Capítulo 35: Mirian

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Volto-me para a ruivinha e me aproximo, sentando-me em minha cama.

— Certo, precisamos fazer alguma coisa que eles não tenham planejado. Algo muito além do que imaginavam.

Ela pisca e sorri.

— Gosto dessa Mirian.

— Eu sei, você tem que ver o que ela é capaz de fazer entre quatro paredes.

Lya ri, encarando-me com certa doçura. Ficar confinada muda as pessoas, né nom?

— Não me provoque.

— Por que, está com medo de se render aos meus encantos? — retruco.

Os olhos dourados da ruiva me analisam por um curto espaço de tempo antes de desviarem. Foi tempo suficiente para encontrar ali algo como... dúvida?

— Sem chances — digo, chamando sua atenção. — Você não está questionando sua sexualidade, está?

— Não! Claro que não! É só que... — revira os olhos, levantando-se. Anda em círculos pelo seu cubículo, o que quase me deixa tonta. — Porra, Mirian, eu não sei mais o que é sentir atração, não sei mais o que é sentir carne na carne e... bem, você é a coisa mais próxima de mim.

Arqueio as sobrancelhas. Eu nunca vi Lya tão fragilizada dessa forma. Não só pela falta de sexo, mas é algo a mais... seus sentimentos estão gritando nessas poucas palavras. Eles clamam por atenção. E ser uma de nós torna a vida bem complicada, afinal, muitas vezes nos abstemos de nos envolver com alguém por medo de fazê-la sofrer, caso não voltemos.

Ok, não foi bem o meu caso, já que me envolvi com dois, olha só. Tudo bem que Eric é um Caçador como eu, então nós meio que estamos no mesmo barco. Mas Rita, a coisa é diferente. O dia em que a vi em meio aos pacientes, tão prestativa e forte ao encarar as dúvidas, ameaças, mortes... e ao mesmo tempo tão frágil dentro de si mesma... Isso me chamou atenção, isso fez eu me aproximar em minhas folgas. Ela me mostrou o que realmente sente e a quão grata é por tudo que fizemos no último ano. E sou ainda mais grata por permitir que eu desencavasse uma Rita que gosta da vida, que, mesmo com as dores, não deixa de sobreviver... porque é isso o que fazemos diariamente.

Mas agora, olhando para Lya, vejo que ela vem podando suas vivências, até demais. Nós já passamos fins de semana juntas, conversando, vendo filme ou caçando renegados, e eu acreditei que isso era vida para ela. E talvez eu esteja certa, mas ainda falta algo para fazê-la transbordar. Lorenzo, lembro-me. Existe ele em sua vida, mas não de forma física, de forma carnal... Pode parecer bobagem, gente, mas o corpo também sente nossos problemas emocionais e, volta ou outra, precisa de uma manutenção.

— Você está carente, deve ser isso — constato. A ruiva volve para mim, a tez franzida. — Há quanto tempo você está sem... — gesticulo.

— Ahn... dois anos? — estala a língua.

— Explicado.

Lya suspira, voltando a se sentar na cama, frustrada.

— Você acha que é só isso mesmo?

— Eu não tenho que achar nada, Lya, é você quem deve ter uma resposta. Mas, olhe, independente do que você se der conta, eu estarei aqui por você, como sempre. Confesso que eu amaria ver você dando uns pegas nas minas, também — rio, fazendo-a me acompanhar —, porém, existem momentos em que estamos confusos, e é normal. Você tem vivido comigo tanto tempo que... bem, pode ter ficado confusa. Talvez se você experimentar, descubra.

— Mas isso já não me classificaria...?

— Lya, experimentar não define ninguém! Orientação sexual é como você se sente, muito além de se relacionar com o mesmo sexo, e isso só você pode definir.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Where stories live. Discover now