Cap 6 jeito diferente de amar

Začít od začátku
                                    

nem se davam o trabalho de desviar

a barriga doía

a cabeça doía

eu sentei para tentar respirar

meu peito estava apertado

eu não estava bem

acho que é famosa magia do natal

que para uns serve para curar

para unir

mas toda vez que eu era ignorado por alguém

isso me queimava a pele

eu era uma criança

eu não pedi para estar ali

eu só queria um motivo para sorrir

algo para comer

eu sentia que ia morrer

e eu não queria morrer

voltei a andar

e como uma travessura do destino começou a chover

então corri para uma marquise para me proteger

fiquei sentada em frente à loja de noivas

não conseguia ficar muito tempo pé

sentei

e fiquei olhando a chuva

olhando os casais entrarem

felizes

fazendo planos

do outro lado da rua tinha loja de brinquedos

famílias inteiras lá

comprando presentes

eu me sentia a única pessoa da terra que não conseguia sorrir

vendo os outros felizes

me senti egoísta

me senti suja por pensar assim

eu estava suja

por dentro e por fora

então tentei sorrir quando uma garotinha que ia cair em uma poça de lama teve esse ato impedido pelo seu pai

que a levantou e colocou em seus ombros

deu-lhe um beijo

e perguntou se estava tudo bem

era o que eu precisava

levantei e comecei a oferecer minhas balinhas de novo

passei diante de uma casa

tinha uma bola do lado de fora do portão

e uns bracinhos pela grade tentando pegar

eu de pronto ajudei

peguei a bola e joguei para dentro da casa

e continuei andando

escuto um chamado

"ei garota!!"

olhei para trás

me senti vista finalmente no dia

a pessoa me viu e sorriu

mas sorriu de alegria e não de deboche

eu sorri de volta

era uma senhora

ela me chama para perto dela

eu não desconfiei

tive medo

ou receio dela

eu apenas fui

e chegando lá

ela abaixa e pergunta qual era o meu nome

eu não sabia...

e quando eu falei que não sabia

minha barriga imitou um tiranossauro rex

ela arregalou os olhos e perguntou se eu queria algo para comer

eu respondi: é o que eu mais quero

ela pediu para eu sentar do lado de dentro da garagem dela

eu fiquei de frente para outra garotinha... acho que era netinha dela

a netinha dela ficou me olhando

Mexendo a bola no pé

eu perguntei: posso brincar com você?

ela respondeu: acho melhor você comer primeiro, porque eu quero brincar sem parar com você

sorriu e entrou

a senhora saiu com um prato

um copo

e entrou

e quando eu estava comendo

saboreando cada ingrediente daquele prato

que havia de tudo que eu poderia querer

prato mais delicioso da minha vida

de todas elas

de todas que eu havia vivido

nunca me senti tão feliz em comer

saiu a senhora de novo com uma sobremesa

eu nunca dei tanto valor em um pedaço de pudim

e no final do pudim

sai a garotinha

com uma caixa de bonecas

dizendo vem

vamos brincar

ta de barriguinha cheia né?

eu só balancei a cabeça confirmando

a gente brincou de todos os desenhos que eu lembrava

claro que ela não conhecia nenhum

mas ficou maravilhada

principalmente sobre uma brincadeira sobre fadas que eu lhe apresentei

estava escurecendo e eu precisava voltar

então fui me despedir

a senhora ainda trouxe mais comida para que eu levasse de volta pra minha casa

eu agradeci

com o coração cheio de gratidão eu fiquei olhando para trás toda hora

olhando para casa

revivendo cada momento

cada sorriso que eu dei

do sabor da comida

e em uma dessas olhadas para trás

um cachorro me pegou

eu cai

não me machuquei

só me assustei

mas o motorista ficou preocupado

me pegou no colo

e começou a me encher de perguntas

contei o pouco que sabia

então ele sorriu por eu estar bem

e disse: não se preocupa, vou cuidar de você.

isso confortou meu coração

o que começou sendo pior dia das minhas piores vidas

acabou sendo o dia que eu me senti invisível

depois me senti não só vista

e sim notada


Perspectiva do InfinitoKde žijí příběhy. Začni objevovat