Primeiro Capítulo

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"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine."

1 CORINTOS 13:1


Era mais uma noite tranquila na pacata cidade de Água Benta, no Rio Grande do Sul. A Rua Santa Isabel, apesar da hora um pouco tardia, ainda contava com alguns transeuntes e moradores que, sentados em suas calçadas, conversavam amigavelmente sobre as notícias que haviam acabado de assistir no jornal noturno. A principal fonte do movimento na rua era, porém, um pequeno restaurante. O local, apesar de estreito, era relativamente comprido, com duas fileiras de mesas e cadeiras que se distribuíam ao longo do recinto. Do lado de fora, ainda na calçada do local, duas grandes mesas redondas estavam ocupadas por um grupo de 9 homens que tomavam cerveja e discutiam acaloradamente sobre o jogo da noite anterior.

No interior do local, contrastando com a agitação do exterior, apenas uma mesa estava ocupada. O homem magro, de estatura mediana e de barba e cabelos escuros aparentava ser um mochileiro de passagem. Vestido de forma simples e sentado de costas para a entrada, seus olhos castanhos pareciam perdidos em pensamentos, alheios a tudo e a todos. O rapaz, aparentando ter menos de 30 anos de idade, revirava em ambas as mãos uma taça de vinho, cuja garrafa estava depositada em cima de sua mesa. Tinha como companhia apenas a sua mochila de viagem, repousada em uma cadeira ao seu lado. Estava tão distraído dentro de si mesmo que sequer notou que alguém se aproximava.

-Irmão Marcos... -cumprimentou o homem alto, moreno e de cabeça raspada, colocando uma das mãos no ombro de seu colega e se posicionando ao seu lado, em pé. -Mas que satisfação lhe encontrar aqui!

-Irmão Tobias. Há quanto tempo. -respondeu Marcos, levantando o olhar e esboçando um leve sorriso.

-Posso me sentar com você?

-Mas é claro.

-Detestaria atrapalhar de alguma forma...

-Não atrapalhará de forma alguma meu Irmão. Fique à vontade. -disse Marcos, indicando com uma das mãos a cadeira a sua frente.

-Pois bem então! – Tobias, abrindo um sorriso ainda maior, acomodou-se na cadeira indicada por seu amigo enquanto sondava o ambiente, demorando o olhar um pouco mais na bolsa de seu amigo e nos homens na calçada, pois um deles, funcionário do local, havia se levantado e se dirigia à mesa, notando a chegada do mais novo cliente.

-O Irmão gostaria de tomar alguma coisa? Me acompanhar no vinho, talvez? -ofereceu Marcos, indicando com a cabeça a garrafa entre os dois.

-Seria ótimo. Vejo que seu bom gosto ainda continua o mesmo.

-Obrigado. Traga mais uma taça, por favor. -essa última frase foi dirigida ao garçom, que havia chegado à mesa e aguardava com olhar impaciente o pedido.

Os dois Irmãos aguardaram, em silêncio, o retorno do garçom com a taça e um pequeno balde de gelo, que foram colocados sobre a mesa apressadamente. O homem então retornou, a passos largos, ao grupo de amigos, deixando Marcos e Tobias a sós mais uma vez.

-Pois bem... -começou Tobias, enquanto enchia a própria taça. -Antes de mais nada, porque não nos atualizarmos um pouco? O que tem feito? Nós já não nos vemos já tem o que, um mês e meio?

-Dois meses e 20 dias na verdade.

-Sério? Já faz tanto tempo assim? Minha nossa...

-Pois é. Soube de seu breve retorno ao Templo há uma semana, mas não cheguei a vê-lo na ocasião. E ainda não sei o que fez você simplesmente deixar a Ordem sem avisar a nenhum de nós. -respondeu Marcos enquanto dava um gole em sua bebida, encarando o amigo.

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⏰ Last updated: Dec 29, 2017 ⏰

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