- Ei! – Disse sorrindo.

David olhou para mim pelo canto do olho e murmurou um “Oi” seco e continuou na brincadeira com Eros.

Torci o nariz e estranhei a frieza naquele “Oi”.

- Vais entrar? – Perguntei, apertando o casaco à volta do pescoço.

- Não, Lexie! Vim só para ficar à porta.

Arregalei os olhos mais pela surpresa no seu tom de voz, do que pelo que ele disse.

Falou qualquer coisa, que eu não percebi, no ouvido do meu cão e Eros desandou para a porta de casa.

David foi até ao carro, tirou dois sacos e parou diante de mim, não me deu nenhum beijo, nenhum mimo, apenas ficou a olhar para mim e num gesto subtil, abanou a cabeça.

- Vamos! Estás com um aspecto de merda, Lexie! – Cuspiu.

Algo nele não estava bem, sentia-o irritado, zangado, mas acima de tudo achava-o triste. Possivelmente algo se passava no emprego. Entramos em casa e ele dirigiu-se imediatamente à cozinha. Segui-o.

Sem emitir um som começou a esvaziar os sacos: Leite, pão, fruta, etc. Há medida que esvaziava os sacos e colocava tudo na bancada, olhava para mim e continuava a abanar a cabeça.

Eu olhava feita parva para ele, sem entender o porquê daquela compra e sem perceber muito bem se devia falar e o que deveria dizer.

Não é que as coisas não me fizessem falta, mas não era costume ele ter este nível de preocupação. Trazer jantar, quando combinávamos algo, isso sim era normal.

E de repente, eis que se fez luz na minha cabeça, ele devia ter vindo para ficar e possivelmente ele queria um pequeno-almoço mais substancial, do que aquele que ele por norma tinha, quando ficava lá em casa.

Comecei a fazer uma associação de ideias: pequeno-almoço, dormir comigo…sexo.

Senti-me infeliz e pouco confortável com aquela ideia. Sexo era a última coisa que me apetecia, ainda me sentia fraca e tudo o que eu queria era um bom banho quente, um pijama ainda mais quente, uma chávena de chá a escaldar e cama.

A única companhia que eu queria naquela noite na minha cama, era o meu Eros. Senti-lo a dormir aos pés da minha cama, matar saudades da sua total incapacidade de estar sossegado mais de cinco minutos e ter uma daquelas conversas de almofada, em que eu lhe contava tudo o que me ia na alma e ele fingia que estava interessado.

Alguém me disse um dia, que na vida podemos dizer tudo, desde que seja no tom correcto. Eu estava a pensar qual era o tom adequado, para dizer a alguém, neste caso ao David, que não queria sexo, quando ele estava claramente chateado com algo e já vinha tão preparado para ficar.

- Então Lexie, tens alguma coisa para me contar? – Perguntou ele, enquanto me olhava nos olhos e inclinava a cabeça.

Fez-me lembrar a minha mãe. Quase conseguia vê-la sentada, naquele sofá verde tropa com almofadas às flores, e eu ou um dos meus irmãos em pé, á sua frente e ela: “tens alguma coisa para me contar?”- Invariavelmente tínhamos.

Recordei essa pergunta ser feita, quando eu e o meu irmão Marco partimos aquela jarra – horrível, na minha modesta opinião. – Que não sei muito bem, quem lhe tinha dado como presente de casamento e que eu e Marcus, numa vã tentativa de salvar a dita, usámos tanta cola, que a desgraçada ficou colada ao móvel e que a única solução para os dois, foi irem parar ao lixo. Ou quando a minha irmã Alice teve a brilhante ideia de fazer “bolinhos” de terra molhada e me desafiou a fazer pontaria à roupa branca e imaculada da vizinha, numas férias de Verão.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoWhere stories live. Discover now