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Sempre que eu te olho revejo todos os meus defeitos.
Um deles, e o que logo me vem à cabeça, é não conseguir executar papéis que as pessoas pedem.
As pessoas esperam que uma pessoa silenciosa e muitas vezes sem expressões como eu, sejam pessoas sábias, que pensam na melhor forma possível de acabar com os problemas ou manter a harmonia. Mas eu nunca fui assim. Não tenho pastas mentais com conselhos variados para os meus amigos. Não sei consolar, acalmar, não sei resolver. Eu não penso, não falo. Sou impulsivo, simplesmente faço. Ao menos sei lidar com alguém chorando.
Se começa a chorar já perdi qualquer linha de raciocínio que eu tinha. Fico nervoso. Não sei lidar nem com meus problemas, com os dos outros, então...
Nunca fui o filho exemplar e querido. Realmente nunca combinou comigo. Meus pais não sentem orgulho de mim. Compreensível. Eu não sentiria orgulho de horas presas em um quarto escuro, reclamações altas sobre qualquer barulho, poças de vômitos cheios de álcool no jardim, a contínua condição de vagabundo, meus amigos igualmente vagabundos, as transas sem compromisso, o ódio pelos meus tios e primos, minha decadente vida acadêmica, ah... Há tantos motivos para minha reputação precária.
Terceiro papel que nunca entrará em meu repertório é o de protagonista de romances. Relacionamentos para mim, por vários anos, se resumiam em algo quente envolvendo meu falo. Seja qualquer coisa que isso fosse.
E isso deve ao meu segundo defeito, a desconfiança.
Nunca tive o prazer de prosseguir em um conto de fadas, ou a restante baboseira do tipo, simplesmente porque o príncipe nunca me amou, tudo não passava de luxúria.
Eu não desmaiei esperando alguém vir me beijar, não era meio peixe, muito menos limpo a casa para irmãs mais feias que eu – sinceramente, a única coisa que não tenho preguiça de fazer é cozinhar – e mesmo que eu estivesse nessas condições, o felizes para sempre não existiria.
Em algum momento o príncipe fugiria com o vilão da história ou eu morreria com alguma doença sem cura.
Se tivesse sido uma ou duas vezes, eu seria corajoso o suficiente para dizer que estou sendo dramático, mas vários príncipes já desistiram de enfrentar o monstro que eu sou.
Vi vários tentarem, com suas lanças poderosas e cavalos alados, ir contra a floresta de espinhos que é a minha cabeça. Mas nunca conseguiam, a cada corte, a cada cavalgada de seus alazões, a cada suspiro de cansaço, eu fazia questão de aumentar os problemas.
A culpa sempre foi minha. Eu nunca estive a altura do príncipe. Era um mero sapo sem feitiço nenhum para ser quebrado. Inutilmente tentava impedir que o olhar dos príncipes que me apaixonei caíssem em outras pessoas, mas falhava.
Yoongi nunca foi suficiente. Para ninguém.
Esse é o meu terceiro defeito: a minha insegurança.
Não consigo apreciar as minhas qualidades. Sou egoísta, sarcástico, falso, não sei expressar o que tem na porra desse coração e às vezes esqueço que as pessoas se magoam assim como eu.
Todos os dias que me olho no espelho, consigo ver com nitidez os demônios que cobrem minhas órbitas e as grotescas formas que tomam meu corpo. Considero-me tóxico, contagiante. E digo isso a qualquer um que se aproxime.
Então, me explique, por que você continua aqui?
Eu te deixei abrir a porta, eu sei, eu juro que eu dei brecha. Mas por que você não poderia ter fugido de mim? Você não viu o que sou?
Não preciso de maldição nenhuma para dizer o que eu sou: nunca fui um príncipe, não sou o romance que você procura. Eu sou a fera, o animal, a besta. Você não poderia ir embora? Poderia deixar de beijar meu rosto? Você não tem medo do que as minhas palavras idiotas possam fazer com você?
Já te perguntei tantas vezes se você se arrepende. Você viu quantas vezes eu insinuei que tinham príncipes muito mais confiantes, gentis e bonitos por aqui, te apontei uns três inclusive. Você ficou triste, você chorou.
Por que eu só sei fazer as pessoas chorarem?
Perguntei-te novamente o porquê. Você respondeu que se sentia extremamente triste por saber que eu te imaginava com outras pessoas.
Mas na realidade eu não imagino. Eu enlouqueceria se isso passasse pela minha cabeça. Eu nunca teria coragem de deixar que sua pele macia fosse tocada por outras mãos. Eu não deixaria que te levassem para praia no fim da tarde com clima de romance. Nunca, em hipótese alguma, deixaria você cozinhar com outra pessoa.
Porque mesmo que eu tenha certeza que longe de mim você ficaria melhor, eu não quero que isso aconteça.
Você, com essas infernais expressões fofas, me fazem querer que você fique. Esse seu jeito manhoso de pedir as coisas, a forma como você se preocupa com qualquer pessoa que seja, os seus medos, o modo que você age quando fica com vergonha, o seu jeito erótico de dançar, os apelidos carinhosos que você me forçou a te dar, a teimosia, a persistência, os elogios, as suas canções sussurradas.
A sua voz rouca em meus ouvidos pela manhã, os seus olhos fechados de tanto sorrir das minhas horríveis piadas pela tarde e o seu corpo nu em meus braços pela noite. Por conta disso e por muito e muito mais é que eu prefiro que você fique.
Porque eu sou um puta egoísta, um idiota. Mesmo sabendo que eu posso fazer uma burrada e te magoar, eu quero que você fique.
Você diz que nós somos iguais e eu não posso deixar você dizer blasfêmias.
Você já disse várias vezes que temos defeitos. Houve vezes que você fez uma lista dos seus só pra que eu parasse de me menosprezar. Mas você falha, querido.
Porque eu não consigo ver nenhum defeito em você. Porque sua personalidade, suas atitudes, se assemelham a essa tua pele limpa, sem manchas, imaculada. Porque você não precisa ter vergonha de nenhuma besteira que vem a sua cabeça. Você não precisa se culpar por já ter sido um adolescente dramático.
Saiba, você é perfeito. Você é reluzente.
Você é o meu príncipe, Jimin.
E é porque você já me confirmou que nossos sentimentos são recíprocos que estou aqui, observando você dormir.
Continuo tocando na sua mão para saber se você realmente está aqui.
Porque por mais que os seus beijos e declarações não tenham mudado a fera que eu sou, essa fera te ama, Jimin.
