Fantasmas

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             Depois da chegada em Dawenwood e da acomodação numa pequena e humilde estalagem eu comecei a escrever esta espécie de diário... Infelizmente não posso marcar dias e datas, essa concepção foi perdida da nossa sociedade a muito tempo... Alguns homens velhos nos dizem que estamos no ano de 1700, mas ninguém sabe ao certo. 
           Minhas costas ardiam e eu sentia meus ossos se quebrando como se fossem de vidro, ao menos na sensação, a febre tinha me atacado quando estava de noite eu só conseguia me contorcer e gritar numa noite interminável, eu pensava na mulher que estava rezando  no topo da colina e isso me acalmava... Porém o passado gritava no meu ouvido enquanto eu tentava dormir, uma dor alucinante na cabeça me fazia ferver e eu ficava num estado de estagnação alucinando com os acontecimentos de meu passado sombrio.  

           Quando criança, ainda não tinha sido afetado pela macula e meu corpo era saudável. Eu ainda posso me lembrar do rosto de meu pai, um homem baixo e calvo, finas cabeleiras negras e olhos castanhos e uma personalidade forte, cabeça quente e teimoso. Esse era ele, minha mãe já era uma mulher educada, tinha olhos verdes e longas cabeleiras douradas que se estendiam até o meio das costas.

  "Filho, você não é a pessoa que os outros dizem que é e, mesmo com o mundo contra ti...Não desista, o futuro te reserva algo melhor..." Foi a última coisa que meu pai me disse antes de eu ter sido obrigado pelos anciãos a sair de minha casa graças a macula e após ver com meus próprios olhos uma tocada pela lua fazia com que a bendita frase ecoasse a noite inteira na minha mente, nos momentos de paz aos momentos de dor e por um certo momento eu adormeci. Foi quando um raio de luz solar entrou pelas frestas quebradas da madeira de meu quarto que eu pude acordar e ver a manhã surgir, o taberneiro bateu a porta com velocidade e calma ao mesmo tempo que me chamava. -Meu rapaz...Pode atender a porta?-Sua voz rouca chamava a atenção, ele era velho o que fazia com que fosse estridente, porém ainda era uma voz bonita e uniforme.-Posso, perdão pelo incômodo.-Respondi. E o mesmo abriu a porta rapidamente, adentrando o local e buscando uma cadeira livre. O velho era magro, sua pele lembrava madeira e os cabelos grisalhos tinham um tom levemente avermelhado, o que sugeria que ele era ruivo na juventude e o homem era sagaz achando por fim um assento onde se acomodou e começou a falar. 

Velho-Talvez não tenha me apresentado, meu nome é Adair...Peço perdão pela falta de cortesia das pessoas desta humilde vila.-Ele parecia educado e eu gostava disso, diferente de como as outras pessoas me olhavam, este possuía despreocupação no olhar e mostrava um largo sorriso afável e cativante, até me pediu com um gesto para abaixar o pano que cobria meu rosto e eu o fiz rapidamente. 

-Não há problemas, eu sou um andarilho...Isso é normal e, por que você é tão calmo em conversar comigo? Não tens medo da peste?-Nesse momento eu via o homem levantar o sobrolho e com um sorriso malicioso respondeu minha pergunta.

Adair- Nem o diabo pode ferir minha carne, quem dirá uma praga tão mundana.- A arrogância em sua voz não era equivalente ao homem com o sorriso apaziguador de antes, mas eu podia ver confiança inabalável em suas palavras e rosto. Eu queria perguntar quem  ele realmente era, mas não sentia qualquer direito nisso, apenas me calei e aceitei.-Eu sei que vai falar com a musa da vila, posso ler seus pensamentos.-Ele quebrou o silencio e riu disso, riu mais quando viu minha expressão preocupada. 

-Desculpe senhor...Eu prometo que..que..-Ele atrapalhou minha fala com uma risada e um gesto para que parasse de falar ele refutou o que eu tentava dizer, rapidamente e sem qualquer falsidade em seus tons de voz.

Adair-Pare de se desculpar ou ficar me falando besteiras, queria apenas lhe propor um trabalho. Em troca de casa, comida e alguns tostões.-Eu fiquei impressionado com o que o sujeito havia me dito, isso era totalmente incomum eram raros os casos em que alguém ajudasse um maculado e ele me ajudava sem nem se importar com meus problemas.

Sangue e FerrugemUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum