Capítulo 6:Castelos e Lobos

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---A senhora pode me dizer onde estou?_perguntei, desconfortável e nervoso.

Seus olhos verdes me fitaram confusos e ela arfou, surpresa.

Seja lá o que eu tenha feito, pareceu estranho pra ela e por isso me preocupei, pois, desde que pôs seus pés neste cômodo, eu soube que a minha única chance de sair daqui estava guardado dentro das suas mãos. Se eu tivesse a sua chave, andar por aqui seria bem mais fácil.

---O senhor está em Toca do Lobo_.respondeu, encarando o chão enquanto apertava as roupas contra si.---O grande castelo dos Lordes do Norte... O famoso castelo branco, dos grandes lobos do rei...

Fiquei surpreso. Toca do Lobo?Como tínhamos chegado aqui tão rápido?A última lembrança que eu tinha era das grandes estacas de gelo atravessando o habitante de gelo e de tudo escurecendo. Não me lembrava do resto da viagem e nem de nada sobre meus companheiros depois disso.

---Quanto tempo fiquei desacordado? _perguntei, aflito.

---Quase uma semana senhor.._repondeu ela receosa, pondo a roupa na cama.---O Lorde do castelo já estava preocupado com sua saúde.

Uma semana?!

Teria o feitiço que eu lancei me causado tanto dano assim?Me forcei a lembrar mais detalhadamente da memória da luta. Naquele hora, minha magia tinha ficado louca, tão desesperada para ser liberada que nem precisei pensar. Ela explodiu de dentro de mim quase que por vontade própria. Talvez tenha sido por pouco, mas eu quase morri de exaustão.

Me aproximei dela e a mesma se afastou abruptamente ,parecia com medo de mim. Logo supus que, ou ela estava ciente das minhas habilidades ou então, não estava acostumada a ser tratada como uma pessoa e, em ambos os casos, isso era bem ruim.

---Não se preocupe..._falei, vendo-a me fitar de esguelha.---Eu não vou fazer nada a você e não precisa me chamar de senhor... Eu não sou nobre.. Sou só um simples cidadão, como você. Pode me chamar de Hades, se quiser. Eu não ligo.

Ela pareceu surpresa

Pelo visto, a realeza não devia ser muito igualitária com aqueles que a serviam, o que não me surpreendeu em nada. Sempre soube como eles eram com os que consideravam " classe inferior". Uma vez ouvi através de um mercador em Frost, que havia um nobre do leste que adorava colocar coleiras nos empregados e tratá-los como cachorros. Eram uma classe cruel e cheia de hábitos estranhos.

A mulher sorriu, dessa vez um riso de verdade, ainda acanhado, mas ainda assim melhor do que o riso falso de antes. Depois disso se aproximou de mim, mais calma, avaliando meu rosto a procura de algo, talvez permissão para chegar mais perto.

---Hades.. Meu Lorde ordenou que eu lhe trouxesse esta vestimenta para que usasse assim que recobrasse a consciência_avisou ela, apontando para a roupa na cabeceira da cama.---Ele também me pediu para ser avisado de seu estado.. Então, se me permite, devo informa-lo agora. Ele anda muito impaciente desde que você chegou..

Depois do aviso, fez uma reverência educada, deu outro riso tímido e saiu do quarto.

---Espere!!_gritei, tentando alcança-la---Me deixe ir com você!!

Obervei-a sair do quarto sem poder fazer nada. As chaves, minha unica chance de fugir, tinha ido embora com ela. Derrotado por minha própria fraqueza, caminhei até a cabeceira da cama com dificuldade e peguei a roupa que ela trouxe, sentindo sua textura fina e macia acariciar minhas mãos, suave como uma nuvem. Assim como quase tudo nesse lugar, era confortável demais e ainda assim, não me senti nenhum pouco aliviado por causa dela.

Olhei ao redor receoso.

