Primeiros Passos

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Sabia que o caminho era longo, mas saber não era suficiente. Caminhava mantendo o ritmo, enquanto meus músculos começavam a se contrair. Não queria transparecer isso, não devia, mas já era tarde demais! Estava tarde demais, começando a escurecer, longe de casa, e mesmo sem entender muito bem o que as pessoas daquela região falavam, eu apenas queria escutar outras pessoas.

Não estava sozinho, mas sentia-me inquieto, queria poder garantir um caminho seguro para quem me acompanhava.

- Você está com medo? - Ela me perguntou.

- Não, só estou preocupado.

Foi a melhor resposta que encontrei. Como fomos parar nessa situação? Essa é uma daquelas histórias que as pessoas precisam ver para acreditar, mas gravar seria um luxo e quase inacessível naquele momento.

O dia foi longo, nos atrasamos por um bom motivo. Viva os professores! Apoiamos uma manifestação que estava acontecendo em prol de melhores condições para os responsáveis de garantir um futuro melhor. Tenho certeza de que esse movimento surtiu efeito positivo, porém, acabamos ficando isolados no meio do caminho de uma grande aventura. O resultado foi: gastar o pouco dinheiro que ainda tínhamos para chegar em nosso primeiro destino ao entardecer. Só seguir a trilha! O caminho parecia ser fácil e simples. Quando temos certeza de que estamos no trajeto correto é muito melhor e esperávamos encontrar mais pessoas fazendo o mesmo, mas acabamos nos decepcionando. Éramos duas pessoas caminhando mata adentro em outro país.

E o celular constantemente sem sinal.

Junto com o pôr do sol, chegou o frio. O corpo em movimento impedia-nos de experimentar uma sensação térmica pior ainda. Conheci um novo modo de "suar frio". Por um momento, a trilha pareceu acabar. Seguimos por um terreno acidentado, guiados pela intuição e por uma grande vontade de chegar ao nosso destino final. A luz do celular servia de lanterna, pois não estávamos preparados para caminhar por horas à noite. E se acabar a bateria? Todo tipo de pensamento passava em minha cabeça naquela hora.

- Me dê a mão!

De mãos dadas, passos sincronizados, atravessamos uma espécie de ponte, passos largos em cima da madeira surrada. Não olhe para baixo, eu pensava enquanto olhava uma pequena corrente de água a uns cinco metros de distância. Qualquer barulho chamava a atenção.

Quando os sons das pedras chutadas pareciam entonar algo diferente do esperado, olhava atento mais uma vez para tentar reconhecer o vazio. A verdade é que já não sabíamos mais o que esperar.

A parte mais estranha foi sentir. Estava com um sentimento estranho, estava estranho. Sentia-me diferente e esse foi o momento mais perigoso, porque já havia perdido o medo. A luz do celular pareceu menos brilhante no momento em que a mata ficou menos densa. Ao olhar para o lado foi possível acompanhar um rio. Era difícil perceber o outro lado da margem, mas o correr automático dos olhos me maravilhou com uma surpresa que vinha por detrás de uma velha montanha: a lua cheia. O ar rarefeito ficou mais rico naquele instante, ou apenas estava deslumbrado com o momento que esqueci até mesmo do perigo que estávamos correndo.

Havia muita energia naquele lugar, estava certo que todo meu entorno era sagrado. Com certeza essa energia me motivou e fortaleceu. Chegamos, nesse momento, na metade da trilha. A mochila pesada que carregava parecia fazer parte de meu corpo nessa hora. As mãos unidas passavam segurança um ao outro.

Segurança abalada! Um pequeno grito, reflexos assustados me desconcertaram: uma cobra. Nossos caminhos se cruzaram. Por instinto, pulamos por cima do animal rastejante que seguiu seu caminho. Os olhares, que já eram atentos antes, estavam ainda mais sob vigília agora. A mata novamente ficou mais densa e nosso ritmo seguiu apressado. Seguimos os trilhos do trem, desta vez mais confiantes de que estávamos na direção certa. O caminho estava se fechando e havia um túnel à frente. Não sabíamos quando algum trem passaria por nós, não sabíamos se ainda passavam trens por aquele percurso. O ambiente úmido era claustrofóbico. Mais alguns passos e já estávamos longe de onde entramos. Junto da saída, pequenos olhos brilhantes passaram rapidamente por nós, como se tivesse esperando a nossa passagem. Devia ser algum felino do mato ou animal pequeno.

Soubemos que estávamos chegando perto do nosso destino quando o céu mudou de cor. Mais alguns passos e conseguimos ver as luzes de um pequeno povoado ao pé da montanha.

- Olhe, o trem!

Assim que chegamos perto das primeiras construções, um barulho estridente quebrava o silêncio da mata que atravessamos, subimos em um calçamento e tão logo passou um vagão.
Precisávamos descansar, nosso destino final estava logo adiante. Encontramos uma pousada para passar a noite e nos recompor. Acordamos antes dos pássaros e ainda era madrugada quando começamos a subir a montanha. Muitas pessoas ao nosso redor e seguimos subindo com um clima leve e até divertido. Mais alguns passos, o céu começava a clarear, revelando também a riqueza que estava ao nosso redor.

Enfim chegamos! Encontramos algo realmente incrível, tudo o que passamos valeu a pena, fomos recompensados com um tímido nascer do sol entre as montanhas, com uma energia purificadora e com uma fotografia eternizada em nossa memória. Estávamos no topo da velha montanha, estávamos no topo do Machu Picchu!

A Trilha da Velha MontanhaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin