Trecho do conto "A cartomante"

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Quando foi que Maria desceu a calcinha pelos joelhos sem que ele percebesse, e essa penugem de pelos escuros entre as suas coxas? Não é possível que seja... Claro que era o bebê coroando, Deus, de jeito nenhum daria tempo.

- Eu não consigo, eu não... – O mantra entoado transformou-se rapidamente em uma negativa veemente.

Maria passou a mão na testa, tirando os fios longos dos seus cabelos castanhos grudados no rosto.

- Shh, olhe para mim, meu amor, eu confio em você, Javier. – Ela sussurrou e segurou firme a mão grande e forte do seu marido, lhe dando uma injeção de ânimo e coragem.

- Obrigado, nós vamos conseguir, juntos, eu vou te ajudar a trazer o nosso bebê ao mundo.

- "Força", "Estamos quase lá, amor, só mais um pouco" – Os minutos passaram em disparada, até que após um instante breve e mágico, Javier terminou de puxar o pequeno corpo ensebado, deu um tapa no bumbum do seu bebê grande e robusto, e a todos os pulmões, o fruto do seu amor por Maria chorou anunciando ao mundo que tinha chegado.

- A nossa filha nasceu meu amor, linda e saudável, não há palavras que eu possa expressar a felicidade, a emoção que eu sinto agora em ter a minha pequena nos meus braços, obrigado amor, pelo presente mais lindo que eu poderia ganhar em minha vida. – Secando as lágrimas teimosas que caiam em cascata dos seus olhos, Javier depositou com cuidado o bebê ainda sujo nos braços exaustos da mulher de sua vida.

- Nosso presente, a nossa Rosa, seja bem vinda, filha. É difícil acreditar que chegamos até aqui, em pensar como nossa história aconteceu, eu nunca poderia imaginar que encontraria o grande amor da minha vida em uma noite de carnaval.

                                                                            ***


"... A cigana leu o meu destino

Eu sonhei!

Bola de cristal

Jogo de búzios, cartomante

E eu sempre perguntei

O que será o amanhã?

Como vai ser o meu destino?

Já desfolhei o mal-me-quer

Primeiro amor de um menino... "

(O Amanhã- Samba enredo União da Ilha do Governador – João Sérgio e Didi)

Um ano atrás

O corpo frio da menina a frente de Javier confirmava que a RCP4 aplicada não estava surtindo efeito.

- Preparem a epinefrina5.

- Doutor eu acho que não tem mais jeito, é melhor... – O enfermeiro robusto de aproximadamente uns cinquenta anos, experiente, olhava a pequena criança com o ar pesaroso, discordando da decisão do jovem médico de prolongar inutilmente as massagens cardíacas.

- O melhor é você colocar esses braços fortes para exercitar e continuar com as massagens e a ventilação, enquanto eu preparo o DEA6.

Ao mesmo tempo em que o enfermeiro Antônio mantinha as compressões cardíacas, Javier preparou o desfibrilador e assim que o DEA estava calibrado, Javier ordenou com a voz trêmula, sem conseguir esconder a esperança de trazer a sua pequenina paciente de volta à vida.

A cartomante - Paixão FoliãWhere stories live. Discover now