A minha voz está rouca de dor, mas não sei bem se é da bala que tenho cravada junto à cintura ou se é uma outra dor que nenhuma cirurgia poderá curar. - Eu amo-te, mas eu também tenho nojo da pessoa que me mostraste ser. Eu amo-te, mas eu também tenho mil razões para te odiar. Eu amo-te, mas eu amo mais a Emma, mais do que a minha própria vida.

Fiz uma pequena paragem para retomar o fôlego e percebi que começo a ver desfocado. Eu vou desmaiar em breve.

- Diz-me só. Porquê?

Ela avançou um passo e eu encostei-lhe o cano frio da arma à cabeça, fazendo-a recuar.

- Por dinheiro. - Respondeu, mecanicamente. - Isto não é um conto de fadas, Zayn. Há pessoas más, a fazerem coisas más, por objectivos igualmente maldosos. Eu não vou pedir desculpa pela minha escolha: é errada, é fácil, é vergonhosa, mas foi a minha escolha. Eu não estou arrependida, porque eu sou uma má pessoa. É tudo.

Ela parou de falar e sorriu.

- E tu amas-me.

A dor está a deixar de ser insuportável. É como se estivesse a deixar de sentir o corpo. Agora só tenho frio. Muito frio.

- Julles. - Arrastei-me um pouco para trás, apontando a arma ao seu coração. Ela ainda sorri. - Eu amo-te, mas eu também sou má pessoa.

O som do tiro propagou-se no ar e eu esperei uns segundos que o mundo desabasse sobre mim.

Mas tudo o que havia naquele momento era um silêncio apaziguador, apenas perturbado pelo choro fraco de Emma vindo da divisão ao lado. Coxeei até lá, atravessando o corredor destruído da casa devoluta, e vi um pequeno berço onde Emma estava cuidadosamente deitada.

Não vou pegar-lhe. Não assim. Num gesto pouco são, consciente que levariam poucos minutos até perder os sentidos, sussurrei uma canção de embalar.  Agora ela está a salvo e eu já posso dormir.

Eu quero tanto dormir. O Niall deve estar a caminho, não deve fazer mal eu fechar os olhos um pouco. Só um pouquinho...

Três segundos.

Três segundos fazem toda a diferença. Três segundos decidem entre a vida e a morte. E em três segundos eu fiz a minha escolha.

Eu podia dizer que foi a minha única opção, mas eu sei que não. Eu podia não ter matado Jullie. Eu podia deixar que a justiça se encarregasse dela, como uma boa pessoa faria. Eu podia ter usado os três segundos para escolher não disparar.

Mas eu não vou pedir desculpa pela minha escolha: é errada, é fácil, é vergonhosa, mas foi a minha escolha. Eu não estou arrependido porque eu sou má pessoa.

É tudo

E nesse momento tudo ficou escuro. "

*

- Emma! - Acordei sobressaltado e a gritar o nome dela, olhando em volta do quarto.

Ela remexeu-se na cama e esfregou os olhos sonolentos:

- Zazza? É hora de ir para a escola?

Suspirei aliviado e estreitei-a contra ao peito.

- Não amor, só tive um pesadelo, dorme.

Love WingsWhere stories live. Discover now