Saí do meu transe rapidamente quando o professor fazia a chamada oral e olhei para os lados para ver se ninguém estava me encarando. Ninguém parecia ter percebido. Realinhei o corpo sobre a cadeira e esperei que o sinal do fim da aula tocasse.

Assim que saí de sala uma vontade imensa de ver Luca tomou conta de mim. Eu precisava disso. Andei rapidamente pelos corredores em busca da sala dos meus amigos e assim que a encontrei eles ainda estavam do lado de dentro. Me encostei em uma parede do lado oposto da porta e cruzei os braços impaciente sobre o peito. Minha mochila preta sendo apertada contra a parede fria.

Depois de alguns segundos vejo os óculos de Felipe no fundo da sala e ele caminha acompanhado de algumas pessoas para fora. O garoto de olhos azuis passa a mão pelas ondas de seu cabelo logo atrás e meu coração se derrete todo.

– Olha só quem já está aqui. – Felipe comenta quando eles se aproximam de mim. Meus olhos ainda estão encima de Luca e eu esboço uma pequena risada.

– Saí mais cedo. – Comento.

Felipe assente com a cabeça e começa a falar sobre alguma coisa que eu não faço questão de prestar atenção. Eu apenas quero o outro garoto.

– Ah, então. – Falo cortando a conversa de Felipe. – Eu preciso conversar uma coisa com o Luca imediatamente.

Luca me olha confuso e suas sobrancelhas se levantam. Felipe também me encara surpreso, mas logo vejo um sorriso bobo em seu rosto.

– Tudo bem, vou indo na frente então. – Ele fala tranquilo.

Sorrio forçado e faço um movimento de concordância com a cabeça. Olho para o rosto de Luca que ainda duvidoso é atraente e o convido a andar em direção oposta. Sem querer me questionar ele começa a me seguir pelo corredor. Nos movemos um pouco e eu encontro o que estava procurando.

– Banheiro masculino? – Luca pergunta ainda mais confuso.

Dou de ombros sem me importar e empurro ele para dentro. Assim que entramos corro os olhos pelo lugar e verifico se está vazio.

– O que estamos fazendo aqui? – Ele pergunta agora com um sorriso no rosto.

Aponto uma cabine vazia com o dedo. É a terceira na ordem em que entramos.

– É para mim entrar aí? – Assinto com a cabeça e ele ainda parece confuso. – Mas eu não estou com vonta...

– Só entra logo caramba! – Mando.

Assim que ele desiste de questionar o vejo se mover para dentro. Com um movimento rápido eu vou ao seu encontro e o empurro para ganhar espaço no local. Fecho a porta metálica rapidamente e passo a tranca. Vejo o rosto de Luca me encarando de maneira um pouco tímida. Eu sentia tanta vontade de agarrá-lo que eu precisava fazer isso agora.

Com a mão direita eu o empurro contra a parede gelada e vou para cima dele sem nem pensar duas vezes. Coloco minhas mãos em sua cintura e forço meus lábios contra os dele. O beijo começa meio estranho, mas logo pegamos o ritmo. Luca ainda parecia um pouco nervoso e isso só me fazia desejá-lo ainda mais. Subo uma das mãos até seu rosto e sinto o toque de sua barba. Segundos depois ele parece relaxar um pouco o corpo e finalmente enlaça a minha cintura com seus braços fortes.

– O que deu em você? – Ele comenta ainda me beijando.

Sinto o gosto de sua língua uma última vez e afasto meu rosto do dele.

– Sei lá.

Me aproximo novamente e o beijo se reinicia. Um gosto de menta toma conta da minha boca e eu não posso me controlar. Coloco a mão vaga sobre a barriga de Luca e a ergo por dentro da sua camiseta azul marinho. Encontro seu abdômen liso e até posso sentir alguns pelos. Ele parece gostar disso e puxa ainda mais meu corpo contra o dele.

