Pepi

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Pepi era um cachorro vira-lata, daqueles de cor caramelo, morava na rua e vasculhava o lixo quando Nicole o encontrou, a menina parecia ter por volta dos oito anos de idade, carregava uma bolsa roxa nas costas, usava uma blusa laranja com botões vermelhos e uma boina preta inclinada para a direita. Pepi pôde sentir o cheiro doce de seus cachos quando a menina se abaixou para acariciá-lo. Vendo que passava fome, ela pegou um meio sanduíche que havia sobrado de seu lanche na escola e deu a ele, que o devorou no mesmo instante.


- você quer ir para casa comigo? – perguntou. Mas claro, o animal não respondeu. – Bom, eu espero que sim. Vamos?


Ela foi andando e Pepi a seguiu esperando receber mais carinho e comida, o dia estava ensolarado e com poucas nuvens, alem de fome, Pepi também sentia sede. O chão quente machucava suas patas, ele subiu a rua atrás da menina que sempre olhava para trás para ver se o animal a seguia. Chegaram à casa dela e de inicio ele ficou receoso de entrar, já tinha vivido experiências ruins em algumas casas, mas como estava sendo convidado, decidiu arriscar mais uma vez. Devagar ele adentra a sala e começa a cheirar os moveis, dois sofás, a estante, uma mesinha de centro, sem cheiro de outros animais.


- mãe, a gente pode ficar com o bichinho?


- que bichinho Nicole Maria? Ah minha filha! Você trouxe um cachorro de rua para dentro de casa? – não é que Leandra não quisesse que a filha tivesse um animal, ela não queria é que fosse de rua. – ela pode ter doenças filha, leva ele la para fora.


- não mãe! Eu quero ficar com ele.


Vendo a cara de suplica que sua filha fazia, ela decidiu tentar. Na manhã seguinte levaria o animal a um veterinário e se ele estivesse bem, poderiam ficar com ele, enquanto isso ele não poderia ficar dentro de casa. Pepi foi levado a área de serviço, pegaram um lençol velho e fizeram uma cama improvisada para ele, Nicole brincou com ele o dia todo e achou muito bom ter um cachorro, mas para ela seria melhor se ele não tivesse necessidades fisiológicas.


No dia seguinte ele foi levado ao veterinário, foi o pior dia de Pepi, foi picado varias vezes e teve de engolir vários remédios com gostos ruins, aparentemente ele tinha algumas pulgas que poderiam ser resolvidas com um xampu especifico e um remédio. Saindo do veterinário, Leandra passou em uma pet shop e comprou tudo que ele iria precisar, cama, brinquedos, mordedores, bolinhas, coleira e tudo mais. Nicole ficou extremamente feliz em saber que ficariam com o cachorro, naquela mesma tarde saiu para passear com ele, já eram melhores amigos, Pepi não deixava mais a menina sozinha e por isso Leandra colocou a caminha dele no quarto da filha. Estava tudo maravilhosamente bem. Até certa hora da madrugada.


Já estavam todos dormindo a um bom tempo quando Pepi começou a latir no quarto de Nicole, assustada, Leandra correu ate o quarto da filha e chegando la estava preparada para reclamar com ela e dizer que não devia brincar com ele ate tão tarde. Mas quando abriu a porta o que viu foi Nicole assustada na cama pedindo para que Pepi fizesse silencio.


- o que houve?


- eu não sei mamãe, ele me acordou latindo. Eu me assustei.


- ah meu bem, venha ca – disse Leandra abraçando ela para que se acalmasse. – olha, talvez ele também esteja assustado. Que tal ir abraçá-lo um pouco?


Nicole, ainda com medo dos latidos fortes do animal, deu um abraço carinhoso nele o que o fez se acalmar um pouco. Leandra voltou para a cama e Pepi foi para a cama de Nicole, assim voltaram a dormir. Um pouco mais depois Nicole acorda com Pepi correndo para fora da cama e indo em direção a cozinha. De novo ele começa a latir. A menina vai atrás para abraçar o amigo outra vez, chegando à cozinha ela o vê latindo para o botijão de gás, mais uma vez ela o acalma e os dois vão para a cama.


Quando amanheceu, Leandra foi conversar então com a dona do pet shop onde havia comprado as coisas do cachorro, a mulher disse que talvez ele ficasse assim por uns dias por não estar acostumado com a casa, mas que em poucos dias isso passaria. Mas não passou. Fazia mais de duas semanas que o cachorro acordava talvez a vizinhança inteira latindo sempre na cozinha próximo ao botijão de gás. Um dia, cansada daquilo tudo, Leandra decide levar o animal de volta aonde ele foi encontrado. Ela conversa com Nicole que não recebe muito bem a noticia, mas entendeu o lado da mãe, fazia dias que elas não tinham uma boa noite de sono, então a menina foi levar Pepi ao lugar onde o achou, levou consigo um pouco de comida para distrair ele enquanto ela voltava para casa e assim não ser seguida. 

Com o coração na mão e lagrimas nos olhos ela voltou sozinha para a casa, ao ver a filha assim Leandra ate repensou a ideia, mas não poderiam perder mais noites de sono, ela precisava trabalhar e a menina tinha escola de manhã. Ela foi tentar consolar a filha e avisar que o almoço estava quase pronto. Foram as duas para a cozinha e Nicole não conseguia conter as lagrimas porque tudo na casa lembrava seu amigo. Percebendo que as bocas do fogão de repente se apagaram ela rezou para que não fosse o gás que tivesse acabado ela chegou mais perto e viu que apesar de muito de muito pouco, havia gás vazando. 


Enquanto isso Pepi corria de volta para casa, ia o mais rápido que podia quando de repente ouviu um barulho muito alto que fez o chão tremer, ele grunhiu de agonia, aquilo o deixou atordoado e o fez esquecer por um momento que precisava voltar para casa. Assim que a agonia e o susto passaram ele voltou a correr, e estranhou que agora todos iam na mesma direção que ele e também corriam, estimulado, ele tentou ir mais rápido. Chegando em frente a sua antiga casa o que ele viu foi fogo e destruição, alguns murmuravam sobre o que teria acontecido, e outros jogavam baldes de água para apagar as chamas, desesperado, Pepi queria se aproximar para procurar sua amiga mas o calor das chamas o afastava, então ele latia e chorava. 

Os bombeiros chegaram, as chamas se apagaram, mas não sobrou nada da casa alem de entulho quente. Alguns cuidaram de Pepi e por varias vezes tentaram tira-lo dali, mas o animal não queria sair, ficou ali ate o fim e quando as brasas esfriaram o suficiente ele deitou encima de toda aquela bagunça. Pouco tempo depois. 

Pepi morreu por ter inalado muita fumaça. 



***então pessoal, o que acharam? triste o final neh? comentem se gostaram ou nao, tem alguma coisa na minha escrita ou narração que eu deva melhorar? você gostou do meu modo de escrita? comenta ai. ah, e nao esqueçam de votar <3 obrigada :D 

PepiWhere stories live. Discover now