Capítulo Único

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Marlene colocou o cigarro em sua boca, admirando como a sua fumaça somaria-se às outras ao seu redor. Qual seria a cor da vez? Negra, para combinar com o seu humor? Vermelha, representando o seu sangue?

Podia imaginar o seu corpo estampado ao chão, o sangue colorindo a calçada branca. Que calçada seria? A de frente de casa? A do colégio? Ou talvez a de um beco, de um telhado qualquer que encontrasse, sem significado algum.

Como se fosse um cigarro qualquer, a fumaça saiu branca. Entediantemente e tão sem graça, branca.

Frustrada, puxou a nicotina mais uma vez para dentro de seus pulmões, antes de jogar a bituca no chão, pisando em cima. Sem importar-se com o desperdício, como não estava importando-se com muita coisa nos últimos tempos, ela puxou mais um cigarro de seu maço, colocando-o na boca enquanto procurava pelo isqueiro.

— Nunca vi alguém jogar o cigarro fora por causa da fumaça.

Marlene tirou o cigarro da boca, apenas para ter o prazer de responder.

— Eu também nunca vi alguém opinar sobre os cigarros alheios, a não ser que seja para dizer o quanto faz mal — ela disse.

— Você sabe que faz mal. Fuma porque quer — Sirius respondeu, desinteressado.

— Obrigada por perceber isso.

Ela voltou a procurar o isqueiro, acendendo a ponta do cigarro, observando-o silenciosamente.

Apesar de ter toda a aparência de quem andava por aqueles cantos, Sirius Black não era um usual frequentador, o que tornava a sua visita bem estranha.

— Fazendo negócios ou só observando a beleza? — perguntou Marlene, indicando o beco em que estavam.

— Segunda opção — disse ele, olhando-a de cima a baixo.

Ela apenas riu, sugando a fumaça para dentro dos pulmões, soltando-a logo depois com suas risadas.

— Você é engraçado — disse, sem intenção de debochar.

— Que bom! Te fiz sorrir.

Marlene não respondeu, voltando a fumar.

Observou a fumaça avermelhada e bem apropriada sair de sua boca. Se fosse um tempo antes, estaria pensando no quão agradável seria se tirasse uma foto ou fizesse um vídeo soltando a fumaça vermelha com outras pessoas, cada uma com uma cor diferente. Ela realmente se importava muito com as aparências.

— Que boca maravilhosa, docinho. Traz ela aqui — um rapaz indicou o chão, mas Marlene sabia muito bem onde ele queria a sua boca.

— Que mau hálito. Faça um bem para a humanidade e cale a boca.

Sirius aproximou-se dela quando viu ele aproximar-se, mas Marlene permaneceu impassível, fumando o seu cigarro, apoiada à parede do beco.

— Escutei que você não tem medo de morrer — ele disse, parecendo furioso.

— Por quê? Vai me bater? — ela perguntou — Você não será nem o primeiro nem o último.

Por um momento, o cara parou, parecendo abismado e um pouco culpado. Por fim, apenas deu uma última olhada para ela, dando de costas e seguindo o seu caminho com o amigo, que recém chegava com uma mão no bolso interno da jaqueta.

— Eu não preciso de ajuda, como pode notar — disse Marlene, voltando a fumar.

Sirius olhou-a com pena, como se ela fosse uma drogada que não admitisse precisar se curar.

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