Capítulo 9 - Um aperto de mãos

Start from the beginning
                                    

– Bom para os dois lados – Cait concluiu, mas uma coisa a atormentava e ela ensaiou a pergunta, abrindo a boca e fechando em seguida, ainda decidindo se deveria perguntar ou não quando Sam a interrompeu.

– Nunca dormimos juntos, se é isso que quer saber – ele declarou, puxando-a para mais perto de si. Ela descansou a cabeça em seu peito enquanto acariciava com um dos dedos os gomos de seu abdômen.

– Obrigada – ela falou bem baixinho – por me contar.

– Estou sendo sincero e espero o mesmo de você – Sam a encarou seriamente por um segundo, então abriu um sorriso largo e mordiscou sua orelha, beijando em seguida sua testa, nariz, bochechas e olhos, até finalmente chegar em sua boca, que o recebeu prontamente.

*

Cait já estava o esperando, dentro de um carro com vidros escuros quando desembarcou. Beijaram-se demoradamente e então ela deu a partida, dirigindo o familiar percurso até a casa dos pais e preparando-o para os dias que se seguiriam.

Sam conhecia a rua da casa dos pais de Cait, mas dessa vez ela estava cheia de carros. Ela tinha o avisado que a casa estaria cheia, com seus tios e primos para o aniversário de seu pai. Estacionou habilmente na entrada, desligou o carro e virou-se pra ele. Afagou sua mão com carinho, encarando-o com aqueles olhos azuis como o céu de um dia de verão.

– Vai ficar tudo bem. Eles me amam, e me respeitam e sabem que eu sou dona de mim... e minha mamãe gosta muito de você – ela disse, preparando-se para a abrir sua porta quando ele puxou-a para si. Enterrou seu rosto nos cabelos dela, num abraço quente e demorado, depois depositou um selinho em seus lábios, fez o sinal da cruz e abriu a porta, saindo de uma vez e pensando "seja o que Deus quiser".

Logo na porta, eles foram encurralados pelas tias de Cait, todas altas na bebida, uma delas apertando seus braços e comentando como ele era musculoso. Talvez o problema com álcool fosse de família, pensou. Antes mesmo de conseguir botar os pés na sala de estar, já tinha comido dois pedaços de torta, cinco salgadinhos e tomado dois copos de suco e um de alguma coisa alcoólica que não conseguiu identificar. A cada dois passos que dava, uma das tias aparecia com alguma coisa de comer ou beber e ele educadamente aceitava. Eventualmente ele percebeu o olhar do sargento, apoiado no batente da porta da sala, observando-o.

Ele foi gradualmente afastando-se das tias e se aproximando do pai de Cait , torcendo para que ela magicamente se materializasse ao seu lado antes que ele terminasse de atravessar o hall.

Reunindo toda sua coragem, alcançou o Sr. Balfe em duas passadas longas, cumprimentando-o com a cabeça enquanto estendia o braço direito para um aperto de mãos de quebrar os dedos, e o parabenizou pelo aniversário, um sorriso amarelo no rosto. Caitriona tinha desaparecido com as tias.

Seguiu-se de um momento de estranheza, em que os dois ficaram em silêncio, Sam imaginando o que poderia puxar de assunto com o homem, até que uma das tias o puxou de volta para a turba, onde encontrou Caitriona sentada com seus irmãos mais velhos, numa espécie de competição alcoólica, bebendo vários shots, um atrás do outro.

*

A lua já estava alta quando a casa finalmente se esvaziou, deixando Sam e Cait sozinhos com seus pais. Eles sentaram-se na sala de estar, Caitriona levemente embriagada, agarrada ao braço de Sam enquanto conversavam amenidades. Num momento, a Sra. Balfe finalmente parou de falar e Cait aproveitou a deixa, contando de uma vez que estavam namorando.

– Ora, finalmente! – sua mãe exclamou, batendo palminhas enquanto se levantava para abraçar os dois – Achei que esse dia nunca fosse chegar.

– Mãe! – Caitriona objetou, em tom de censura.

– Vocês sempre foram muito óbvios, meus amores – ela falou simplesmente, como se isso explicasse tudo.

