- Mais ou menos né, Gerry. Sabemos que pra você quanto mais shows melhor. Por isso esta turnê foi do tamanho que foi. Eu posso me apresentar no Brasil em uma outra oportunidade. - Gerry se preparava para abrir a boca, então continuei. – Este não é mais um assunto em discussão. Ninguém para variar me perguntou se eu concordava com isso, mas eu digo assim mesmo: Não concordo e não vai ter extensão de turnê alguma. Estou cansada de vocês tomarem decisões entre vocês e só me comunicarem no final. Sem mim, não terá turnê nenhuma. E está decidido. - disse me recostando na cadeira de braços cruzados para mostrar que estava irredutível.

    No fundo me sentia um pouco culpada, pois sabia o quanto se empenhavam para fazerem o nome Danny Kiesting ter cada vez mais sucesso, além de nunca ter gostado de ser vista como a chata ou a temperamental. Mas estava farta de abrir mão do que eu queria para agradar a todos, estava me anulando em benefício deles.

- Eu concordo com você. Ia te contar da ideia dos shows, que inclusive já havia falado pro Gerry que você não iria topar. Mas que bom que assim ele pode ouvir de você. - disse Flávia guardando seu celular na bolsa. – Acho que vocês estão esquecendo que a Danny é de carne e osso, pessoal. Essa turnê foi exaustiva até o último fio de cabelo, ela precisa descansar. Artista cansado não produz. - acrescentou a última frase para parecer profissional e não só uma amiga preocupada. Percebi isso quando ela olhou pra mim e deu um sorrisinho que só eu notei naquele escritório.

- Não podemos negar que fazer shows no Brasil seria ótimo para sua imagem, assim como foi você ter feito show em Tulsa. Mostra o seu lado humano, suas raízes, o que faz o público sentir mais afinidade com você. - argumentou Colbie e seu jeito sempre profissional demais. 

    Sua postura e seu jeito de se vestir davam a impressão de que não relaxava nunca. Sempre usando termos específicos demais. Há quase cinco anos trabalhando juntas e nunca tive uma conversa informal com ela. Com os cabelos castanhos sempre bem presos em um rabo de cavalo, sempre uma calça social e uma camisa de manga. Deveria ter milhares delas, pois nunca a vi usar a mesma camisa.

- Ainda bem que alguém está pensando nisso além de mim aqui nesta sala. - disse Gerry enquanto terminava seu café. – Você está desperdiçando uma oportunidade maravilhosa de se promover.

- Gerry... - respirei fundo. – No momento eu quero o oposto de me promover. Quero ficar quieta no meu canto, descansar, talvez viajar, ter aquilo que as pessoas normais tem, como é que chama? Ah sim, vontade própria. Fazer coisas que se tem vontade de fazer. Eu não sei mais o que é isso. Um ano vivendo praticamente em jatinhos, carros, aviões. Eu preciso de um tempo pra mim... - todos se olharam sentindo-se desconfortáveis. - Bem, eu já falei o que tinha para falar e já resolvemos o que tínhamos que resolver. Flávia, se o Gerry não encerrar as negociações, você tem autoridade pra encerrar. - disse me levantando da cadeira e pegando minha bolsa.

- Hey, Danny... só quero dizer que você arrebentou lá dentro. - disse Harry me alcançando do lado de fora da sala. – Tirando a Flávia, o que eles fazem é uma covardia. E fico satisfeito em ver você finalmente se colocando no seu lugar de direito: dona da porra toda. - não aguentei e ri junto com ele. – É sério! Como você disse, sem você nada acontece. São eles que tem que fazer o que você quer e não o contrário. Você é uma mulher que sabe o que faz.

- Own, obrigada Harry. - o abracei com um braço pelo pescoço e saímos assim até o fim do corredor, onde ele voltou para estúdio e eu fui embora.

    Harry era um bom amigo, nos demos bem logo de cara assim que Gerry o contratou. Era ótimo ter um produtor musical que finalmente ouvia as minhas minhas ideias e que me deixava atuar diretamente nas músicas. Só não deixava mais porque Gerry até isso controlava. No meu último álbum depois de muito lutar consegui que apenas duas composições minhas entrassem para o cd.

Dream Girl [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora