Deixe-me um adeus.

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Os sinais estavam em todos os lugares, e claro, Molly havia recusado.

Acreditar que seu pai havia ressurgirdo da morte, era loucura. Disse a si mesma, que isso era pela idade que iria fazer em breve, e a maneira que ele sempre a dizia para se casar antes dos 32 anos. E lá estava ela, numa profissão que provavelmente seu pai torceria o nariz em reprovação, e não estava casada. 

Suspirou cansada ao adentrar seu apartamento, o dia havia sido demasiadamente longo, como todos os outros eram, ou davam a impressão de ser, isto se dava ao fato de não ter, internamente, superado a declaração de Sherlock duas semanas atrás, e depois a ligação de Mycroft explicando sobre Eurus. Apenas isso e nenhuma palavra a mais de nenhum dos Holmes.

Toby, seu gato, veio em disparada para suas pernas como se estivesse fugindo de algo.

Ela abaixou-se o suficiente para fazer-lhe um carinho.

— O que foi, Toby? A Sra. Macdelan, o assustou de novo? Deixe-me lhe dizer algo. – Pausou pegando o gato para seu colo. — Ela também me assusta.

Colocou o gato no chão novamente, se dirigindo ao seu quarto e logo depois ao banheiro.
Deixou que seus pensamentos saíssem daquele apartamento e fosse até um certo sociopata altamente funcional, duas semanas e nenhuma palavra mais, nenhuma mensagem inesperada, nenhum experimento, nem pedidos de partes de corpo humano. No seu íntimo, Moly, julgava até ser melhor assim. Ver Sherlock implicava em lembrar daquele dia.

Foi a primeira vez em que ela começou a ter a sensação estranha de estar sendo observada. Desde que saiu de casa, olhou para trás a todo instante enquanto percorria o caminho até o St. Bartholomew. Suspirou em alívio quando chegou ao necrotério, mas a sensação de estar sendo observada não a deixava um instante sequer. Tentava ao máximo se concentrar nas autópsia que realizava mas sua mente pressentia um perigo eminente. Chegou a pegar o celular e digitar o número de Sherlock mas desistiu em seguida.

Insistiu em trabalhar um pouco mais, até que de dentro de um dos relatórios em cima da mesa, ela achou uma foto do verão de 93. Seu coração apertou-se. Era uma foto dela, no auge dos seus 7 anos, sua irmã Adeline e seu pai Richard, ambos carregavam armas de caça em suas mãos e sorriam para câmera.

Não sabia o porquê de uma foto daquelas está lá, no necrotério em meio a seus relatórios. Abalada emocionalmente, pediu a seu chefe que a liberasse mais cedo, e assim ele o permitiu. Resolveu voltar para casa de táxi, na tentativa de não pensar no quando se sentia exposta e observada enquanto caminhava.  Sua mente estava longe, lembrava do pai, e da infância que teve, dos segredos que guardava, pensava em Sherlock. O que ele diria quando a conhecesse de verdade? Será que Mycroft conseguiria informações sobre seu passado?

Entrou em casa, sentindo o peso do mundo em suas costas. Durante anos lutou para conseguir seguir em frente e não pensar nos segredos que guardava, mas eles haviam voltado sem aviso, a importunando.
Depois de um longo banho de banheira, ela se dirigiu a cozinha, para preparar um chá. Ela viu que era Sherlock que estava a ligar mas não queria falar com ele, nem com ninguém, precisava se isolar, sentia a necessidade de estar sozinha naquele momento. Novamente o celular voltou a ligar e desta vez ela atendeu.

Um barulho na cozinha a fez despertar de seus pensamentos.

— Toby? O que você está aprontando? – Ela disse para o gato se levantando da banheira e vestindo seu roupão azul claro.

— Toby? – Ela chamou o gato da cozinha. Um arrepio percorreu toda a sua coluna.

— Olá, Molly, sentiu minha falta?

— Céus, Sherlock. Isto é ridículo.  – Jonh adentrou o flat com Rosie em seus braços, a depositando no colo do amigo.

— O que quer Jonh? – Ele disse enquanto balança Rosie que ria para ele.  — Que eu vá até lá e diga o que? –  Continuou mal humorado. — Mycroft disse que Molly entendeu perfeitamente.

— Céus! – Jonh retrucou em sua poltrona. — Como você ... – Lhe faltaram palavras para descrever o amigo. Soltou apenas um suspiro cansado. — Ainda assim, você tem evitado Molly a duas semanas Sherlock.  Tenho certeza que ela o quer ver.

— Então que venha aqui, Jonh. – Sherlock disse devolvendo Rosie ao pai.

— Bom, já que está disponível então, confesso que os motivos que me trouxeram aqui eram outros. Preciso que fique com Rosie esta noite.

— Você quer deixar a sua filha de oito meses com um sociopata? – Ele olhou para Jonh. — Sabe Jonh, as vezes me pergunto se fiz bem ao escolher você como meu colega de quarto. Não me parece muito inteligente.

— Isso significa que você irá até Molly? –

— Yep, Jonh. Você venceu. – Disse Sherlock, vestindo o seu sobretudo.

— Tchau, Rosie. – Beijou o topo da cabeça da neném e desceu as escadas do 221B. 

— Tchau para você também. – Jonh disse observando de uma das janelas do flat, o amigo entrar num táxi.

Enquanto o táxi se deslocava pelas ruas e avenidas, Sherlock entrou em seu palácio mental. Em pé na cozinha estava Molly. O rosto levemente avermelhado, e os olhos caídos. Quem a visse poderia dizer facilmente que andara chorando. Ele sempre a considerou uma mulher forte, embora outros o dissessem que se devia ao fato dele não a enxergar corretamente, mas ele sabia que Molly era uma mulher forte, embora muito sensível também. Por isso a demora em conversar com ela, vê-la quebrada como aquele dia. Tinha ciência de que a doutora sentia por ele algo, e como relutou em dizer que o amava, isso para ele havia ficado ainda mais claro, mas ele era casado com o trabalho, e não se permitira sentir nada.

— Já chegamos. – O motorista do táxi o olhava feio. — Qual é o seu problema? É surdo?

Ele limitou-se a pagar o táxi, e desembarcar.

Sua mente começando a trabalhar, não sabia o que dizer, não queria magoar Molly ainda mais.

— Oi, Molly. Posso entrar? – Ele ensaiou encaminhado-se para a porta.

— Como vai, Molly? – Ele começou em tom baixo. — Convenções socias, por isso eu prefiro ser um sociopata. – Disse a si mesmo.

Resolveu que podeira surpreender Molly, pelo horário ela ainda estaria no St. Bartholomew. Invadiu o quarto dela, mas algo o chamou  a atenção. Pegadas molhadas saiam do banheiro da patologista e se estediam por todo o tapete presente no quarto, pela tamanho das pegadas, Sherlock sabia que eram de Molly.  Sentiu uma sensação estranha que ignorou.  Foi até o banheiro, não fazia muito tempo que a patologista estivera ali, no ar era perceptível uma leve essência de Jasmim. Voltou ao quarto novamente observando as pegadas. Seguiu o rastro que deu na cozinha, em uma parte perto do fogão, havia o que deveria ser um agrupamento de água. Imaginou que Molly poderia ter desmaiado, ignorando a sensação de agitação, caminhou lentamente para sala. Havia duas marcas, uma no sofá e outra na poltrona. Pela profundidade presente no sofá, quem havia sentando ali era mais pesado, e consequentemente maior. A marca da poltrona, bem como o cheiro presente nela, indicavam que Molly havia sentando ali.

Imaginou Molly, descendo as escadas possivelmente com seu roupão, já que não havia o visto no banheiro, e havia alguns fios de algodão azul na poltrona, algo teria chamando a atenção dela para cozinha, ela teria de surpreendido e desmaiado. Alguma coisa ou alguém a teria carregado, já que da cozinha para sala havia apenas uma pegada, uma bota ao que parecia tamanho 44. O que explicava a marca no sofá. Seria necessário um homem, ou uma mulher, mais forte que a média para levantar Molly e a colocar sentada na poltrona.

— Mycroft, preciso de ajuda.

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⏰ Last updated: Jul 28, 2017 ⏰

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