Pequenos Enganos

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Tum tum, tum tum, tum tum...

Cada vez mais rápidos meus batimentos cardíacos ficavam. A cada passo que ele dava, meu coração se ritmava, sincronia perfeita.

Ele olhou para mim, eu olhei para ele, quando fui acenar com a mão... IGNORADA! COMPLETAMENTE IGNORADA. O único conforto que tive foi ver que todas as outras meninas eram ignoradas também. Mas sinceramente, não sei se isso é realmente um conforto.

Eu escutei algumas meninas do Ensino Fundamental falarem dele e fiquei com muita dó e raiva. Dó, pois descobri que ele não tinha pai, e raiva por saber que essas grosseiras o discriminavam por isso. Onde já se viu ficar anunciando pelos quatro cantos que a pessoa não tem pai, ficar chamando ele assim pela escola, poxa, que invasão de privacidade. Mas isso me fez entender um pouco o porquê dele ser tão frio. Mas até agora estou perplexa pela falta de vergonha em chama-lo de "Irie sem pai".

Chegou a minha vez, eu mal entrei nessa escola e vou para a diretoria, as coisas não mudam mesmo. Deus me ajuda!

— Ohayou, Sr. Araia-San, pod... – Disse o diretor, antes de interrompe-lo.

— ONDE? – Falei alto.

— Onde o que Araia-San? – Arregalando o olho falou o diretor.

— É só Araia mesmo, mas cadê o raio?

— Raio? – O diretor estava começando a ficar vermelho nessa hora.

— Sim, o raio que o senhor mesmo me falou.

— Eu te falei de raio?

— Sim, eu entrei e o senhor disse "o raio". Eu tenho medo, então prefiro ficar de pé.

— Araia-San, a senhorita leu as normas básicas de comportamento da escola para brasileiros?

— Sim, mas estava estranho, não fazia sentido, então eu desisti.

— A senhorita leu de acordo com a sequência japonesa?

— Qual é a sequência japonesa? Não é igual?

Nessa hora ele soltou um suspiro longo, parecia aborrecido, mas eu não entendia porque, então ele começou a me explicar. O tal do raio na verdade é "Ohayou", que significa bom dia em japonês e eu preciso cumprimentar as pessoas assim na escola. Depois ele me explicou que "San" é um dos títulos honoríficos japoneses que devemos usar também, tudo isso contém no manual, que por sinal devemos ler de trás para frente da direita para a esquerda.

Percebi que eu estava mais perdida que bala em tiroteio, e que eu precisava me inteirar mais dos assuntos.

— Então foi isso o que aconteceu, Araia-San? – O diretor perguntou após a minha explicação da situação na sala.

— Sim, eu só quis dizer que ele era bacana, foi a primeira palavra que aprendi.

— Acontece que "baka" significa idiota, estúpido e não bacana.

Nessa hora, a minha cara estava no chão. Eu queria sumir dali. No meu primeiro dia já causei essa impressão, eu preciso tomar cuidado com as coisas que eu falo.

— Bom, já está resolvido. Explique ao Sensei quando chegar na sala. Boa aula Araia-San.

— Arigatou, diretor... – comecei a procurar no regulamento novo que o Sr. Diretor me entregou o título honorífico que eu deveria chama-lo.

— Me chame de Akiharu-Sensei.

— Ah, sim. Arigatou, Ahikaru-Sensei.

— Akiharu.

Brincadeiras do DestinoWhere stories live. Discover now