Capítulo 2

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O dia de Anahí Portilla estava cheio. Suas melhores intenções foram desviadas, antes que chegasse ao trabalho, pelo número de e-mails e mensagens que recebera. Sem mencionar as reuniões, uma atrás da outra. Suspirou e afundou-se na cadeira de couro de sua mesa, observando o bolo de papéis com mensagens, acompanhado de um telefone tocando furiosamente. Uma reunião de duas horas e seu dia explodira enquanto estava fora.

Se não estivesse presa em reuniões durante metade do dia, a maior parte das quais não foi nada produtiva, teria feito muito mais num quarto do tempo.

Seu plano de sair mais cedo e ficar com Sabrina fora por água abaixo.

O buraco em seu coração aumentou. Todo dia, a dor de querer estar em casa e a necessidade de estar trabalhando, num trabalho que, um dia, acreditou que amava. Hoje, mais que isso, precisava pagar as contas, cuidar de si e de Sabrina, o que cavava um buraco ainda maior em seu coração. Como as outras mulheres faziam? Como equilibravam família e trabalho?

Uma mensagem por vez murmurou para si mesma e começou a revirar os papéis.

Como produtora de um novo programa de entrevistas com celebridades na TV, em Boston, ócio não fazia parte de seu vocabulário.

Além disso, trabalhou por anos para alcançar esse cargo, para finalmente ter uma chance de provar sua capacidade. Certo, não era exatamente o que queria na faculdade.

Esse trabalho era um pequeno desvio do que sonhara na Universidade de Suffolk.

Ainda assim, o trabalho na televisão melhoraria seu currículo e poderia levá-la ao que realmente queria. Ou, pelo menos, era o que achava. De qualquer maneira, provavelmente ela destruiria a própria carreira se desistisse agora.

Suspirou. Não que sua conta bancária lhe desse essa opção.

A pressão de ser tudo... Mãe; pai, provedora... Pesava mais a cada dia. Tentava ignorar. Mas era mãe solteira. Sua preocupação não mudaria isso, mesmo que, às vezes, se perguntasse se estava fazendo seu trabalho bem-feito.

Admirou a foto de Sabrina, o coração apertado ao ver sua querida bebê de oito meses. Então, olhou novamente para a pilha de papéis. Trabalho. Um caminho para um final melhor.

Alice marcara urgente em todas as mensagens. Tudo nesse trabalho era urgente, considerando que entraram no ar havia uma semana. Achar convidados, histórias, tudo enchia seus dias como um furacão.

Pelo menos, um terço das mensagens tinha o nome da Sra. Bracho. Sorriu e passou por essas sem lê-las. Costumava deixá-las para á hora do almoço, como uma sobremesa emocional, para quando tivesse tempo de se maravilhar com os detalhes do dia de Sabrina. Ela era uma ótima babá, mas achava que tinha que ligar e reportar cada mamada, cada troca de fralda, cada barulho.

Eram detalhes que ela adorava ouvir, mas faziam-na sentir mais saudade da filha. Se ela pudesse ouvir os barulhos. Ou dar as mamadeiras. Mas, todas as manhãs; deixava Bri. E parecia deixar uma parte de seu coração.

De qualquer modo, a Sra. Bracho era uma dádiva. Cuidava de Sabrina por muito menos do que qualquer babá em Boston cobraria. Ela vira a saia justa na qual Anahí estava e apiedou-se. E, provavelmente, apaixonou-se pelos olhos azuis de Sabrina.

Quem não se apaixonaria? Sabrina, em sua opinião, era o bebê mais fofo do mundo.

Segurou a foto e passou os dedos pelo rostinho de Bri.

— Saudades, bebê — sussurrou. — Estou fazendo o melhor que posso.

Então voltou ao trabalho. Por agora, as mensagens da Sra. Bracho teriam que esperar. Se Anahí se distraísse pensando em Sabrina, nunca acabaria o trabalho.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now