How I Was Before You

Someone As You

"Às vezes volto no tempo só para lembrar de como eu era antes de você, que se você não aparecesse naquele café e trombasse comigo, eu continuaria sendo aquela menininha assustada com medo de tudo e de todos, completamente perdida no mundo. Se você não se sentasse comigo naquela mesa depois de insistir para me comprar um café novo, eu continuaria sofrendo e chorando sozinha pelos cantos, sem compartilhar o que eu sentia com ninguém. Se você não puxasse assunto e não perguntasse o que uma moça bonita estava fazendo naquele lugar, eu continuaria escrevendo poemas tristes e me colocando pra baixo, continuaria me iludindo e me rebaixando. Se você não se aproximasse, eu continuaria deixando todos passarem por cima de mim. Se você não me fizesse sorrir, eu continuaria me afundando, continuaria tendo crises existenciais, choraria com ou sem motivo, choraria por estar feliz, brava, triste ou só por estar com vontade de chorar. Se você não me fizesse confiar somente nas pessoas certas e não me fizesse confiar em você, eu continuaria guardando minhas dúvidas e sentimentos, confusos ou não. Se você não me convidasse para um encontro, eu continuaria não me sentindo boa o suficiente para nada nem ninguém. Se você não me convencesse do quanto eu sou bonita, eu continuaria desistindo de fazer algumas coisas ou de sair para alguns lugares pelo simples fato de não me achar qualificada. Se você não me fizesse subir em um palco para cantar e tocar violão, eu continuaria achando minha voz horrível e desistiria de tocar violão. Se você não lesse meus poemas e não elogiasse a minha escrita, eu continuaria me escondendo e continuaria pensando em abandonar as minhas histórias. Se você não chegasse de surpresa na minha casa e não fizesse uma maratona de filmes comigo, eu continuaria subestimando o valor da amizade. Se você não confiasse em mim e no meu potencial, eu continuaria não me achando capaz de nada. Se você não me apresentasse para seus amigos e família como sua melhor amiga e seu anjo, eu continuaria achando que você tinha vergonha de mim. Se você não entrasse naquele dia de inverno na minha casa, não percebesse que eu estava chorando e não me fizesse falar o que estava acontecendo, eu continuaria guardando meus medos e remoendo as minhas dúvidas. Se você não presenciasse uma das minhas crises existenciais, eu continuaria sem saber o meu valor, continuaria me achando louca por pensar coisas que para outras pessoas não têm sentido nenhum. Se você não me mostrasse que eu era única, eu continuaria me sentindo um nada. Se quando você voltasse de viagem você não me procurasse, eu continuaria me achando substituível e continuaria achando que você já tivesse me esquecido. Se você não tivesse me pedido em namoro, mesmo eu tendo te alertado que não era a pessoa certa para você, eu continuaria sem saber o significado da palavra amor, continuaria sem saber o que é amar, sem saber os sentimentos que eu tenho por você. Se você não se declarasse e não pedisse a permissão dos meus pais para me namorar, eu continuaria sem me sentir importante. Se nós não tivéssemos brigado, eu continuaria sem saber o quanto as palavras "confiança e companheirismo" são fortes, continuaria sem saber que o amor é maior que tudo e que têm certas coisas que são essenciais para um relacionamento. Se você não tivesse sofrido um acidente de carro, eu continuaria sem saber o que é se preocupar de verdade com alguém, continuaria sem saber o significado da palavra preocupação. Se você não tivesse se recuperado, eu continuaria sem saber o real significado da palavra alívio. Se você não tivesse me mostrado que cada momento é único, eu continuaria vivendo a vida por viver, sem me importar com as coisas e pessoas além de mim, continuaria sem viver com intensidade, continuaria sem aproveitar todos os momentos, por menor que ele fosse. Se você não me fizesse uma festa surpresa de aniversário, eu continuaria sem me sentir amada. Se você não tivesse ido na minha formatura, eu continuaria sem saber o quanto é bom dividir os meus momentos de felicidade com outras pessoas. Se você não tivesse ficado feliz em alguns momentos, eu continuaria sem saber como é bom ficar feliz por causa do outro. Se você não tivesse ficado triste, nem tivesse chorado, eu continuaria sem saber o quão doloroso é ver a pessoa que você ama triste ou chorando. Se você não tivesse me aturado por vários meses, eu continuaria sem saber o quão bom é ter alguém que te ama ao teu lado todos os dias. Se você não tivesse viajado, eu continuaria sem saber como é ruim se despedir e o quanto isso dói. Se nós não tivéssemos comprado a nossa casa, eu continuaria sem saber o que é dar duro para conquistar alguma coisa. Se você não tivesse dito que achava que nós não estávamos mais dando certo, eu continuaria sem saber o que é fazer de tudo para alguma coisa funcionar ou voltar a ser o que era antes. Se você não tivesse passado uma noite fora de casa sem me dar uma justificativa, eu continuaria sem perceber o quanto eu amadureci em pouco tempo. Se você não tivesse saído de casa em meio a uma discussão, eu continuaria sem saber que voltar no tempo às vezes é bom, e às vezes é ruim, só depende de mim. Se você não me fizesse enxergar o meu erro, eu continuaria sem saber que um pedido de desculpas, às vezes, é o suficiente e tem o "poder" de melhorar várias coisas. Se você não tivesse ficado quieto de mais quando voltou de um encontro com os amigos, eu continuaria sem saber que nem sempre silêncio significa paz, às vezes, nesse silêncio você abre uma cicatriz que foi difícil de ser fechada e esse silêncio é o suficiente para você entrar em um conflito interno, onde você fica em dúvida se conta para a pessoa amada ou não. Se eu não tivesse saído com as minhas amigas, eu continuaria sem saber como é bom se encontrar com pessoas que me fazem bem. Se você não me levasse para fazer um piquenique, eu continuaria sem saber como é ficar de bem com a vida. Se você não tivesse me tirado um pouco dos estudos, eu continuaria sem saber o que é esvaziar ou descansar a mente. Se você não tivesse me levado para andar no parque, eu continuaria sem saber o que é ter paz. Se você não tivesse passado aquele dia dos namorados comigo, eu continuaria sem saber o que é dar o melhor de si para agradar alguém. Se nós não tivéssemos nos beijado de baixo da chuva, eu continuaria sem saber o que é viver uma cena clichê de filme ou livro. Se você não tivesse me pedido em casamento eu continuaria sem saber o que é ser feliz de verdade, continuaria sem saber o significado da palavra felicidade. Se nós não tivéssemos organizado aquele jantar para anunciar o noivado, eu continuaria sem saber o que é ser parabenizada por ter dado um grande passo na minha vida. Se você não tivesse me apoiado quando eu perdi o nosso bebê, eu continuaria sem saber o que é ter um porto seguro, continuaria sem saber o quão reconfortante é ter uma pessoa para recorrer sempre que precisar, continuaria sem saber como é bom ter alguém sempre te esperando de braços abertos para te dar o melhor abraço do mundo, continuaria sem saber que um dos melhores lugares do mundo é nos braços de quem você ama, continuaria sem saber que palavras de conforto podem te tirar de uma possível depressão, continuaria sem saber o quão bom é quando um sentimento é recíproco. Se você não tivesse me levado para viajar, eu continuaria sem saber como é bom dividir o seu conhecimento sobre algo com outra pessoa, continuaria sem saber como é bom conhecer lugares novos com outra pessoa. Se você não tivesse me levado para um jantar a luz de velas, eu continuaria sem saber que as coisas mais simples podem ser as melhores coisas e as coisas mais românticas. Se você não me levasse para assistir aquele filme, eu continuaria sendo a única das minhas amigas que nunca foi ao cinema com o namorado. Se eu não tivesse discutido com você, eu continuaria sem saber como é ruim falar algo ou tomar alguma atitude que vá fazer você se arrepender depois, continuaria sem saber o significado da palavra arrependimento. Se você não tivesse ido atrás de mim naquela noite, eu continuaria sem saber como é bom ter o seu próprio herói, continuaria sem saber como é bom chamar alguém de herói. Se nós não estivéssemos noivos, eu continuaria sem saber como é ficar muito ansiosa para alguma coisa, continuaria sem saber como é tomar a liderança de algo grande para fazer dar tudo certo, continuaria sem saber como é ficar praticamente louca organizando algo. Se nós não tivéssemos subido ao altar, eu continuaria sem saber como é bom ouvir alguém falando que te ama, principalmente, quando a pessoa fala para todos em alto e bom som o quanto ele te ama. Se nós não tivéssemos ido para a lua-de-mel, eu continuaria sem saber que uma viagem pode ser muito mais do que romântica. Se você não tivesse me levado para jogar boliche, eu continuaria sem saber o que é se divertir de verdade. Se você não tivesse me levado para ver o pôr-do-sol, eu continuaria não dando importância para a beleza da natureza, continuaria sem notar as lindas paisagens que ela produz e em como isso pode melhorar o meu dia e, às vezes, influenciar no meu humor. Se você não tivesse me dado o melhor e mais belo presente do mundo, eu continuaria sem sentir um dos melhores amor do mundo, continuaria sem sentir um dos amores mais sinceros do mundo, continuaria achando que eu nunca conseguiria formar uma família. Se você não estivesse comigo na hora que a nossa filha nasceu, eu continuaria sem saber o real significado da palavra emocionante, continuaria sem saber que a felicidade pode ser tão grande ao ponto de me fazer chorar de emoção. Se você não fosse comigo levar a Sky no primeiro dia de aula, eu continuaria sem saber como é ruim deixar o seu bem mais precioso nas mãos de outra pessoa. Se você não tivesse me ajudado a cuidar e criar a Sky, eu continuaria sem saber o quão bom é sentir orgulho de alguém, continuaria sem saber o quão bom é acompanhar o crescimento de alguém, ver essa pessoa criando as primeiras amizades e dando os mesmos passos que você deu, continuaria sem saber como é bom ser o porto seguro de alguém.

