Capítulo X - Aproximação

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O tempo passou, Tyler tinha aproveitado a sua tarde, deitando-se no trapiche, molhando os pés, refletindo, sentindo a brisa, molhando o rosto na água cristalina e andando pelos arredores, sendo tomado por uma sensação de encanto a cada descoberta na ilha.

Ao fim, seu corpo cansado pedia uma trégua, e foi com esse pensamento, juntamente com o fim de tarde que já havia chegado há algum tempo, ele seguiu de volta a parte habitada da ilha.

Com seus passos calmos e o olhar perdendo o brilho daquele esplendoroso lugar, sua feição voltou a ficar neutra. As luzes e tochas já estavam acesas, iluminando em diferentes tons as construções da ilha. Tyler seguiu para seu dormitório, encontrando-o vazio, como sempre. Ele e seu colega de quarto, Gabriel, não se falavam muito, visto que nos dez dias que estavam na ilha, haviam ficado no mesmo grupo de atividades apenas quando chegaram, em seu primeiro dia; e nas horas vagas quase nunca se encontravam.

Ao encarar o relógio na parede, Tyler desesperou-se, perdeu tanto tempo em devaneios e explorações que havia perdido o horário da janta, a última refeição do dia. Nem se corresse para o refeitório conseguiria chegar a tempo, já passavam das vinte horas, e o horário para todos estarem lá era dez minutos antes das dezenove e quarenta e cinco, o horário quando iniciava a janta. Sua mente rondava no questionamento de como ficaria a noite toda sem comer nada, sendo que sua última refeição foi no fim das atividades, às duas e meia da tarde.

Ouviu a ilusão de sua barriga roncar, já pensando na fome que passaria. Sem ter o que fazer, recorreu ao armário conjunto do quarto, pegando uma muda de roupas de lá e sua escova de dentes, juntamente com a pasta, resolvendo tomar banho. Com os ombros caídos, decepcionado, seguiu até o banheiro masculino, que ficava ao centro do corredor dos dormitórios.

Com um pouco de pressa ensaboou-se, fazendo o sabonete criar uma boa quantidade de espuma, lavando a si e aos seus cabelos. O tempo máximo de banho era de sete minutos, mais que isso, poderia haver penalizações, e isso era o que Tyler menos queria no momento.

[Gabriel]

Apesar de se manter convicto, com seus pensamentos centrados, após ter chorado as mágoas quando chegou à ilha, o garoto estava impaciente. Já havia se acostumado ao local, parcialmente. Mas seu espírito libertino e travesso estava sendo constantemente censurado, a fim de livrá-lo de problemas. Na ilha não podia pintar, pichar, ou qualquer coisa que sua alma de artista se atraísse à fazer. Naqueles dez dias ali, já havia corrido incansáveis quilômetros, nadado infinitas braçadas, assistido incontáveis palestras, e feito invisíveis amigos. Era apenas uma visão cômica para afastar a realidade: sua desgraça. Gabriel adorava conversar, era animado, agitado, sempre hiperativo. Era. Ao chegar na ilha, não se reconhecia mais. Sentia-se um peão de obras, tendo que fingir ser submisso às regras e complacente com todos.

A verdade é que ele não era o mesmo sem viver sua arte, o mais próximo que chegava de vivê-la era desenhar na areia, mas sem todas as cores e formas que uma tela o proporcionava, definitivamente não era a mesma coisa.

O que fazia para se expressar, era desabafar, todas as noites, para as estrelas, quando davam o ar de sua graça, ou para as nuvens que ocultavam-nas. Durante a tarde, ele aproveitou o tempo livre para dormir um pouco e, quando acordou, por volta das dezessete e trinta, resolveu entrar no mar. Precisava descontar sua fúria represada contra as ondas, batendo rápida e firmemente os braços naquela água. Ainda que se recusasse a chorar na frente dos outros, com seu corpo todo molhado, naquele momento, não daria para saber o que eram lágrimas e o que era a água do oceano, simplesmente.

Os minutos passaram rapidamente, enquanto suas costas recebiam todo o calor e luz que vinha do sol de fim de tarde, provavelmente o deixando com a pele queimada posteriormente. Ficou lá até saciar sua raiva e o céu começar a escurecer, como se absorvesse todo o sentimento pesado e obscuro que Gabriel estava mantendo em si, ou não. Era apenas a noite chegando, no fim das contas.

Delitos (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora