O bombeiro Jurandir Maurício estava prestes a realizar o sonho de fazer uma trilha no Grand Canyon e teria conseguido se o avião que fazia a viagem do Rio para o Arizona não tivesse sofrido sérios problemas por causa do tempo e caído no meio da flor...
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Voar é a maneira mais segura de viajar, é o meio de transporte que tem maior porcentagem de sucesso e menor em mortes. Quase nunca se ouve falar de que um avião caiu e isso aumenta muito a confiança que as pessoas têm em voar de avião.
Particularmente sempre gostei de voar, considero um transporte rápido e eficiente; ajuda a encurtar o tempo para se chegar a lugares distantes e dá para conhecer pessoas diversas.
A primeira vez que voei foi quando era pequeno com meus pais em férias. Achava engraçado quando ouvia qualquer som na aeronave, desde o barulho das turbinas até as campainhas. Eu me senti como se estivesse em um brinquedo de parque de diversões e ansiava por mais voos.
Mas desta vez as coisas não saíram como de costume e eu estava vivendo um pesadelo, talvez o maior de todos em minha vida. Cada campainha, cada alarme era a confirmação de que as coisas não estavam nada bem.
Nunca pensei que faria algo assim em minha vida. Nunca pensei "e se fosse me despedir do mundo", o que diria?
Sou uma pessoa positiva e que sempre segue em frente, nunca paro para resmungar ou desisto quando as coisas estão difíceis. Farei isso por amor à minha família...
Liguei a filmadora do meu celular e gravei um depoimento para em caso de falecimento ter algo de bonito para deixar para quem é importante para mim.
— O meu nome é Jurandir Maurício, solteiro, carioca da gema, brasileiro; tenho pouca coisa de que me arrependo. Vivi a vida plenamente, aproveitando de tudo que me era oferecido e nunca recusando novidades. Sou bombeiro militar da cidade do Rio de Janeiro.
Eu não sou do tipo que sente medo facilmente por qualquer coisa, pelo contrário, amo adrenalina e fazer coisas radicais, como: entrar por janelas ou telhados de prédios em chamas e salvar pessoas à beira da morte, atravessando cortinas de chamas. Só que dessa vez estou com medo, sinto que posso morrer e não sei como lidar com isso.
Não tenho muito tempo sobrando até que o avião caia, então serei o mais breve possível...
Mãe eu te amo e sentirei muito por fazê-la sofrer pela minha falta. Minha querida irmã, fique ao lado da nossa mãe e a console todos os dias porque ela vai precisar muito disso!
Meu pai, obrigado pela boa educação e por ter me ajudado a ser o homem que sou. Devo tudo ao senhor!
Meus amigos, bravos combatentes das chamas, não desanimem por minha falta. Continuarei em lembrança com cada um de vocês. Vivam sem nenhum arrependimento, façam aquilo que gostariam de fazer, divirtam-se!
Obrigado maravilhoso Deus pela família amorosa e prestativa que me deu e por nunca ter deixado nos faltar coisa alguma e por ter me protegido sempre!
Cada grito desesperado, cada lágrima, cada gemido de alguém à minha volta só aumentam mais a tensão em minha mente. Meu coração está prestes a sair pela boca, não sei dizer se figurativamente ou fisicamente.
Talvez seja melhor para mim, ter uma morte rápida e indolor, do que sobreviver e ser condenado a uma vida moribunda em uma cadeira de rodas, ou a uma cama para sempre. Será que alguém pode me condenar por pensar assim? Sou estranho por causa disso?
Olhei para minha esquerda e vi o casal ao meu lado de mãos dadas e orando em espanhol. Aquela cena foi muito marcante e bonita, provavelmente a única beleza em meio aquele caos ao meu redor.
Eu já não queria mais que tudo terminasse logo, porque na pior das hipóteses, se acabasse mal, minha vida também acabaria. Eu quero viver, não chegou minha hora ainda!
