Capítulo 3 - Infeliz Coincidência

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Sam nunca fora um homem violento, e por mais que fosse musculoso, não era de sair brigando por aí. Ele demorou um momento pra se recompor e perceber que Caitriona ainda estava no chão, apavorada. Ele passou um braço pelas costas dela, a apoiando e ajudou-a a se levantar, deixando as compras pra trás. Ele a conduziu até seu carro, abriu a porta do carona, ajudou-a a sentar, deu a volta e sentou-se ele mesmo no lado do motorista. Só então constatou que ela soluçava, em prantos, as lágrimas escorrendo por sua face branquinho.

Na falta de outra reação, ele a puxou contra seu peito e a manteve ali até que os soluços cessassem, sem proferir uma única palavra.

— Sam? — ela perguntou, depois de muito tempo, erguendo os olhos para ele — O seu rosto... tá ficando roxo.

— Não importa — ele disse, apertando-a um pouquinho mais contra si.

— Importa sim. Vamos pra casa, por favor — ela o empurrou de leve, com receio de sair do refugio de seus braços.

Ele hesitou por alguns segundos antes de finalmente ligar o carro e dirigir até o prédio em que moravam. Ninguém falou nada o caminho todo, mas suas mãos se alternavam entre segurar as de Caitriona e mudar a marcha do carro. No elevador, ele voltou a abraçá-la, e enquanto atravessavam o corredor até o apartamento de Cait, ele caminhou com o braço em suas costas.

Eddie, a gata de Caitriona os cumprimentou com um miado curto quando entraram. Cait foi direto para a cozinha, enquanto ele se sentava no sofá. Ela voltou em poucos segundos, trazendo uma bolsa de gelo que segurou contra a face de Sam, sentando-se no braço do sofá. Ele arriscou olhá-la nos olhos, consternado. Ela também estava o encarando, e ficaram assim, os olhos grudados um no outro por alguns segundos, talvez minutos.

— Obrigada — ela finalmente falou.

— Cait... — Sam começou a falar, mas concluiu que na verdade não tinha nada para dizer, apenas queria pronunciar seu nome.

— Eu realmente espero que não fique roxo — ela disse, erguendo o saco de gelo alguns centímetros para espiar embaixo. Ele deveria estar sentindo a pele formigar onde fora acertado e o frio cortante do gelo em sua pele, mas não sentia nada disso.

— Não importa — repetiu.

— Oh Sam, importa sim — ela falou, levantando o rosto dele para que a olhasse — Amanhã temos que gravar e a Wendy vai te matar se aparecer com um olho roxo.

— Como você esta? — ele perguntou por fim. Não estava preocupado com um possível olho roxo ou com o fato de os nós de seus dedos estarem finalmente começando a latejar. Ele só conseguia pensar nela —Eu te machuquei?

— O-o que? — indagou, confusa.

— A hora que te empurrei. Me desculpa, de verdade — ele sentiu os olhos ardendo — Eu só conseguia ver aquele cara te tocando, e você parecia estar com muito medo dele. Me desculpa Cait.

— Sam, não ouse se desculpar. Pare com isso. — ela ajoelhou-se em frente a ele, segurando suas mãos, enquanto acariciava as juntas vermelhas de seus dedos — Você cuidou de mim, e se machucou por isso.

— Fui eu que insisti pra irmos lá, é tudo minha culpa — falou, desviando o olhar do dela.

— Pare! — ela pediu — Você não tem culpa de nada, foi apenas uma infeliz coincidência.

— Foi ele, não foi? — ele inquiriu. Estivera perguntando a si mesmo isso durante todo o caminho.

— Foi. — ela disse — Escuta, presta atenção: você não fez nada errado, está bem? Você cuidou de mim, botou ele pra correr e por isso eu te agradeço. E agradeço por deixar que eu manchasse toda sua camisa com minhas lágrimas. E te peço desculpas pela dor que deve estar sentindo agora — ela levou a mão até sua face e acariciou de leve, traçando uma linha no lugar que deveria estar roxo.

— Não está doendo — respondeu, segurando a mão dela.

— Me desculpa, Sam — ela disse novamente, e ele sentiu uma lágrima quente caindo em suas mãos. Era difícil olhar pra ela agora, porque ela parecia tão indefesa e ele queria colocá-la numa bolha e protegê-la do mundo.

Ficaram assim por alguns minutos: Caitriona sentada no tapete, ele no sofá, segurando as mãos um do outro como se fosse a única coisa que os mantinha ligado a realidade.

— Espere um minuto — ela se levantou, indo até a cozinha. Voltou alguns minutos depois com duas xícaras de café forte e alguns biscoitos. Entregou uma xícara para ele e sentou-se de volta no chão, as pernas cruzadas.

— Foi o Piérre quem me convidou pra ir pra Paris — Cait começou a falar, enquanto beberricava o café.

— Não precisa me contar — ele falou, encarando-a.

— Mas eu quero falar. Eu preciso falar.

— Está bem, se faz questão...

— Então, foi ele que me convidou pra ir morar em Paris. Eu morava num apartamento menor que esse aqui, com mais nove meninas, todas modelos, do mundo todo. Era uma loucura, mas também era a chance da minha vida. Até onde eu sei, ele dormia com todas nós, e bem... eu era jovem, inocente e ambiciosa e aceitei.

"Ele era uma espécie de agente, mas dizia que eu era namorada dele... e eu não negava. Até que um dia ele chegou bêbado e me agarrou e bem, ele me forçou a ir pra cama com ele. Depois disso, aconteceram outras três vezes, até que eu tivesse forças suficientes pra sair de lá. Juntei o pouco dinheiro que tinha ganhado e comprei uma passagem só de ida pra Nova Iorque".

—Eu nunca olhei pra trás. E ele também nunca me procurou, em todos esses anos...— ela falou, olhando para o chão.

Houve um momento em que nenhum dos dois ousou sequer respirar, até que Sam puxou-a para o sofá, abraçando-a novamente, enquanto afagava seus cabelos. Não trocaram nenhuma palavra enquanto se aninhavam no sofá, num abraço onde se confundiam braços e pernas.

— Obrigada Sam — Cait murmurou, quase pegando no sono.


Naquele momento, eles eram um só.

Kiss meWo Geschichten leben. Entdecke jetzt