CAPÍTULO II

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Ainda era Quarta-feira, mas aquela semana foi muito agitada no Colégio São Miguel. Na semana passada havíamos perdido um de nossos vigilantes noturno e o outro já estava internado delirando, falando coisas sem sentido. Ninguém sabia dizer a causa do surto. Bem, como a vaga estava em aberto, o colégio estava precisando contratar urgentemente um novo vigilante e eu precisando de um emprego — Um ganho extra, já que não faturava muito como professor de pintura — eu me ofereci para ao cargo.

Já era quase 19h00min, entrei apressadamente na sala da diretoria. Nem esperei ser convidado para me sentar, puxei a cadeira logo e me joguei nela. A dona Elvira além de ser a diretora do Colégio, também era a minha tia e pela sua expressão, eu já poderia notar a desaprovação diante do meu interesse para aquele emprego. Ela tirou os seus óculos de grau e olhou para mim, preocupada.

— Está mesmo certo que quer isso? — Ela perguntou com um semblante infeliz.

— Sim tia, isso não tem nada de mais. — Eu falei entusiasmado.

— Como assim nada de mais Rodrigo? Tenho medo que possa te acontecer algo. Me escute, eu não vou te arriscar. — Ela gesticulava com as mãos sempre que falava dessa forma autoritária.

— Me arriscar ao que tia? É apenas um emprego.

— Sim, mas pelo o que aconteceu aos outros vigilantes.

Eu suspirei. Ela estava se preocupando atoa.

— Nada a ver tia! Vai ficar tudo bem. Eu acredito que esse trabalho não haveria afetado a saúde desses senhores, e afinal, eles já tinham uma idade bem avançada e deveriam esconder algum problema de saúde. Eu sou jovem e saudável! — Bati no peito com uma mão, tentando fazer graça.

Ela sorriu torto, mas por dentro não havia se animado.

— Não seja tão convencido. — Ela disse após um suspiro — Eu te darei essa chance Rodrigo, mas se eu perceber algo estranho contigo, você perde o emprego.

Eu engoli um seco. Ela falou em um tom ameaçador e não estava brincando. A minha tia realmente me demitiria caso algo estranho pudesse me acontecer. Eu fui me levantando devagar, segurando a alça da mochila que carregava no ombro.

— Eu preciso que você inicie hoje mesmo. — Disse ela. — Irei providenciar logo o seu uniforme. E... Já está na sua hora. Os seus alunos devem estar a sua espera.

Eu assenti. Saí da diretoria com calma. Afinal, as minhas "alunas"— Já que todas eram senhoras —, já deviam ter adiantado a atividade que lhes passei ontem. Eu suspirava sem emoção. Apesar pelo grande amor que tenho pela arte, não era nada motivador eu ministrar aulas de pintura — Claro, só consegui o emprego graças a minha tia, pois em qualquer instituição afora, eu precisaria de no mínimo um diploma de Artes plásticas — Senhoras daquela idade preferem pintar flores em tecidos, e não é bem isso que eu queria para meus alunos. A diretora desde o início disse para eu ensinar a elas o que ambas desejassem aprender.

Já estava sendo chata aquela rotina, tudo sempre igual. Senhoras que pintavam em silêncio, a tia "solteirona" de Bruno que sempre que me via entrar na sala, sorria e piscava um olho — Eu ficava envergonhado, só preferia desviar o olhar — ... Entrei na sala e vi as mesmas caras. As faces enrugadas encararam em mim, principalmente da senhora rechonchuda de curtos cabelos encaracolados, onde usava uma roupa de ginástica. Ela me fitava e fazia "bico" com seus lábios pintados de vermelho. Eu me sentei diante de minha mesa. Eu nunca fui de me atrasar, talvez elas se perguntassem curiosas o porquê de o Professor Rodrigo Silva haver chegado há essa hora. Eu me mantive silencioso. Logo as senhoras voltaram à atenção aos seus cavaletes de pintura.

A DAMA DE BRANCO (Em Pausa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora