Capítulo 20 - Preces

Začít od začátku
                                    

Ela não fazia ideia de como tinha chego ao apartamento de Sam, de como acabara vestindo apenas a camiseta branca dele, aquela que tinha um furinho na barra que ele emprestara para ela na primeira noite que dormira ali. Tinha adormecido no sofá dele, onde haviam dormido juntos tantas vezes.

Aquele lugar era tão dele, era tão ele. As paredes cobertas de prateleiras e mais prateleiras de action figures, o tapete felpudo manchado onde ele derrubara vinho dia desses, as estantes cheias de livros, os halteres descansando num cantinho da sacada. E tudo cheirava a ele. A camiseta, a manta que a cobria e até mesmo o próprio sofá.

Ela conseguia imaginar sem esforço algum o momento em que lhe informariam que havia o encontrado morto, talvez congelado, talvez por algum ferimento. Quem poderia dizer o que havia acontecido com ele nos últimos três dias, senão ele mesmo? Se ele estivesse vivo e bem, já teria encontrado o caminho de volta, não teria?

Então veio a sensação de impotência. Ela se sentia inútil, imprestável, total e absolutamente impotente. Como poderia estar ali deitada enquanto o amor de sua vida estava desaparecido? Como poderia viver consigo mesma sabendo que deixou que ele fosse sem se despedir? Como poderia viver sabendo que deixou que ele se fosse sem lhe contar que tinha um filho a caminho? Como poderia sentir qualquer coisa, se seu coração fora arrancado, destruído, destroçado?

Caitriona já não tinha mais a noção de horas, minutos ou segundos. Conseguia contar nos dedos de apenas uma mão quantas palavras pronunciara desde que Maril dera a notícia. Ela estava vivendo no automático, apenas sobrevivendo.

Podia ouvir o barulho de um teclado em algum lugar próximo. Talvez Tony estivesse sentado na mesa da cozinha, imaginou, sem se dar ao trabalho de verificar. Sua mãe afagava carinhosamente seus pés. Ela estivera ali, silenciosa desde o primeiro minuto, a confortando da única forma que poderia: com carinho. Ela tocava Caitriona a maior parte do tempo, onde quer que suas mãos alcançassem: nos cabelos, nos ombros, braços, por vezes até afagava a barriga plana da filha, tentando dar algum conforto, algo a que ela pudesse se agarrar.

Ela não percebeu que Tony estava na sala até que ele se ajoelhasse em frente ao sofá, um sorriso ridículo nos lábios, lhe esticando o telefone. Como ele poderia sorrir num momento desses?, pensou. Como poderia sorrir quando ela queria apenas morrer?

– Caitriona, atenda o telefone – ele falou, colocando o celular em sua mão. Ela apenas soltou o aparelho, fixando o olhar na parede branca atrás de Tony – É ele, Cat.

– Ele quem? – assustou-se ao ouvir sua própria voz, rouca pela falta de uso.

– Sam. Apenas pegue o telefone, sim –Tony voltou a colocar o celular na mão dela, um sorriso de incentivo.

Ela o encarou por uma fração de segundos, como se não soubesse o que fazer com o dispositivo. Então levou-o a orelha.

– Sam? – ela disse, incerta, a voz falhando.

– Cat? Caitriona? –ouviu do outro lado da linha. Estava claro que era ele. Era Sam.

Ela nem conseguiu responder, apenas sentiu as lágrimas aflorarem em seus olhos, o coração martelando rapidamente. Era como se tivesse um elefante sentado sobre seu peito até aquele momento, e agora ele tinha ido embora.

– Caitriona? – ele repetiu, incerto.

– E-estou aqui, Sam – ela conseguiu dizer por fim, entre soluços – Como você...

– Eu estou bem – Sam a interrompeu – Dez dedos nas mãos, dez dedos nos pés. Um nariz meio congelado. De resto, estou inteiro.

Ela queria vê-lo, tocá-lo. Tinha que admitir que ouvir sua voz era um tremendo alívio, mas queria tocá-lo com suas próprias mãos, ter certeza de que ele estava bem mesmo.

– Oh Sam – ela choramingou, sem conseguir encontrar palavras para expressar seu alívio – Eu te amo tanto Sam, me perdoe, por favor, me perdoe.

– Ouça, Caitriona – ele falou, e ela podia ouvir um barulho alto e constante ao fundo que não soube identificar de onde vinha – Eu estou voltando para casa o mais rápido que eu conseguir, está bem? Daí você vai poder falar isso enquanto olha nos meus olhos, enquanto sente meu calor, enquanto sente o quanto eu a amo também.

– E-eu...Eu estou te esperando, Sam.

– Agora eu preciso desligar. Logo estarei em casa. Logo vamos estar juntos.

Então ele desligou o telefone. Ela ficou parada, ouvindo o barulho da linha, segurando o telefone contra o ouvido. Chorava de alívio, a mão direita sobre o ventre, a outra soltou o celular e segurou a correntinha em seu pescoço, murmurando preces a todos os santos que conseguia se lembrar. Sam estava vivo. Estava bem. Estava voltando para casa. Para ela. Amém.

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