Capítulo 4 - Festa do Pijama

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— E ele nunca tocou no assunto — finalizou — Depois de um tempo viramos amigos e -

—Aham, amigos — Hannah sorriu, sugando o resto de sua bebida num gole só e repondo o uísque nos copos em seguida.

— O que quer dizer com isso? — Caitriona inquiriu, pensando que talvez a bebida estivesse deixando seu raciocínio lento.

— Cait, minha linda, só não vê quem não tem olhos! — Hannah sorriu, segurando as mãos da amiga. Estavam sentadas confortavelmente no chão da sala, sobre um tapete felpudo, a lareira queimando lentamente e mantendo o cômodo bem aquecido —O cara é caidinho por você!

— Claro que não, Hannah. Ele é só um bom amigo. — falou, parando por um segundo antes de acrescentar —Um amigo muito muito fiel e carinhoso.

    Enquanto Hannah preenchia novamente os copos, Cait pensava se deveria contar á ela. Elas se conheceram em Paris e Piérre era um assunto delicado para as duas. Decidiu por fim, que deveria contar.

— Eu encontrei Piérre há uns quinze dias — falou finalmente, observando a amiga paralisar — Ele estava passando uns dias aqui na cidade, e eu sabia que ele estava aqui e meio que nos encontramos no lugar mais improvável.

    Então narrou com detalhes os momentos que antecederam a chegada de Sam ao corredor de frios e sua fúria desesperada enquanto socava Piérre.

— Acho que ele quebrou o nariz dele — disse, rindo com a ideia de inflingir dor ao maldito francês — Mas Sam ganhou um belo de um olho roxo e teve que mentir sobre como conseguiu ele. Quer dizer, estamos em meio ás gravações e ele teve que arranjar uma desculpa qualquer por aparecer assim.

    Hannah apenas ouvia, beberricando de seu copo de uísque enquanto Cait contava. Elas tinham fugido juntas de Paris e de Piérre.

— Ele me trouxe pra casa e adormecemos juntos no sofá, — continuou contando — e não tentou me tocar de nenhuma forma, apenas cuidou de mim, sabe?

— Só porque ele não tentou nada contigo num momento em que você estava com a guarda baixa acha que ele não sente nada por você? — Hannah finalmente falou, encarando-a.

— É... acho q-

— É aí que você se engana, minha amiga. Se isso não foi uma prova de amor incondicional, eu não sei o que é. Como eu disse, só não vê quem não quer.

— Hannah, eu não quero criar expectativas, quer dizer, um relacionamento agora só poderia arruinar nossa dinâmica na série, além de nossa amizade... — começou, mas teve que se interromper — E além disso, tenho certeza que ele não quer nada comigo. Olhe, já são quatro anos convivendo juntos pelo menos dez meses por ano, e ele nunca disse uma palavra, nunca fez nenhum avanço...

— Tem certeza quanto a isso? — questionou.

— Bem, uma vez... — parou um instante para pensar —Foi mais do que uma vez, na verdade, mas não acho que possa considerar isso como um sinal ou algo do tipo.

— Como foi?

— Você sabe que passamos horas e mais horas, ás vezes dias, gravando aquelas cenas de sexo, seminus e- não, não pode ser.

— Continue Cait — incentivou.

— Então, foi mais de uma vez... enquanto nos beijávamos - quer dizer, Claire e Jamie, sabe? O diretor gritou corta e continuamos, e não era um beijo técnico. — ela ruborizou novamente— Mas acho que foi só pelo ímpeto de fazer uma boa cena, sabe? Além do mais, nunca é técnico com ele.

— E você acha isso normal?

— Bem, com o Tobias era técnico, com o Sam não, e eu nunca me incomodei, sempre achei que traria mais verdade á historia dos nossos personagens...

— Você está claramente mentindo para si mesma — Hannah observou, servindo a última rodada de uísque. A garrafa tinha acabado.

    Os últimos quatro anos se passavam como um filme em sua cabeça, revendo cada momento que teve junto a Sam, dentro e fora dos sets, relembrando cada ação deles e encarando-as através de um novo filtro. Será que ele realmente nutria sentimentos por ela? Se sim, desde quando? E porque? Porque nunca falou nada? Porque nunca a beijou?

    Então uma lembrança se destacou das outras, atraindo sua atenção.

    Era o décimo quinto dia de gravações do terceiro bloco da terceira temporada. Estavam gravando a esperada reunião dos personagens após vinte anos separados. Era uma daquelas sequências que demanda muito ensaio, muita nudez e uma consequentemente uma equipe reduzida para as filmagens. Foram 12 horas encenando os mesmos gemidos, os mesmos movimentos, as mesmas falas, então no último take, Sam deveria encenar o orgasmo de Jamie e ele gemeu "Claire", naquela voz rouca, carregada do sotaque das highlands. Só que não. Ele não havia dito Claire, agora ela conseguia se lembrar. Ele havia gemido seu nome. Ele havia dito "Cait", enquanto a beijava. Não era Claire. Era Cait.

*

Enquanto isso, na casa da Sra. Heughan...

— Não mãe, chega! — Sam reclamou, esfregando a barriga — Você está acabando com a minha contagem de macros com todos esses carboidratos.

— Não me venha com essa baboseira de rato de academia, Samwise. — Sua mãe deu um tapinha amoroso em sua cabeça, aproveitando para depositar um beijinho carinhoso em sua testa — Achei que traria a Caitriona de novo.

— Er, ela não tinha folga dessa vez — Sam respondeu, enquanto engolia mais uma garfada do tradicional haggis que sua mãe fazia toda vez que ele a visitava.

— Quando é que vocês vão parar de dar voltas e se assumir, meu filho? — ela foi direto ao ponto, sentando-se em frente a Sam, do outro lado da mesa e observando-o atentamente.

— Mãe, eu já te disse que somos apenas amigos —ele sentiu que ruborizava enquanto respondia, mas não estava mentindo, estava?

— Samwise, Samwise... já se passaram quatro anos, e vocês não estão ficando mais jovens — sua mãe proferiu, sorrindo em seguida — Eu quero que me deem netos, filho.

— A senhora está enganada, mamãe. Nunca tivemos nada, Cait e eu...


— Bom, se você diz... quem sou eu pra questionar, não é mesmo? — ela fingiu desistir, dando de ombros e voltando-se para a pia que continha uma pequena pilha de louça suja — Mas eu te digo uma coisa, filho: talvez quando você se decidir, o momento já tenha passado.

Kiss meWhere stories live. Discover now