– Não é meio perigoso ficar aqui? Alguém pode aparecer. – Ele se afasta rapidamente ao falar.

Nego com a cabeça e encontro minha boca com a sua novamente.

No mesmo instante ouço um barulho de passos dentro do banheiro. Me afasto de Luca em um só movimento e encaro seus olhos assustados. Coloco um dedo sobre a boca para que ele fique em silêncio e não nos movemos mais. Os passos continuam andando pelo corredor e logo passam pela nossa cabine. "Não entre aqui! Não entre aqui! Não entre aqui!" Repito o pensamento na minha cabeça. Respiro aliviado quando escuto a porta da cabine vizinha se abrindo e alguém a fechando logo depois. Ainda em silêncio escutamos o barulho de alguém urinando e sem querer uma pequena risada escapa da minha boca. Luca a cobre com uma de suas mãos e me olha indignado. O nervosismo volta a cair sobre mim e esperamos em silêncio. A pessoa do outro lado parece não ter notado. Escuto passos saindo da cabine e depois o barulho da torneira sendo aberta. Logo depois ela se fecha e os passos caminham para fora do local.

Solto um suspiro de alívio e Luca faz o mesmo. Depois ele me olha ainda indignado e eu apenas dou de ombros. Sinto vontade de rir novamente e é isso que eu faço. Começo uma gargalhada incontrolável e o garoto junto a mim ainda parece assustado. Vejo seu rosto se contrair e ele não consegue resistir. Uma risada escapa de sua boca e o momento de apreensão se torna algo realmente engraçado.

(...)

Luca e eu saímos ainda animados da faculdade. Tento imitar seu rosto apavorado no banheiro e ele dá risada da péssima atuação. Atravessamos o arco da saída e assim que nos aproximamos do gramado verde tudo parece per der a graça.

Brendon está recostado em seu automóvel preto bem na frente da faculdade. Seus olhos chocantes agora estão presos em nós dois. Vejo um sorriso malicioso surgir quando ele me encontra e já sinto uma pontada no estômago. Luca acena brevemente para ele e nos aproximamos do estraga prazeres.

– Você por aqui? – Luca debocha assim que chegamos perto o suficiente.

Brendon tem uma expressão convencida que sempre me estressa.

– É, resolvi te dar uma carona. – Ele fala sem dar importância. – Saí mais cedo do escritório hoje.

Luca assente com a cabeça agradecido e eu ainda o encaro sem expressão.

– Não te quiseram por lá hoje? – Digo em deboche.

Brendon força uma risada e depois me encara intimidador.

– Na verdade sou um profissional muito competente.

Imito sua risada forçada.

– Vamos lá para casa? – Luca me pergunta tranquilo querendo quebrar o clima.

– Ah não, vou aproveitar para fazer umas coisas agora. – Minto.

Brendon se remexe contra o automóvel com seu corpo grande.

– Que peninha. – Ele fala de maneira doce para me provocar.

Fito seus olhos ironicamente e resolvo não fazer tempestade em copo d'água.

Me despeço rapidamente de Luca e logo o vejo abrir a porta do carro. Vejo seu sorriso sacana uma última vez e logo ele está dentro do automóvel. Brendon se movimenta circulando até a porta do motorista mas para antes de abri-la. Ele me olha malicioso e eu me sinto diretamente atingido.

– Até mais. – Digo para quebrar o clima estranho.

Brendon abre a porta do carro ainda convencido.

– Vou sentir saudades. – Ele zomba antes de abaixar o corpo para dentro do carro.

Tenho vontade de retirar minha despedida e jogar um tijolo encima da cabeça dele. Me viro antes do carro dar partida e caminho para o outro lado. Ouço um pequeno barulho do carro se afastando e tenho vontade de matar Brendon por levar Luca para longe de mim.

Mais uma vez.


[Obrigado por ler]

Exclusivo [✓]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora