Capitulo 11

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A vida caminhava lentamente, naquele dia após o Miguel ir embora, dediquei-me com alma ao meu Eros. Sabia que tinha de ligar á Susi, aos meus pais e até ao David. Durante sete dias tinha “morrido” para o mundo, chamadas dos meus pais amontoavam-se na minha caixa de voz, já para não falar das mensagens de texto do David.

A noite mal dormida, vestígios da gripe ainda faziam os seus estragos, sentia-me mais cansada que o habitual e o meu apetite não era dos melhores. Eros com o seu sexto sentido, pressentia e a sua energia habitual estava mal disfarçada, por um levantar da cabeça constante enquanto estava ao meu colo e um bater da cauda no sofá.

- Queres ir á rua?

Palavras mágicas! Levantou-se de rompante e chegou á porta em questão de milésimos de segundos.

Vesti o casaco, calcei umas botas e lá fui eu.

Estávamos no final de Outubro, o tempo frio já se fazia sentir, talvez um pouco mais de frio que eu esperava , ou talvez fosse o meu corpo que ainda não estava preparado. Eros não correu, não fez das suas, manteve-se ao meu lado mesmo quando viu um bando aves que passeava pelo chão perto de nós.

Fomos até aquele cantinho no meio da vegetação que dava para o rio, sentei-me no tronco do costume, sem me preocupar com as manchas de musgo que iria manchar as minhas leggings.

Este era o meu sítio, se fosse criança, diria que este era o meu trono, no meu reino. O rio já tinha aumentado o seu caudal, corria com mais força, com mais pressa de chegar. Daqui a não muito tempo, poderia-se ver certas partes congeladas e o meu passeio até aqui seria feito com alguma dificuldade.

Sentei-me e esqueci o frio, esqueci que tinha de ligar para os meus pais, que existia um David, uma Susi, mas não consegui esquecer o Gio.

Tentei entender se o porquê da sua daquela coisa contra mim, o porquê de ter passado uma noite comigo, quando poderia ter pedido para o Miguel o fazer com muito menos transtorno para ele.

Por momentos tentei colocar-me na pele dele, tentei imaginar se alguém me dissesse que eu tinha uma doença que me degenerasse o sistema nervoso, que me fosse levando todas as minhas capacidades aos poucos. Tentei imaginar-me dependente de outras pessoas. E as outras pessoas seriam os meus pais e os meus irmãos.

Não sabia muito de esclerose múltipla, a não ser aquilo que já tinha ouvido falar em certos programas de televisão, lido em revistas. Nunca tinha tido contacto com ninguém que sofresse da doença. Fiz uma nota mental, para fazer uma pesquisa na net.

Dei conta que o tempo tinha passado, quando Eros veio ter comigo e começou a dar-me com a pata, sinal claro que estava na hora de voltarmos.

Voltamos tão calmamente como tínhamos ido, com um Eros sossegado ao meu lado, até chegarmos ao final da vegetação, nessa altura ele enlouqueceu, começou a ladrar e a fugir de mim.

- Eros! – Gritei. – Pára!

Mas Eros com a sua habilidade de fingir que é surdo, corria que nem um foguete, foi quando eu cheguei ao inicio do caminho que dava acesso á minha casa, que eu vi qual era o motivo. O carro do David estava parado lá.

David estava encostado ao carro, com as mãos nos bolsos, gola do casaco levantada, gorro, aquele jeito de militar descontraído, se é que isso existe e Eros corria desalmadamente para ele.

Constatei com alguma surpresa que fiquei feliz ao vê-lo. Sorri ao vê-lo tirar as mãos dos bolsos, agachar-se e abraçar o meu cão. Dizia-lhe algo e o meu cão respondia com piruetas, saltos e lambidelas na cara dele. Não parecia ter a mínima intenção de parar.

Quando te vi, Amor. - Capítulos apenas para degustaçãoWhere stories live. Discover now