Se você não aparecesse no meu caminho nada disso teria acontecido, eu não seria a pessoa que eu sou hoje, e mudei para melhor por sua causa. Muito obrigada por ser meu anjo, minha luz, meu herói, meu porto seguro, o amor da minha vida, meu amante, meu parceiro, meu melhor amigo, meu companheiro, resumindo tudo, obrigada por ser meu. Você sabe que pode contar comigo assim como eu posso contar com você, você pode recorrer à mim assim como eu sei que posso recorrer à você. Eu te amo mais que tudo nesse mundo, te amo infinitamente, te amo eternamente e é por isso que eu lhe escrevi essa carta, para mostrar como eu seria se não te conhecesse, como eu era antes de você, meu grande e único amor, Matheus Santana.

Ass:

Melanie Oliveira "

Melanie termina de ler a carta que entregou ao seu marido meses antes, em uma espécie de altar que está localizado estrategicamente em um lindo campo. O local possui algumas cadeiras que estão sendo utilizadas por parentes e amigos próximos, que dão o máximo de apoio à linda mulher que tenta em vão cessar suas lágrimas. A ocasião poderia ser mais alegre se o campo verde e bem cuidado não comportasse inúmeros corpos sem vida, lápides e caixões, todos os presentes choram e partilham da mesma dor, dor essa que não chega aos pés da dor que a recente viúva sente.

Os últimos dois meses foram os mais dolorosos da vida dela, ver o marido a deixando aos poucos depois de vários anos juntos por causa de uma doença não identificada. Pouco antes de receber a notícia que Matheus tinha pouco tempo de vida, ela escreveu a carta e lhe entregou, pois sentia-se agoniada, sufocada, com um pressentimento ruim e sentiu necessidade de lhe falar tudo o que sentiu e ainda sentia por ele e que ele era, é e sempre será seu anjo da guarda. A notícia os abalou e fizeram de tudo para aproveitar os últimos dias juntos, não contaram sobre a doença para a Sky, que hoje tem oito anos.

Melanie desceu do altar e deu a vez para os outros convidados, enquanto engolia o choro e se aproximava da filha, que estava brincando de boneca completamente alheia a tudo o que ocorria ao seu redor.

- Sky, meu amor, posso falar com você um minutinho? – A mãe pergunta com um sorriso triste se preparando psicologicamente e emocionalmente para o que estava por vir.

- Pode, mamãe.

- Quero que me escute primeiro e só depois faça perguntas, tudo bem? – A pequena menina assentiu estranhando a pergunta e os olhos lacrimejados da mãe, a mesma que tentava disfarçar e ser forte.

- Lembra que eu te contei que há vários anjinhos da guarda nos protegendo? E que nós não conseguimos vê-los, mas podemos sentí-los? Que as estrelinhas que aparecem durante a noite no céu são anjos? – Mesmo sem saber onde a mãe queria chegar Sky continuava assentindo tentando encontrar uma lógica em tudo aquilo. Melanie respirou fundo e engoliu em seco.

- Seu papai virou uma estrela, meu amor. Desculpe-me por não ter feito nada, mas eu tentei, juro que tentei. Perdoa a mamãe. – A menina apenas abraçou a mãe o mais forte que seus pequenos braços lhe permitiam enquanto absorvia a informação e os olhinhos se avermelhavam e enchiam de lágrimas.

- Eu sei que você não teve culpa, mamãe, não tem motivo para se desculpar ou pedir perdão, mas mesmo sem motivo eu te perdôo. – Ambas já desmoronavam em lágrimas, essa fala foi o estopim para a doce Melanie chorar mais ainda e aquela dor aguda que apertava e destroçava seu coração, fê-lo doer mais ainda.

Sky se afastou da mãe com uma rosa branca nas mãos, a mesma que foi entregue a filha quando elas se separaram. Melanie se mantinha no lugar e escutava a filha mesmo de longe.

- Papai do céu, eu sei que meu papai era um homem bom e fazia minha mamãe feliz, mas sei também que o Senhor precisava dele por algum motivo. Ele vai ser um bom anjo da guarda, porque ele sempre fazia o bem para as pessoas. Papai do céu, por favor me ajuda a cuidar da minha mamãe, sei que ela ama muito ele e sente sua falta, mas não gosto de vê-la triste. Obrigada por me ouvir.

Horas depois a lua apareceu, redonda e brilhante, uma noite de lua cheia com direito a um céu completamente estrelado, como se fosse um sinal que Matheus estava olhando e protegendo elas, um sinal que representasse uma resposta ao pedido da pequena Sky.