As voltas do umbigo

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            A neta retirava o véu que cobria o rosto de Antonio quando Dario chegava à cidade de ônibus e, conforme instruído, pedira ao primeiro taxista que encontrou que o levasse até a casa do jornalista, que todos na cidade deveriam saber onde era. Mas o taxista fez foi uma cara assim, de quem não sabia o que dizer e chamou outro e “Ô, Anselmo, chega aqui.”, falou. Ao que o outro respondeu e o taxista continuou “Esse Antonio Izabela...” “Izabel.”, corrigiu Dario “Antonio Izabel, num é...” “É, ele mermo, que tão velando agora lá em cima na capela mortuária. O enterro sai às três.” e já eram duas e meia, de forma que Dario foi logo levado pra capela, mas não pelo primeiro taxista, mas pelo tal de Anselmo, que o outro não queria subir com o carro, um misto assim, de implicância com uma besteira de medo de cemitério com falta de vontade de sujar o carro que tava limpinho e a estrada era que era uma poeirada só.

            Mas por todo lado a cidade é só poeira, refletia Dario agora, ali, a meio caminho do cemitério, parado no centro de um pasto que tinha um caminho todo feito, que dava no meio dele pra capela mortuária local e, lá no alto, o cemitério, que era assim uma graça, porque era a morada mais alta da cidade toda.

            Inhã, inhanhum, rio que corre e água que leva, bota pra longe de mim as más lembranças que tenho de ti.

            Averigúem que ele há de chegar, de carro, bem em cima da hora de se desfazer do incômodo que é meu corpo morto, afundando-me duma vez na escuridão. Quando ele chegar tratem-no bem, mas não tão bem que ele se sinta logo querido, porque isso vai fazer com que ele confunda as coisas. E nós precisamos que ele seja compenetrado em sua missão.

            No mais essa terrinha aqui onde criança trepa bananeira e jovenzinhos comem égua e fazem orgias onde masturbam uns aos outros e nunca que tem coragem de encoxar as mocinhas, é aqui que Antonio Izabel se esconde na loucura de Frankenstein, isto é, o doutor, Victor, que foge de seu monstro de remendos, Prometeu pós-moderno, fogo sagrado roubado da árvore da vida – metáfora cansada. Seria melhor que todos tivessem medo de lobisomem. Volta cansada ela pra casa, agora sem o avô, sentindo-se sozinha no mundo, escorando-se em mim, mas não me sentindo ali, ela volta pra casa e pede para ficar sozinha.

            Recusa um abraço. Eu saio para caminhar, encontro um cão que me olha

e ali tem um dipé paradolhando pra mim eu cheiro comida nele e ele me deixa lamber os dedos dele gosto bom ele manda sentar eu e diz fica bonzinho e faz carinho me chama auauuau

            Vi quando o rapaz chegou todo apalermado, cansado, cheio de bolsas e com cara de que não tinha pra onde correr. Como de costume, agora nessa idade avançada da vida onde quase tudo é nublado pelo álcool e a falta de esperança, fui lá eu me meter na vida do cara.

            Pode-se dizer que eu era a pessoa certa pra ele naquele momento.

            Logo depois chegou Tadito, trazendo um cachorro. Ele pediu o mesmo que o garoto, uma dose de Velho Barreiro. Mais velho e também mais calejado, ele bebe em bicadas pequenas. O efeito é o mesmo, ele sabe.

            Depois do funeral, Dario procura um lugar para comer, já que a viagem de seis horas e meia de duração deixara-o em cansaço de exaustão. E ainda precisava lidar com o fato de que todo o trabalho estava perdido.

Não consegui nem mesmo entrevistar o cara

, pensava.

Que azar, bicho.

            Realmente, chegar à cidade no dia e horário do sepultamento da pessoa que ele planejava entrevistar foi o bastante para lhe tirar o chão. Além da fome, Dario ainda se sentia perdido e sem idéia de onde iria ficar. Tinha passado um tempo considerável pulando de um lugar para o outro, sempre dormindo no chão

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⏰ Última atualização: Apr 26, 2014 ⏰

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