A Grande Maçã

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Copyright © Luisa Ortiz, 2017.

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Criado no Brasil.

1ª Edição Digital.

- 2017 -


Eles caminhavam em um silêncio desnorteado, lado a lado, pelos longos quarteirões do Kings County. Nenhum deles jamais havia andado pela cidade durante à noite e, ainda que estivesse com fome e em êxtase, não podiam deixar de absorver toda a imagem. Tudo era o mesmo e, ainda, tudo era novo.

Poucas pessoas caminhavam pela rua. Era um público muito diferente do diurno: em vez de famílias, trabalhadores e jovens passeando, o que viam agora era alguns guardas, soldados entrando em carretas e transportando coisas, bêbados ocasionais, grupos de jazz guardando seus instrumentos e procurando carona para voltar para casa e alguns homens mal-encarados que os averiguavam de cima a baixo, como se tentasse calcular se valia a pena lhes dar uma surra e deixá-los só de cuecas. Nesses momentos, Nino dava graças a Deus por sua aparência ordinária.

Uma brisa gelada os encontrou, provavelmente vinda das marés do estreito do Narrows, fazendo os braços de Dédalo se arrepiarem. Eles não estavam preparados para enfrentar aquela temperatura. Nino, no entanto, estava desperto demais para sentir qualquer desconforto, por mais frio que estivesse.

– Eu sinto que vou congelar – Dédalo disse, os ombros largos estremecendo. – Falta muito para chegarmos ao tal endereço?

Nino olhou para a página do livro de mapas que, depois de muito folhearem, encontraram: as ruas e bairros de Nova Iorque. Nino achava muito confusa a divisão de ruas, principalmente porque, em grande parte, elas eram divididas por números.

– Dois quarteirões – Respondeu. Ele circulara o local com um lápis. A possibilidade de caminhar por mais todo aquele trajeto fez seus pés doerem.

Eles apressaram o passo, Ded carregando a mala de pano rente ao corpo. Nino tirou a trouxa do ombro e passou a carregá-la apertada junto ao peito. Aquelas coisas eram tudo o que eles tinham agora.

– Você acha que eles vão mandar alguém atrás de nós? – Dédalo perguntou, depois de minutos. Ele tentava soar tranquilo, mas o amigo conseguia enxergar a apreensão por detrás daquela pergunta.

– Talvez – Nino disse. Estava tentando não pensar muito nisso, mas, conhecendo o seu pai, aquela era uma hipótese muito provável. Dédalo crispou as sobrancelhas, parecendo preocupado, provavelmente imaginando o castigo que enfrentariam se fossem capturados. – Ei, nós estamos em Nova Iorque. É como tentar encontrar agulhas em um palheiro! Além do que, nós temos dezoito anos agora. Eles não podem nos dizer o que fazer.

– Teoricamente, temos vinte e um. Graças ao Baldo – Ded tocou o bolso da camisa onde guardara a certidão.

Eles sorriram.

– Qual é o seu novo sobrenome? – Perguntou Nino ao amigo, curioso.

– Hammerson.

Nino riu.

– Baldo tem um senso de humor um pouco estranho.

– Acho que as melhores pessoas têm.

Por fim, com as solas dos pés quentes e todo o resto do corpo coberto por uma camada fria de suor, os dois amigos chegaram a um pequeno prédio duplo no Brooklyn que, na verdade, mais parecia um bar, de onde pessoas de todas as idades entravam e saíam; alguns rindo, outros chorando, outros, ainda, sendo chutados ao asfalto por falta de pagamento. O som de algo sendo quebrado lá dentro fez Nino dar um pulo.

As Crônicas de Cobre: O Menino no Meio do Fogo (Livro 1)Where stories live. Discover now