O Jantar Real

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— Mãe! Acorda! — a voz de Áurea veio acompanhada com o pulo de uma linda garotinha, que eu tinha prazer em chamar de filha, em cima de meu estômago, interrompendo meu sonho. Oh, droga! Hoje tem de novo! Áurea, que estava em pé ao lado de Aurora, puxou meu cobertor. — Espera aí, baixinha, só 5 minutinhos, vai — falei voltando a me envolver nas cobertas.

— Não, você dormiu demais. Esqueceu que eu tenho que chegar mais cedo para o seminário da escola? — ela voltou a puxar minhas cobertas.

— Você só tem que estar lá ás 13:00.

— Adivinha que horas são agora? — olhei para o relógio, com a vista ainda turva. Era meio-dia. Oh, drog! Eu estava atrasada. Áurea saiu de cima de mim rapidamente. Ao me levantar, vi a pequena Aurora com uma torrada na boca, de pé perto do sofá.

Corri para o banheiro. Era como se tivesse uma pedra nas minhas costas, mas tratei de empurrá-la para longe. Áurea havia me falado desse seminário há semanas, não podia deixá-la faltar. Liguei o chuveiro para um banho rápido. Nosso apartamento era bem pequeno, só havia um banheiro e uma sala/quarto/cozinha. O aluguel era um pouco caro para o tamanho do apartamento, mas dava — com bastante dificuldade — para pagar. Eu era garçonete em um restaurante de um hotel muito famoso na Rúbia. O salário era pouco, mas eu conseguia, com um inacreditável jogo de cintura, pagar as contas e sustentar minhas irmãs. Não. Elas eram minhas filhas. Eu as havia criado, enquanto a bêbada da Anna, que se dizia nossa mãe, se entupia de álcool e drogas.

Ainda estava com sono, mas eu tinha que ir deixar Áurea no seminário e ir para o trabalho e fazê-lo bem. Aquela era minha realidade. Desliguei o chuveiro com receio. Queria tanto continuar aquele banho... A água quente que descia pelo chuveiro era tão relaxante e fazia o intenso cansaço diminuir a cada minuto. Escovei meus dentes, fiz um rabo de cavalo para tentar deixar meu cabelo longo e volumoso apresentável, vesti meus velhos e gastos jeans e um camisão branco. Não liguei para o desbotado, botei meus antigos e amigáveis allstars, coloquei meu colar (um grande colar parecido com um ovo, todo dourado e pesado, com a frase "Promissioni significare, amicus"). Embora fosse feio, era o único presente que eu tinha ganhado na vida. Meu avô tinha me dado quando eu tinha apenas 11 anos, quando vim para a Rubéria. Ele havia me dito o significado, mas eu havia esquecido.

Fui até a geladeira. Áurea já havia trocado de roupa. Estava com um lindo vestido xadrez amarelo com botinhas marrons, o cabelo penteado com cachos perfeitos e uma fivela de borboleta prendendo a franja. Ela estava comendo uma torrada no sofá. Nós tínhamos uma pequena mesa, mas o almoço era no sofá, onde eu dormia. Em pouco tempo, Áurea já tinha dobrado as cobertas e colocado dentro da maior gaveta, na cômoda, onde guardávamos nossas roupas, ao lado da tv. Peguei um copo de leite e sentei ao seu lado. Aurora correu até mim.

— Você demorou para acordar, mamãe...

Ela falou com sua voz rouca, por causa da pouca idade. Havia completado cinco anos há pouco.

— É verdade. Por que chegou tão tarde ontem? — Áurea perguntou enquanto terminava de mastigar um pedaço da torrada.

— Um homem ficou comemorando uma promoção até as quatro da manhã. Odeio essa política do Eddie. "O restaurante só fecha quando o último cliente sair" — bebi um gole do leite gelado. — Não política de verdade, pois ele não é do governo. Quer dizer, eu acho. Vai que é, né? Mas, por que um cara do governo...

Aurea me olhou com a famosa cara do "Chega!''.

— Você tem que parar com essa mania de explicar sempre qualquer referência, metáfora ou troca de palavras que faz. Basta falar e pronto. As pessoas vão entender.

Um Príncipe em Minha VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora