A Menina e o Livro

982 38 2
                                    

Tudo começou em uma linda manhã de sábado. O final de semana prometia muitas agitações entre os jovens, menos é claro para uma moça.

A cidade era pequena, mesmo assim havia muitas opções de diversão. Mas Elisa era tímida e o seu refugio eram os livros e a sacada do seu quarto. De lá, ela observava atentamente o que acontecia ao redor do seu mundo e, entre leituras, as vezes escrevia poesias.

Enquanto todos os jovens se preparavam para diversão, Elisa foi até a biblioteca para cumprir o seu ritual e escolher entre o imenso acervo, as novas aventuras que poderia viver.

A menina foi na sessão de romances e pegou diversos livros, em seguida, começou a sua busca por algo novo. Após sua apurada seleção, sentou-se em uma mesinha de dois lugares ao lado da grande vidraça, o seu lugar preferido na imensa biblioteca.

Entre as leituras, algumas vezes observava o movimento no pátio da escola ao lado e encantava-se com a brincadeira das crianças que, corriam sem as preocupações da vida. Elisa sabia que para aquelas crianças o mundo era um lugar bem melhor de se viver.

Quando já estava quase terminando de selecionar suas histórias, eis que uma senhora senta-se na cadeira vaga e educadamente diz:

- Olá minha jovem, vi que estás sozinha e por isso decidi vir até aqui. Não gosto de ficar sozinha nessa imensa galeria. Será que podes me fazer companhia?

Elisa sorriu, pois certa de suas escolhas, sabia que tudo já estava resolvido. Entretanto, com a gentileza de sempre, pensou em dizer que já estava saindo. Mas quando começou a falar, foi logo interrompida:

- Desculpe, não me apresentei, sou Anael.

- Muito prazer senhora! Eu sou Elisa.

Após as cordialidades, elas permaneceram em silêncio e Elisa decidiu aguardar alguns minutos antes de ir embora, aproveitando o tempo para reler as sinopses.

Minutos depois, a moça começou a arrumar os livros, separando apenas os três livros que poderia levar. Nesse momento Dona Anael quebrou o silêncio e perguntou o que ela pretendia ler. Elisa mostrou-lhe os livros, sem imaginar que o interesse da senhora iria muito além dos nomes. Surpresa, apenas aguardou, enquanto os livros mudaram de mãos.

Dona Anael olhou o primeiro e disse sim, olhou o segundo e acenou positivamente com a cabeça. Mas quando pegou o terceiro, disse não sem ao menos olhar o nome do livro, colocando-o sobre a pilha dos não selecionados. Elisa sorriu timidamente e perguntou por qual motivo ela havia feito aquilo. Dona Anael também sorriu e em seguida esticou as mãos com outro livro e, após entregá-lo, respondeu:

- Esse é o livro que deves ler! Podes aceitar a sugestão, ele tem muito a lhe ensinar.

Elisa pegou o livro e não o abriu, apenas leu o nome e depois o colocou sobre a mesa, pegando de volta o livro que a senhora havia descartado. Ela levantou-se e agradeceu a indicação, contudo, disse que preferia seguir as suas escolhas. Dona Anael também se levantou e novamente lhe deu o livro, insistindo que o levasse.

Elisa ficou sem reação, pois não era de seu feitio ser deselegante. Ainda assim, mesmo sem a intenção de desagradar aquela senhora sorridente, não queria deixar de levar aquele livro que já estava separado, acreditando ser a melhor escolha. Ela sabia que um quarto livro não poderia fazer parte de sua relação, afinal, a biblioteca só emprestava três por vez. Foi então que a senhora insistiu novamente e enfim, acabou convencendo a menina a aceitar sua indicação.

Elisa dirigiu-se ao balcão e lá foi atendida pela própria Anael. Intrigada, ela guardou o recibo em um dos livros, ainda sem entender como a senhora havia chegado tão rápido ao balcão. Todavia, desistiu de tentar compreender os acontecimentos e despediu-se com o mesmo sorriso tímido de minutos antes, mas antes de ir embora, ouviu Dona Anael dizer que estaria sempre a disposição e que, não tivesse pressa com o livro, pois tinha certeza que ele voltaria no momento certo. A menina agradeceu e ainda ouviu a senhora dizer que era um prazer partilhar coisas boas.

Elisa saiu da Biblioteca, caminhou até o ponto, sentou-se e aguardou a condução que não tardaria chegar. Minutos depois, já dentro do ônibus quase vazio, colocou os livros sobre o assento ao lado e se distraiu olhando pela janela, não percebendo quando em uma freada brusca, um dos livros escorregou para debaixo do banco da frente.

O tempo passou rápido e o seu ponto chegou, ela desceu com os demais livros na mão, ainda sem perceber a falta do principal, aquele que acabou se perdendo no caminho. Assim que chegou a casa, colocou os livros sobre a mesinha de cabeceira no quarto e desceu para almoçar.

A tarde Elisa decidiu descansar um pouco e se refugiou na sacada, levando apenas um pequeno livreto de poesias e pensamentos. A moça já havia desfolhado aquele livrinho centenas de vezes e não cansava de repetir o gesto. Ela permaneceu deitada por um longo tempo, quando adormeceu com o sol aquecedor do entardecer que tocava o seu rosto e a iluminava. Despertou somente quando o sol foi embora e, a brisa da noite já vagava por todos os lados. Elisa entrou rapidamente e foi tomar o seu banho. Em momento algum ela percebeu que algo muito importante lhe faltava.


A Menina que se apaixonou por um livroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora