02. Metadinha

1.3K 118 128
                                    

De todos os bairros do Rio de Janeiro, Vila dos Anjos era considerado um dos mais antigos

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

De todos os bairros do Rio de Janeiro, Vila dos Anjos era considerado um dos mais antigos. Estava no páreo com outros mais famosos, inclusive no que dizia respeito ao número de moradores, mas tinha a agradável vantagem de estar mais bem conservado.

As ruas arborizadas seriam mais frescas, se a temperatura da cidade fosse mais estável. Com a irregularidade do clima durante as estações do ano, nem mesmo as robustas árvores daquele nostálgico bairro conseguiam combater a sensação térmica desconfortável sentida pelas pessoas no dia a dia.

A movimentação de veículos era pequena, e a de pedestres, menor ainda. Raras eram as vezes em que poderia se notar um grande fluxo de transeuntes. A maioria das pessoas trabalhava em outros bairros e até mesmo em cidades vizinhas, o que justificava a atmosfera deserta – quase um bairro fantasma – em horário comercial.

Apenas sextas, sábados e domingos se percebia um fluxo maior.

Vila dos Anjos era composto, em sua maioria, por casas de arquitetura clássica, simples e elegantes. Fossem construções individuais ou vilas, cada moradia daquela humilde área tinha sua história para contar.

Uma das casas, no entanto, tinha bem mais a dizer. Não porque era a mais velha – até poderia ser –, mas porque possuía a peculiaridade de aparecer e desaparecer de acordo com a vontade ou a necessidade de algumas pessoas. Um grupo bem seleto, se poderia dizer. Era algo além da compreensão dos moradores daquele bairro. Daquela cidade. De todo o mundo. A verdade é que os moradores de Vila dos Anjos sequer tinham conhecimento de tal lugar.

A exótica construção ficava estabelecida em uma rua cercada por árvores frondosas, perto de uma esquina. Ninguém podia vê-la no dia a dia, salvo algumas poucas pessoas. Ian era uma delas. Podia enxergar aquele lugar fascinante. Ele podia ver a Casa da Costa. Exceto naquele momento, quando existia apenas um terreno baldio à sua frente. O local permanecera vazio desde que o garoto voltara para casa, há quase quatro meses, depois de ter encontrado a Ferida da Terra, encarado Zero e enfrentado Cosmos.

Depois da reviravolta que sua própria vida sofrera.

Ian não conseguia entender a razão do lugar estar mascarado. Até onde sabia, ele era Descendente de Erin, o que deveria dar a ele acesso livre ao continente oculto.

Levou a mão à testa em instinto, mas o terceiro olho não estava lá. Não de forma explícita. Em seguida, tocou com a outra mão o anel que carregava no indicador, girando um pouco o aro. O ouro polido e luminoso exibia o desenho de um sol rústico dentro de um olho amendoado. Era impossível, para Ian, não se deter na minuciosa joia.

Sentado de pernas cruzadas no meio da calçada que dava para o terreno, Ian respirou fundo e olhou mais uma vez para o abandono à sua frente. Ouviu o tilintar enigmático de um mensageiro do vento em uma casa próxima anunciando chuva. Uma brisa começava a soprar mais forte e bagunçava o cabelo liso e curto do rapaz. O céu começava a acinzentar, mas o fato não o incomodou: naquela época do ano era comum chover, especialmente quando o calendário marcava 31 de dezembro. Pelo acúmulo denso que se formava, era possível notar que a água desceria impiedosa.

Os Descendentes e a Pugna Regencial [AMOSTRA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora