Ele não é verdadeiro

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— Já está convencido de que ninguém mais vem agora?

Os dois garotos olhavam pela janela, à espera de uma movimentação no portão. Era noite de trabalho. A quinta noite que marcavam para fazer o maldito trabalho em grupo da faculdade e, como das outras vezes, ninguém apareceu. Ninguém além de Jeon Jungkook, claro. O que morava logo ali na esquina da casa de Kim Taehyung.

— Aqueles filhos de uma égua! — murmurou. — O que a gente vai fazer, agora? É pra amanhã e eu me recuso a fazer o trabalho dos outros.

— O que a gente sempre faz: dar um jeito amanhã de manhã e fingir que já tava pronto há séculos na hora de entregar.

Taehyung revirou os olhos. Era ridículo. Ridículo porém verídico.

— Eu nem sei por que você insiste nessa merda — Jungkook andou até o sofá, jogando-se no estofado.

— Porque ao menos uma vez na vida eu queria entregar uma trabalho que não estivesse todo cagado.

— Tanto faz. Já que só eu tô aqui, podemos, sei lá, jogar ou jogar.

— Não — Taehyung disse seco, sentando no banco da janela.

— Por que não?

— Porque eu não quero.

— Aish! Deixa de ser chato, hyung.

— Jungkook, por que você ainda está aqui mesmo?

— Nem eu sei. Mas já que estou, devemos fazer alguma coisa. Tipo jogar.

— Vai embora, vai.

A discussão se estendeu por alguns minutos até Taehyung acabar cedendo, já nem lembrando o motivo de sua resistência. Como amigos desde o ensino médio, os dois podiam ser considerados companheiros inseparáveis. Era visível que eram como Batman e Robin. Pink e Cérebro. Timão e Pumba. Sulley e Mike. Embora essas comparações sempre terminassem em briga sobre quem ser quem. E a treta piorava se Jimin e seu título de amigo de infância do Jeon envolviam-se no debate.

Aliás, momentos como aquele, em que Jimin não estava ali com os dois, eram raros. Estavam mais frequentes desde que o Jeon se mudara da rua perto da casa de Jimin para àquela rua. O dito cujo não presente reclamou incessantemente quando isso aconteceu, claro.

— Ei, Tae, e a Hani? — Jungkook cutucou o amigo no meio da partida de vídeo game.

— O que tem ela?

— Qual é, eu vi o jeito que você estava olhando pra ela esses dias.

— Você fumou ou o quê?

— Ah, fala a verdade, Taehyung. Venci. — Com o jogo encerrado, os dois largaram os controles e recostaram no sofá. Jungkook encarou o outro. — Fala, vai chamar ela pra sair?

— Não. Jungkook, sério, acho que tá na sua hora. Se dois caras de moto te perseguirem, não me culpe.

— Por que você sempre muda de assunto? Só estamos nós dois aqui, hyung. Eu não entendo.

— Não é para entender.

— Sério, por que isso? — Jungkook o encarou sem vacilar. Estava mais chato do que nunca.

— Quer saber a verdade? — Taehyung suspirou e o outro balançou a cabeça com uma expressão de óbvio. — Eu sou virgem.

— Quê?! — Jungkook arregalou os olhos.

Taehyung não sabia o que o levara a fazer àquilo. Por muito tempo escondia os detalhes de sua vida pessoal, em especial a amorosa, de tudo e todos. E fazia aquilo com certa perfeição, uma determinação implacável. Talvez fosse o modo diferente como Jungkook falou e o olhou, ou talvez estivesse cansado de carregar aquela farsa. Mas o motivo não o poupou de sentir a vergonha constrangedora como quem cometeu um pecado e fora exposto.

Ele é virgem [Taekook]Where stories live. Discover now