Sam estava com os olhos grudados no sargento, esperando por alguma reação, mas o homem continuava olhando para a tv, aparentemente ignorando a notícia.

*

Supostamente deveriam dormir em quartos separados, uma vez que a Sra. Balfe havia arrumado um quarto de hóspedes para Sam e Cait ficaria em seu antigo quarto, mas dada a notícia do namoro, não viam porque dormirem separados, e Cait tratou de puxar a mala de Sam para seu quarto declarando que ele dormiria com ela.

O quarto tinha um quê infantil, as paredes cor de rosa, alguns pôsteres de banda colados em uma das paredes, e um mural com fotos de Cait mais nova e algumas amigas. A cama de dossel estava coberta por um edredom na mesma cor das paredes, e cheia de almofadas fofas e ursos de pelúcia. Ele deu uma olhada em tudo enquanto ela tomava banho e se arrumava pra dormir, e então começou a retirar os ursos de cima da cama e acomodá-los numa poltrona.

Quando ela saiu do banho, ele estava sentado na ponta da cama, vestindo suas roupas de dormir. Caitriona ainda estava meio trôpega quando ele a puxou para si, deitando na cama no processo. Ela esfregou a cabeça em seu peito, achando o encaixe perfeito com um sorrisinho e caiu num sono pesado rapidamente. Sam não conseguiu dormir.

Algumas horas haviam se passado quando ele finalmente decidiu que um drink poderia ajudá-lo a pegar no sono. Levantou-se tomando o cuidado de não remexer muito a cama ou fazer barulho e saiu do quarto, descendo as escadas praticamente nas pontas dos pés, procurando o bar do sargento. Ele tinha se acostumado a se referir mentalmente ao Sr. Balfe como sargento, uma vez que ele realmente era um sargento reformado.

Serviu-se de uma dose de uísque e foi até a sala, sentando-se no sofá enquanto aproveitava a queimação da bebida em sua garganta, com os olhos fechados. Ouviu um pigarro alto e abriu os olhos imediatamente, deparando-se com o sargento sentado no escuro em sua poltrona grande e confortável, no canto da sala. Não o tinha notado antes, uma vez que estava bem escuro e ele realmente não esperava encontrar ninguém vagando pela casa aquelas horas.

– Ah, Sr. Balfe perdão – Sam apressou-se em dizer – eu não estava conseguindo dormir e achei que uma bebida poderia ajudar.

– Sirva-se como achar melhor – respondeu, secamente.

Sam continuou bebericando de seu copo, num silêncio constrangedor.

– Caitriona é uma mulher muito doce, mas acha que pode levar o mundo nas costas – o sargento começou, e Sam baixou o copo imediatamente, prestando atenção – e ela já sofreu muito na vida.

– Eu sei – Sam falou baixinho.

– Não, não sabe, rapaz. Preste atenção, está bem? – ele mesmo tinha um copo de bebida nas mãos, e sua voz ganhou um tom de ameaça – Se foi a você que ela escolheu, quem sou eu para contestar, certo? Mas experimente machucar minha Cait, machucar de qualquer forma, fazê-la infeliz por um minuto sequer. Experimente.

– Não senhor, só quero amar e cuidar dela, senhor – Sam gaguejou.

– Mas anda brincando com ela por anos, Heughan – constatou.

– Ah, não senhor, eu não sabia dos sentimentos dela por mim...senhor – apressou-se em acrescentar, engolindo em seco – E ela tampouco sabia dos meus.

– De qualquer forma, você não gostaria de me tirar do sério – ele prosseguiu, levantando-se e se aproximando de Sam – Cuide dela.

– Com a minha vida, senhor – ele respondeu, mas o sargento já tinha saído da sala, deixando-o sozinho com sua bebida e seus pensamentos.

No dia seguinte, enquanto se despediam, o aperto de mãos foi muito menos intenso que o último. Sam encarou o sogro e encontrou os olhos azuis colados nos seus, como se dissessem "eu sei onde te encontrar, se a machucar".

Kiss meWhere stories live. Discover now