Perfeitamente Quebrados

Sentiu minha falta?

Um lugar lindo, mas triste ao mesmo tempo.

E vê-lo agora por essa perspectiva me partira o coração.

O casarão era humilde, de cores mortas e parecia estar esquecido ali há muito tempo.

No meio daquelas outras dezenas de casas ele era apenas mais um.

Comecei a me perguntar se as pessoas realmente se importavam com aquele lugar como pareceram demonstrar há poucos dias no Natal.

Fui em direção a entrada e toquei a campainha.

Poucos segundos depois uma jovem abriu a porta para mim.

—Bom dia! Em que posso ajudar? — disse ela, uma jovem de provavelmente uns 19 anos, cabelos escuros e uma expressão acolhedora. Não a vira por ali ainda.

—Bom dia! Meu nome é Pedro. Marquei uma visita com Aurora mais cedo. — respondi.

—Ah, claro! Pedro! Sim, ela me avisou de você. — de repente os olhos da garota brilharam e sua expressão se transformou totalmente. —Entre, por favor. — e assim eu fiz.

Pisar novamente naquele lugar era como levar um banho de nostalgia, mas também de paz.

—Onde ele está? — perguntei. Presumi que a jovem já sabia o motivo da minha ida àquele lugar.

—Venha! — ela sorriu e saiu em direção ao pátio.

Chegando lá encontrei um monte de crianças correndo, em rodas brincando, outras deitadas e algumas poucas até mesmo lendo. E claro que essas me chamaram a atenção em especial. Havia também outros adultos, homens e mulheres, provavelmente cuidadores assim como aquela jovem.

Porém meus olhos procuravam outro serzinho. E não o encontravam de jeito nenhum por sinal.

—Olhe, ali está ele. — disse a garota apontando para um cantinho.

Meus olhos seguiram seu dedo e então bati-os nele.

Miguel estava sentado no chão encostado a uma parede bem distante e parecia estar lendo algum tipo de gibi.

—Obrigado! — falei e segui em sua direção, deixando a jovem ali.

Durante o caminho algumas crianças me observavam com curiosidade, mas não liguei.

Chegando próximo dele, que ainda estava concentrado na leitura de seu... Gibi da Turma da Mônica. Agora de cima eu podia identificar, mas Miguel parecia ainda não ter notado minha chegada. Era totalmente fascinante. Acho até que fiquei apenas o olhando por algum tempo, meio que inconscientemente.

Até que em pé diante dele, cruzei os braços e pigarreei.

O garoto dos cabelos louros deu um pulo assustado e olhou ao redor até subir a vista e bater seus olhos em mim.

—Sou tão feio que te assustei? — sorri.

Seu estado de confusão durou por milésimos de segundo apenas. Não levou muito tempo para que sua expressão fosse de apavorado para alegre.

—Tio Pedro! — levantou jogando o gibi no chão e abraçando minha cintura. —Você voltou!

Me abaixei para o abraçar.

—Claro, eu mantenho minha palavra.

Ele se afastou do abraço e me deu um sorriso banguela.

—Ora, ora, se não temos uma janelinha aqui... — brinquei apontando o dedo perto de sua boca.

Miguel rapidamente tapou a boca com as mãos e franziu a testa.

—Ei! Não tenho janelinha! — disse zangado.