Capítulo VI - Desabafos

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— Tsc — bateu a língua nos dentes, insatisfeito — não podemos ficar nessa situação, mãe.

— Eu sei meu filho, eu sei — levantou-se, andando de um lado para o outro, com a mão na testa, pensativa — o jeito vai ser... — refletiu por poucos segundos, e quando pousou os olhos sobre o televisor da sala obteve sua resposta — vamos ter que vender algumas coisas — estava incerta sobre aquilo, mas apenas queria dar uma resposta para o filho — a começar pela tv.

— Mas mãe... a senhora não pode fazer isso — levantou, indignado — você ama assistir seus programas e, e — gaguejou, olhando em volta, pensando no que dizer, até que fixou o olhar no televisor — também é a única tv que temos, deve haver outro jeito.


Após longos minutos de barganha, ambos deram-se por vencidos. Talvez Diana estivesse mesmo sendo impaciente, apesar dos pesares, deveria haver uma maneira de surgir alguma renda. Ela precisava pensar em algo.

Durante a tarde, presa em seu quarto, deitada à cama, amortizava todo seu descontentamento na força do abraço de seu travesseiro. Ouviu a porta ser aberta mas não se moveu. O peso na cama e o beijo no rosto evidenciaram que era Jorge, seu marido, que havia chegado em casa.


— Por que você tá com essa carinha, querida? — virando a esposa, deixando-a de frente pra si, Jorge analisou.

— Então... — suspirou profundamente — cortaram nossa luz — despejou em seu marido, despreparado para receber a notícia.


Seu olhar de confusão expressou por si só o baque, a situação ia de mal a pior e a cada tentativa, uma nova falha. A vida estava árdua para a família Devon.

Vendo que seu marido não conseguira formular nada em sua mente para a réplica, Diana, depois de uma tarde toda em reflexão e lágrimas, decidiu expor o que sua mente dizia para ela fazer.

Mesmo após toda a humilhação que a família Hunter a fez passar, e as lágrimas derramadas na época em que as oportunidades começaram a se fechar para a família, ela precisava tentar recuperar tal emprego. Seu nome estava sujo na praça. Mas a família de seu antigo trabalho devia isso a ela, pelo grande mal entendido, pelo processo judicial e depois, pela inocência de Diana.


— Eu já pensei no que fazer Jorge — disse, por fim.


...


Na frente da luxuosa residência, Diana se fez presente, depois de falar com o porteiro e ter acesso ao hall de entrada, tocou duas vezes a campainha, algo que comumente fazia quando trabalhava lá. Enquanto aguardava, sua mente não lhe dava trégua, ainda não sentia-se confortável com o que iria fazer, mas era necessário. Lá estava ela novamente, onde costumava ter a renda para o seu sustento.

Passando por cima de todo o seu orgulho, depois de ter sido acusada de ladra, de processarem ela, de todas as lágrimas derramadas na época; estava lá, novamente. Ainda que provada, posteriormente, sua inocência, não sentia-se acomodada para continuar ali. Mas os tempos passaram, as carências aumentaram e houve necessidade de pedir para voltar. Como ninguém estava contratando-na por saberem do que foi acusada, o que restava era: mudar de área de atuação, o que era bem difícil devido a pouca instrução da mulher; ou voltar para onde trabalhava, a família havia se desculpado com ela mas Diana, na época, quis sair. Não conseguia continuar ali, sentia-se violada. Mas precisou voltar.

O garoto que já conhecia foi lhe atender, com a face inchada e os olhos espremidos.


— Barbie! Já disse pra você esper... — calou-se ao ver a mulher em sua frente, jurava que era seu amigo, afinal, haviam combinado de sair — senhora Diana? O que faz aqui? — ergueu uma sobrancelha, demonstrando estranheza.


Delitos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora