Capítulo Um

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Tudo estava escuro ao seu redor.

Embora Thomas pudesse ouvir o ecoar distante do urro do povo, ele não podia enxergar sua origem.

Ele podia sentir seu corpo gritando de dor e cansaço. Suas pernas tremiam, enquanto seus braços simplesmente balançavam a espada de qualquer maneira, sem ter mais forças para manter a postura e ele não pensava mais, simplesmente lutava por instinto, usando qualquer força que houvesse dentro de si, na esperança de ganhar aquele combate com um único golpe fatal.

Mas haviam duas coisas ele enxergava.

Alguns metros da areia no chão ao seu redor.

E um vulto, que desferia um ataque em direção a sua cabeça.

A memória muscular de Thomas agiu por instinto. Sua mão direita automaticamente levantou a espada, enquanto a mão esquerda se preparava para servir de suporte a outra extremidade da arma.

Foi então, com um rápido movimento, ele viu seu adversário se deslocar poucos centímetros para seu lado direito e acertar a parte de trás de seu joelho.

Thomas não sabia se o golpe havia sido tão forte ou se haviam esgotados todas as forças em seu corpo. Ele sentiu sua perna direita saindo do chão e o equilíbrio fugindo de seu corpo, indo em direção ao chão.

E quando sua cabeça atingiu o chão, ele acordou assustado.

Ele levantou, suando frio devido aquele sonho. Não era a primeira vez que ele tinha aquele tipo de sonho, ou pesadelo. Ele podia sentir a dor, o cansaço, o desespero e quando acordava, tudo sumia, como se fosse um truque de magia.

- Outro sonho... - Ele murmurou para si mesmo, esfregando os olhos com suas mãos.

Então ele se levantou e foi até a bacia de água que se encontrava do outro lado do dormitório para lavar seu rosto. Enquanto atravessava o dormitório, ele observava o restante dos garotos, grande parte desse grupo era composto de filhos de guardas ou de alguma família nobre, deixados no castelo com o intuito de receber treinamento desde pequenos e se prepararem para o exame para se tornarem cavaleiros, eles recebiam um treinamento duro, enquanto também deveriam trabalhar no castelo, para compensar a moradia e comida. O pequeno restante desse grupo, era composta por órfãos abandonados no castelo.

"Pelo menos dessa vez, não acordei ninguém."

Thomas lavou seu rosto e resolveu descansar um pouco nos jardins, ele não conseguiria dormir no estado em que se encontrava.

Não era a primeira vez que ele tinha esse tipo de sonho. Mas essa não era a pior parte.

Eles eram premonições.

Quando questionou um dos arquivistas do castelo, sobre esse tipo de acontecimento, foi dito que a muitos anos atrás, magos estudavam a arte de prever o futuro, mas sempre evitavam interferir nas ações, com medo de que sua interferência pudesse causar danos colaterais ao futuro.

Com tais palavras em sua cabeça, ele sempre via seus sonhos acontecerem e nunca interferia neles, com medo do que suas ações pudessem acarretar. E em algum momento, aquele sonho aconteceria. E ele já tinha uma ideia de quando.

Os urros de pessoas ao seu redor. Aquela areia que ele conhecia tão bem. A espada de madeira.

Seria durante o torneio dos aprendizes, durante o festival da colheita. Durante tal torneio, os aprendizes mais velhos, teriam uma chance de batalhar entre si, para demonstrarem o quanto eles haviam aprendido durante seus anos de treinamento. Diversos cavalheiros estariam presentes no torneio e, ao final dele, poderiam acolher algum aprendiz como seu escudeiro. No pior dos casos, os garotos se tornavam guardas do reino.

Filhos do InvernoWhere stories live. Discover now