Capítulo 3

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Lívia

Paro quando entro no meu andar. Otávio está sentado encostado em minha porta, sua cabeça baixa entre os joelhos e está com a mesma roupa de ontem.

Sinto pena de vê-lo nessa situação, sabia que ele mesmo tinha procurado isso, mas era humana, o que iria fazer? Mas também, quem o mandou procurar sarna para se coçar? Tinha que resolver essa situação de uma vez por todas.

— Otávio — chamo-o, e quando ergue a cabeça para me olhar... Parte meu coração. Seu rosto estava inchado e vermelho, seus olhos estão vazios e o jeito que me olha me causa certa tristeza, mesmo sabendo que eu não tinha culpa, é de dar dó em qualquer ser humano que tivesse um resquício de emoção. Tento abrir a porta, mas sou impedida por seus braços que rodeiam minha cintura firmemente, seu rosto cola-se à minha barriga. Fico sem saber onde coloco minhas próprias mãos. Ficamos nessa posição alguns segundos e então ergue a cabeça e prende seus olhos aos meus.

— Onde você estava, minha linda? Eu fiquei tão preocupado. Juro que estava quase indo à delegacia. — Fico totalmente comovida com seu estado, mas o que tinha feito, não tinha volta, e é aí que vem aquela constatação, que toda ação tem uma reação. Removo suas mãos da minha cintura e dou um passo para trás, abrindo a porta.

— Vamos entrar, Otávio, não vou dar espetáculo aos vizinhos — meu tom sai sem nenhuma emoção. Ele fica de pé na mesma hora e segue atrás de mim.

Fecha a porta atrás de si e encosta-se a ela, parece buscar as palavras para falar comigo, mas nem o deixo começar.

— Você — meu tom sai sem emoção —, vai tomar um banho, que vou fazer um café, não temos condições de conversar estando nesse estado. — Olha-me confuso, mas não rebate; só entra no banheiro, que fica no corredor. Logo escuto o barulho da água caindo. Vou para meu quarto e pego na minha cômoda, onde guardava algumas peças de roupas dele, uma camiseta, uma bermuda e uma cueca. Vou ao armário e pego seu chinelo. Bato na porta do banheiro, abro, como sempre fazia, sem olhar às minhas costas, onde fica o boxe. Deposito as peças em cima da bancada e saio sem dizer nada.

Depois de alguns minutos, sai do banheiro e entrego a xícara com café sem açúcar, como ele gostava, que havia feito enquanto estava no banho.

— Obrigado, sei que não mereço nada disso. — Meu pensamento é: Não merece mesmo. Mas não conseguiria dizer o que tinha a dizer se estivesse sentindo pena dele. Agora o olhava de igual para igual, já tinha voltado a ser o Otávio que eu "achava" conhecer.

Senta-se no sofá e seus olhos não saem de mim, enquanto toma seu café. Tenho certeza que deve estar pensando numa boa defesa.

— Lívia, não sei por onde começar... Sei que fiz a maior merda do mundo! Você não merecia ter visto aquilo. — Agora a raiva me domina.

—Não?! E o que merecia? Continuar sendo enganada por você? Acreditando que era a mulher mais feliz do mundo por ter o noivo "perfeito"? — Esse tempo todo calado, achei que iria dizer algo mais inteligente, afinal, ele não era o todo sabichão em usar suas palavras mentirosas? Achei que viria aqui com um argumento melhor que esse. Começo a disparar várias perguntas ao mesmo tempo, vamos ver se o Sr. Advogado seria bom nas respostas!

— Você ia me fazer de trouxa por quanto tempo? Até conseguir me comer? E quando você conseguisse, iria cair fora? Ou iria ficar me comendo, e comendo as outras no intervalo? — Responde aí, sabichão! Realmente deveria estar escrito "idiota" na minha testa! É muito cara de pau!

— Claro que não! Isso nunca aconteceu, juro! Foi a primeira vez! Estava muito chateado e aquela mulher entrou lá e ficou dando em cima de mim, não pensei direito. — Nossa, um advogado conceituado como ele, chegar ao ponto de não pensar direito, sua carreira estava com os dias contados!

A Missão Agora é Amar - missão bope 1Where stories live. Discover now