Capítulo 1:

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Vender o corpo nunca será opção

O sol escaldante toca em meu rosto e reflete na armação de óculos escuros. Eu já estava vestindo o biquini, por mais que não gostasse da ideia de me mostrar tão publicamente dessa forma.

Na minha cabeça, poderiam estar olhando para minha pinta na perna, próxima a minha zona de perigo e rindo dela. Mas eu gosto dela.

Eu estou de férias, estou em Cancún e é o meu primeiro aniversário sem o menor vislumbre dos meus pais - o que pra mim, chega quase a ser um sonho! Um sonho assustador e bom.

Olho para os lados opostos da rua e atravesso sem preocupação, a pose de menina forte, a alma de mulher frágil. A praia, explendorosa, brilha com os primeiros raios escaldantes do dia. O suor desce fino por minha testa, mas quem disse que me importo? Estendo a toalha num lugar com uma boa vista - para a praia toda - e me deixo sem qualquer cerimonia.

Hoje eu só quero paz.

Depois de estar devidamente assada, eu vislumbro o mar. Ele parecia tão convidativo, tão quente junto ao sol... que parecia impossível resistir. Que se dane! Vou pro mar.

Eu tiro os chinelos e a tanga e deixo as coisas dentro da bolsa, no meio da praia mesmo. Eu estou meio sem noção, mas eu estou apenas compensando 18 anos de aniversários certinhos e formais. Eu mereço, é sério. Uma vez tive que manter a postura ereta, sem respirar, por duas horas. Foi terrível. Eu só dizia obrigada E NÃO COMI, NO MEU ANIVERSÁRIO. Mas tudo bem, sem rancor.

Corro e me jogo no mar. É incrível! Me sinto abraçada, sendo ninada pelo vai e vém das ondas. É tão bom sentir essa sensação... é como ser levada, assim como também ser preenchida.

Me lembro da primeira vez que vi o mar: Era um dia de inverno, estava frio de -2°C e meus pais não deixaram eu me aproximar, porque bem, provavelmente iria congelar, mas eu não sosseguei e enquanto eles dormiam, tomei um táxi e fui para a praia. Foi minha primeira maluquice, burrice eu fiz muitas, mas maluquice... foram 5, falo depois.

Fiquei 3 meses de castigo.

Saio pingando água de um jeito sexy, porque ir para Cancún senão para arrasar? Sorrio... o dia estava indo tão bem!

Até que, quando chego próximo da toalha que estava, adivinha só o que sumiu?

Bolsa que tinha cartão, celular, protetor, tudo! De quebra, ainda tinha a tanga. Agora vou andar praticamente nua por aí!

Legal.

Quando acho que não pode piorar... quando achava que as coisas já estavam indo péssimas, começa uma brisa fria que me faz estremecer.

Merda, eu vou acabar pegando um resfriado.

O mar sempre me trás resfriados... fortes. A sorte é que não está em um frio horrendo, mas a janela da mente me traz aquele trauma e eu tremo mais.

Quero xingar.

Eu fico olhando para a toalha, cogitando passá-la no corpo ou não... Mas está tão cheia de areia...

Preciso ligar pra Tracy. Ela vai saber me socorrer - no caso, ela iria me buscar e esse é meu socorro. Levanto o olhar e olho para os arredores e vejo um quiosque próximo, a pouco mais de alguns metros. Aperto o passo quase encolhida e tento me equilibrar pra não cair na areia desregular e no meu frio absurdo.

Chego no quiosque e fico sem jeito... sempre mordo o lábio nessas circunstâncias.

Será que o cara dono do quiosque fala inglês? Será se ele empresta o telefone pra uma estranha num lugar que você não pode desviar o olho um segundo que roubam sua alma? Dramática, não? Acabei de perder meu celular e minha tanga nova! Ela era minha cara, sabe o quanto é difícil encontrar uma daquelas?

Quem Ganha?Where stories live. Discover now