Então este grande palácio era o meu destino?. Será que minha mãe andou por entre os corredores desse lugar no passado? Pensar nisso me deixava ansioso e assustado ao mesmo tempo. Tinham muitas coisas que eu precisava saber e nessas horas, a ausência de Franklin doía em mim ainda mais. Se ele estivesse aqui, me acalmaria com um dos seus abraços macios e me diria que tudo ficaria bem.

Precisava ser forte como ele.

Sem perder tempo com besteiras, tratei de cumprir a vontade do Lorde. Logo vesti a roupa, toda em tons de vermelho sentindo minha pele arrepiar irritada. Ao contrário do que era esperado, o macio exagerado me deixou desconfortável a ponto de querer arrancá-la de mim. Sempre dormi no áspero dos celeiros. Meu corpo já tinha se acostumado ao toque duro do feno contra ele. O mais perto que já cheguei de um tecido na minha vida foi quando minha mãe ainda era viva e por isso essa roupa me incomodava.

Vasculhei o quarto e percebi um enorme espelho no canto e por me sentir curioso sobre como estava,fui até ele e céus.. eu estava acabado.

Meus cabelos negros desgrenhados e opacos sobre meu rosto pálido e cheio de olheiras me davam a impressão de morte. Minha boca estava cheia de rachaduras e minha face de pequenos arranhões quase já cicatrizados pelo tempo. Eu parecia um zumbi. Se Franklin me visse desse jeito agora, provavelmente me diria para tomar cuidado para não parecer um throl do pântano antes dos trinta anos. Ele saberia como me animar, ele sempre sabia.

Não.. Eu tinha que parar...

Pensar no que Franklin diria não o traria de volta, eu tinha que entender isso de uma vez. Ele estava longe de mim e provavelmente nunca mais nos veríamos de novo. Decidi voltar para a janela e esperar que alguém aparecesse logo. Queria parar de me lembrar dele usando a linda paisagem como distração e assim me concentrar no que era importante. O significado da minha vinda até aqui. Será que próprio Lorde, que tanto requisitou a presença de minha mãe, viria me ver pessoalmente?

A impaciência me dominava a medida em que eu refletia sobre o fato de que, finalmente, minhas dúvidas sobre minha mãe seriam saciadas. Íliria Boullevard deixaria de ser um mistério e passaria a ser alguém novo. Cada parte de mim vibrava de ansiedade por isso, tanto que, minutos depois, eu já tinha voltado até a porta na esperança de conseguir abri-la outra vez.

Forcei suavemente um dos lados e dessa vez, ela se abriu facilmente. A senhora... Ela tinha deixado a porta aberta de propósito?! Avaliei o local antes de sair, queria saber se estava vazio e para minha sorte estava. Eu poderia sair. Poderia ir para onde eu quisesse sem que ninguém me visse e por um momento, quase fiz isso. Só não o fiz porque me dei conta de algo importante.

Eu não tinha para onde ir.

Eu era um estranho em lugar desconhecido que se quer sabia como tinha vindo parar aqui. Não conhecia nada e nem ninguém. Estes jardins por mais belos que fossem, este clima por mais agradável e sereno que fosse eram de outro lugar onde eu nunca havia vindo antes. Franklin, assim como tudo o que eu conhecia e amava tinham ficado para trás, enterrados sobre a densa neve de Frost em um inverno terrível.

Voltei para dentro do quarto e me sentei no chão. Era ilógico tentar fugir depois de todo o trabalho em chegar aqui. Eu precisava me acalmar e torcer para que objetivo do Lorde para mim fosse algo passageiro e que eu pudesse voltar para casa. E então esperei, sentindo cada segundo durar uma eternidade, sentado em posição fetal no piso frio do quarto imaginando como seria minha vida daqui para frente ou se ao menos eu teria uma.

Coração de Ômega(Romance Gay)[LIVRO 1][Em revisão]Where stories live. Discover now