Capítulo Único

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A única coisa que chamava atenção no carro que fora buscar o garoto era a placa faltando. A cor preta conforme o padrão, os vidros sem blindagem e a lenta chegada fizeram o transporte contratado pelo aplicativo parecer como qualquer outro. O garoto avistou o carro diminuindo a velocidade até parar em frente ao ponto de partida desejado: um restaurante chinês que ele nunca tinha ido. Ele escolhera um horário em que a esquina, por mais que bem iluminada e repleta de lojas, estava deserta. Ele olhava desconfiado para o único casal que passava na rua, e só foi em direção ao carro depois de não conseguir mais enxergá-los.

O motorista tinha um sorriso reconfortante no rosto, com seus olhos relaxados e uma sutil expressão de alegria. Sua pele era negra, e trajava roupas de maneira despojada, sem a preocupação de aparentar profissional. Ele usava uma combinação de calças pretas com um casaco azul marinho, e uma boina cinza que talvez seja seu acessório mais bem conservado. Tinha um par de óculos no bolso, provavelmente para leitura, e um caderninho de papel com caneta.

O garoto por sua vez usava jeans, camisa branca sem estampa e um casaco preto. Este último estava fechado de uma maneira a esconder toda a parte de cima de seu corpo, desde as mãos nos bolsos até o longo capuz cobrindo o rosto. Sua mochila era pequena e tinha uma caneca pendurada para fora, e nada se podia afirmar sobre o que ele levava.

Ao entrar no carro e trocar um simples "Boa noite" com o motorista, a primeira coisa que chamou sua atenção foi o celular preso ao lado do volante. O caminho traçado pelo garoto foi de uma curta distância entre dois pontos, mas o trajeto contornava sua Comunidade natal e evitava grande parte da região que ele iria adentrar. Ele pensou em perguntar ao motorista, mas percebeu que se sentia mais seguro fazendo o trajeto e não se metendo aonde não deve.

Instantes depois de o garoto voltar a se distrair pelo celular, o homem começa a conversar:

- É sua primeira vez no Distrito, não é?

- Porque você se importa? – o garoto estava medindo cuidadosamente as palavras para parecer mais experiente.

- Claro que é. O seu jeitinho deixa claro que não veio preparado para visitar esse lugar. Foi bem pensado você ter escolhido o ponto de partida diferente de onde mora, mas essa sua desconfiança... Ninguém aqui se importa, moleque. Ou você acha que a Polícia não sabe para onde vai um garoto com o rosto escondido às 11 da noite?

- Eu não queria que me vissem.

- Você não saberia impedir alguém de segui-lo até aqui. Ainda tem muito a aprender... – o motorista dá uma pausa para falar o nome escrito no celular - Crypter? Esse é o nome que escolheu? – ele dá uma gargalhada - Por favor, não me diga que queria ser chamado assim logo no começo.

- Tem alguma ideia melhor? – o garoto estava tentando desesperadamente esconder sua inocência.

- Abaixa esse capuz, aí. Deixa eu dar uma olhada melhor em você.

E assim o garoto fez. O rosto agora à mostra revelou olhos claros e um cabelo loiro bagunçado como se acabasse de levantar da cama. O garoto tinha pele lisa e cor pálida de quem não está muito acostumado a sair de casa. Ele tinha uma expressão séria ao olhar para o motorista, que chegava a ser cômica dada a inocência que emanava de seu rosto.

- Minha nossa, olha para você. Você usa fraldas, garoto? O que raios você vai fazer lá com essa idade?

- Eu posso ser novo, mas não sou burro. Eu não respondo esse tipo de coisa.

- Você deve ser um prodígio, só pode. Hacker? Negócios? Software? Não importa. Todo prodígio no começo faz a mesma coisa. Você vai ser Junior, entendeu?

O Cara NovoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant