Capítulo 3

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O primeiro garoto pulou em cima do outro e começou a socá-lo no rosto.A cantina explodiu em um rugido de excitação, enquanto dúzias de garotos se reuniam em torno deles.
BRIGA! BRIGA!
Medson deu vários passos para trás, assistindo horrorizada à cena de violência à seus pés.
Quatro guardas finalmente chegaram e pararam a briga, separando os dois garotos ensanguentados, carregando-os para longe. Eles não pareciam estar com nenhuma pressa.
Depois que Medson finalmente pegou sua comida, ela examinou a sala, esperando por um sinal de Jonah. Mas ele não estava em lugar nenhum.
Ela caminhou pelas fileiras, passando mesa após mesa, todas cheias de garotos. Haviam poucos lugares vazios, e os que estavam vazios não pareciam muito convidativos, ao lado de grandes grupos de amigos.
Finalmente, ela escolheu um lugar em uma mesa vazia perto do fundo. Havia apenas um garoto na ponta da mesa, um garoto chinês baixinho e frágil com aparelho nos dentes, mal vestido, que mantinha sua cabeça abaixada e se concentrava em sua comida.
Ela se sentiu só. Ela olhou para baixo e checou seu telefone. Haviam algumas mensagens no Facebook dos seus amigos da última cidade. Eles queriam saber o que ela estava achando da nova casa. Por alguma razão, ela não estava a fim de responder. Eles pareciam estar tão longe.
Medson comeu pouquíssimo, uma sensação vaga de náusea do primeiro dia ainda com ela. Ela tentou pensar em outra coisa. Ela fechou os olhos. Ela pensou em seu novo apartamento, no quinto andar de um prédio imundo sem elevador na rua 132. A sua náusea piorou. Ela respirou fundo, se esforçando para focar em algo, qualquer coisa boa em sua vida.
Seu irmão mais novo. Sam. 14 anos, parecendo ter 20. Sam nunca lembrava que era o mais novo: ele sempre agia como o seu irmão mais velho. Ele havia se tornado forte e duro com todas as mudanças de cidade, com a partida de seu pai, com a forma como a mãe tratava a ambos. Ela pôde perceber que tudo aquilo estava afetando-o e que ele estava começando a se fechar. As brigas frequentes dele na escola não a surpreendiam. Ela temia que aquilo apenas ficasse pior.
Mas quando se tratava de Caitlin, Sam a amava absolutamente. E ela a ele. Ele era a única coisa constante na sua vida, o único com quem ela podia contar. Ele parecia manter o seu último ponto fraco no mundo para ela. Ela estava determinada a fazer o possível para protegê-lo.
-Medson?
Ela pulou.
Parado ao lado dela, bandeja em uma mão e estojo de violino na outra, estava Jonah.
-Se importa se eu me juntar a você?

-Sim quer dizer, não, ela disse, nervosa.
Idiota, ela pensou. Pare de ficar tão nervosa.
Jonah deu aquele sorriso e sentou na frente dela. Ele sentou ereto, com postura perfeita, e colocou o seu estojo de violino cuidadosamente ao seu lado. Ele colocou sua comida gentilmente na mesa. Havia algo nele, alguma coisa que ela não conseguia identificar. Ele era diferente de todas as pessoas que ela havia conhecido. Era como se ele pertencesse a uma outra era. Ele realmente não pertencia a este lugar.
-Como foi o seu primeiro dia? ele perguntou.
-Não foi o que eu esperava.
-Eu sei como é, ele disse.
-Isso é um violino?
Ela apontou com a cabeça para o instrumento dele. Ele o mantinha próximo, e mantinha uma mão sobre ele, como se tivesse medo que alguém o roubasse.
-É uma viola, na verdade. É só um pouco maior, mas o som é muito diferente. Mais suave.
Ela nunca havia visto uma viola, e esperava que ele a colocasse na mesa e a mostrasse para ela. Mas ele não fez nenhuma menção de fazê-lo e ela não queria se intrometer. Ele ainda estava com a mão sobre o instrumento, e parecia querer protegê-lo, como algo pessoal e privado.
-Você pratica bastante?
Jonah encolheu os ombros. Algumas horas por dia, ele disse casualmente.
-Algumas horas!? Você deve ser ótimo!
Ele encolheu os ombros novamente. Eu sou bom, eu acho. Existem muitos outros músicos melhores do que eu. Mas eu espero que esta seja a minha passagem para fora deste lugar.
-Eu sempre quis tocar piano, Medson disse.
-Por que não toca?
Ela ia dizer, eu nunca tive um, mas não o fez. Ao invés disso, ela deu de ombros e voltou a olhar para a comida.
-Você não precisa ter um piano, Jonah disse.
Ela olhou para cima, surpresa ao perceber que ele havia lido a sua mente.
-Existe uma sala de ensaio nessa escola. Com tudo de ruim aqui, pelo menos há alguma coisa boa. Eles dão aulas gratuitas. Tudo o que você precisa fazer é se inscrever.
Os olhos de Medson se abriram.
Mesmo?
Tem uma folha de inscrição do lado de fora da sala de música. Peça pela Sra. Lennox. Diga a ela que você é minha amiga.
Amiga. Medson gostou do som daquela palavra. Lentamente, ela sentiu uma felicidade crescendo dentro dela.
Ela deu um sorriso largo. Os olhos dos dois se encontraram por um momento.
Olhando para aqueles olhos verdes e brilhantes, ela desejou profundamente lhe fazer um milhão de perguntas: Você tem namorada? Por que está sendo tão legal? Você gosta mesmo de mim?
Mas, ao invés disso, ela mordeu a língua e não disse nada.
Temendo que o tempo deles juntos fosse acabar em breve, ela procurou por algo para perguntar que prolongasse a sua conversa. Ela tentou pensar em algo que garantisse que ela o veria novamente. Mas ela ficou nervosa e imóvel.
Ela finalmente abriu a boca, e no momento em que o fez, o sino tocou.
O local explodiu em barulho e movimento, e Jonah levantou,segurando a sua viola.
Estou atrasado, ele disse, pegando sua bandeja.
-Ele olhou para a bandeja dela. Posso levar a sua?
Ela olhou para baixo, percebendo que havia esquecido dela, e sacudiu a cabeça.
-OK, ele disse.
Ele ficou parado ali, tímido de repente, sem saber o que dizer.
Bem...até mais.
-Até mais, ela respondeu desajeitadamente, sua voz apenas um sussurro.
Com o fim do seu primeiro dia de aula, Medson saiu do prédio e encontrou uma tarde ensolarada de março. Apesar de uma brisa forte estar soprando, ela não sentia mais frio. Apesar de todos os garotos em torno dela estarem gritando enquanto saíam, ela não estava mais incomodada com o barulho. Ela se sentiu viva, e livre. O resto do dia havia passado como uma névoa; ela não conseguia se lembrar do nome de um único professor.
Ela não conseguia parar de pensar em Jonah.
Ela se perguntou se havia agido como uma idiota na cantina. Ela tinha atropelado as palavras, quase não tinha feito nenhuma pergunta a ele. Tudo o que ela conseguiu perguntar foi sobre aquela viola estúpida. Ela devia ter perguntado onde ele morava, de onde ele era, para qual faculdade ele queria ir.
Mas principalmente, se ele tinha uma namorada. Alguém como ele tinha que estar namorando alguém.
Naquele exato momento, uma garota bonita e hispânica passou por Medson ela a olhou da cabeça aos pés quando ela passou, e se perguntou por um segundo se era ela.
Medson virou na rua 134, e por um segundo, esqueceu para onde estava indo. Ela nunca havia ido à pé da escola para casa e, por um momento, ela não conseguia lembrar de onde ficava o seu novo apartamento. Ela ficou parada lá, na esquina, desorientada. Uma nuvem cobriu o sol e um vento forte soprou, e de repente, ela sentiu frio novamente.
Ei, amiga!
Medson virou-se e percebeu que estava na frente de um bar imundo de esquina. Quatro homens estranhos estavam sentados em cadeiras de plástico na frente do bar, parecendo não sentir o frio, sorrindo para ela como se ela fosse a sua próxima refeição.
Venha aqui, amor! gritou outro.

Continua?.........

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