– O que aconteceu? – Pergunto, após me sentar na grande mesa.

– Houve uma grande confusão na aldeia e muitos se encontram gravemente feridos, ou até mesmo mortos. – Meu pai diz, com cautela – No começo, pensamos que fosse algum mal entendido entre as pessoas, mas agora não tenho tanta certeza.

– O que acham que pode ter acontecido? – Tento manter a postura.

– Achamos que a profecia está se cumprindo. – Ele responde, desviando o olhar.

– Profecia? Do que está falando, pai? – Ingado, completamente confuso.

– Há muitos anos atrás, houve uma grande comemoração aqui no castelo. Você ainda era bem pequeno e nós estávamos comemorando o seu nascimento e como em todas as festas, você recebeu muitos presentes, desde os mais simples até os mais caros. A questão é... Uma mulher veio até a sua mãe e disse que iria dar de presente para você, uma grande revelação do futuro. – Ele respira fundo, antes de continuar – Ela revelou que daqui há alguns anos, uma grande praga iria se instalar no reino.

Minha cabeça começa a girar de repente, como se algo tivesse me atingido a parte de trás da minha cabeça.

– Nós não acreditamos nela. – Desvio o olhar para minha mãe – Não acreditávamos em profecias... Mas agora, com tudo o que está acontecendo, não consigo parar de pensar que seja isso.

– Está me dizendo que o reino está a mercê de uma praga? – Me levanto completamente transtornado – O que é essa praga? Mortes, discórdia, doença, traição? Vocês sabem exatamente o que é?

– Não temos certeza. – Paro de andar pela sala e encaro minha mãe – Há tantas coisas acontecendo, Ben... Não podemos salvar milhares de pessoas, não temos capacidade para isso. Temos que... Apenas tentar controlar a situação e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance.

– Podemos fazer algo sim. – Suspiro baixo – Temos quartos suficientes para acolher algumas pessoas. Não podemos ficar trancados aqui dentro, enquanto pessoas morrem lá fora.

Minha mãe se levanta com os olhos arregalados.

– Você não pode sair por aí, Ben... Ainda não temos certeza do que está acontecendo. – As rugas em volta dos seus olhos eram pequenas, mas devido ao momento de tensão, elas pareciam maiores. Como se ela nunca descansasse. – Ao menos espere a vidente chegar, talvez se ela disser mais alguma coisa...

– Não, mãe. – Digo, firme – Você me criou pra ser um príncipe e não um covarde que se esconde no castelo atrás de seus guardas, enquanto pessoas estão morrendo lá fora. – Aliso seu rosto e deposito um beijo em sua testa – Apenas confie em mim.

– O que você vai fazer? – Meu pai pergunta, e por um momento, vejo o medo nos olhos dos meus pais.

– Vou fazer o que qualquer pessoa em sã consciência faria. – Sorrio de lado indo até a porta – Farei o possível para ajudar à todos.

Abro a porta e saio daquela sala de cabeça erguida. Eu não faço a menor ideia do que esteja acontecendo atrás desses portões, mas eu não vou ficar de braços cruzados esperando. Vou agir.

– Ian? Ainda bem que te encontrei – Sorrio aliviado ao ver o meu amigo olhando por todos os lados – O que está procurando?

– Hã... Eu... – Ele resmunga algo, antes de dizer tudo rapidamente – Amirellasumiu.

– O que você disse? – Trinco meu maxilar.

– A Mirella sumiu. Não achamos ela em canto nenhum, muito menos o seu cavalo.

– Droga. – Começo a andar em direção ao estábulo

– Para onde você vai? – Ian acelera os passos, me seguindo pelo gramado.

– Ela pegou o Trovão para ir atrás da família dela. – Começo a preparar outro cavalo – Vou ir atrás dela. Onde mais eu iria?

– Você está louco? – Ele segura a sela, me olhando seriamente – Não podemos sair do castelo. Na verdade, você não pode sair. Não sabemos o que está acontecendo na aldeia, você pode se ferir e se isso acontecer a Manu me mata.

– Você sabe que eu nunca fugi de nada. – Termino de colocar a sela no cavalo – Precisa me deixar ir. A Mirella precisa de mim.

– Não tem nenhuma chance de eu te convencer a não ir, tem? – Ele pergunta, pensando na questão.

– Nenhuma. – Riu baixo – Olha, você tem duas opções. Me deixar ir resolver esse assunto sozinho, ou pode vir comigo.

– Não tenho escolhas. Se eu não for, a sua prima vai ter um ataque – Sorrio de lado e observo ele aprontar o outro cavalo e subir em cima do mesmo – Vossa alteza pelo menos tem um plano?

– Meu único plano, por enquanto, é trazer a Mirella e a sua família pro castelo. – Seguro nas rédeas – Vai desistir?

– Não mesmo. Nunca nego uma boa corrida. – Assinto e sem perder tempo, cutuco o trovão com a minha bota e sem pestanejar, o animal dispara em alta velocidade pela estrada de terra.

Enquanto o bichano corria pela estrada de terra, meu pensamento estava voltado para uma certa garota. Não posso negar que ela meche comigo e agora que ela corre grandes chances de ser atacada pela praga, me sinto ainda mais na obrigação de protegê-la.

Aguente firme, Mirella...

Era a única coisa que eu pensava enquanto avançava em alta velocidade para a aldeia.

* * *

O Herdeiro Where stories live. Discover now