Capitulo 3 - Refúgio

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"Sem precisar me preocupar em te levar pra casa cedo. Enquanto eu tiver do seu lado não precisa mais ter medo."

Nos dias que sucederam nosso encontro na cafeteria, eu e Vitória nos vimos todos os dias. Eu estava de férias e ela aguardava o resultado de um vestibular na UFT que tinha feito há alguns dias pro curso de Farmácia. Fiquei surpresa quando ela me disse, enquanto caminhávamos numa praça próxima à casa dela, que tinhamos feito o mesmo vestibular. No fundo, a UFT era nossa esperança, mas o resultado sairia só dali dois meses. Decidimos não falar sobre a graduação, mas falar sobre o curso.

- Vi... - perguntei, enquanto brincava com sua mão durante a caminhada - Por que Farmácia?

Ela soltou aquela risadinha gostosa, deixou minha mão e passou seu braço em volta do meu ombro - Então, eu quero ajudar as pessoas, sabe Ninha, quero fazer com que um medicamento que eu produza, ou uma recomendação minha, ou até um suporte que eu dê dentro de um estágio faça com que a vida de algum paciente seja melhor.

Os olhos dela brilharam de uma forma linda enquanto ela falava do curso e fiquei até com um pouco de vontade de fazer, mas vocação é vocação.

Caminhamos, rimos e fomos conversando de uma forma bem descontraida, até que, no fim da praça, Vitória parou abruptamente e virou de costas pra direção em que estávamos andando.

- Que que houve, meu bem? - Ela estava de olhos fechados, os punhos cerrados e a respiração descompassada. - Vitória, o que ta acontecendo? - nesse momento ela começou a chorar e a unica coisa que eu soube fazer foi abraçá-la com toda minha força. Ficamos ali alguns instantes, até que ela se acalmasse. Fui caminhando com ela bem de vagar ate chegarmos num banquinho que havia ali. Aos poucos ela foi se acalmando e conseguiu falar comigo.

- Ninha, eu vi meu tio.

- Que tio, Vi?

- Tio Fábio. - Ao falar o nome dele, ela começou a chorar de novo mas depois conseguiu me explicar o que havia acontecido com relação a esse tio. Ele morou com ela, a mãe e as duas irmãs durante toda sua infância. Ele bebia demais e machucava muito elas.Foi, segundo ela, um período muito dificil. - O que ele ta fazendo aqui, Ninha? Ele disse que ia embora pra sempre. O que ele ta fazendo aqui?! Minha mãe e as meninas tão viajando! Por que ele ta aqui?! - Vitória chorava copiosamente e eu não conseguia fazer com que aquilo parasse.

- Eu to aqui contigo, Vi. Juro que nada vai te acontecer. - fiquei mais um tempo abraçada com ela e disse que a levaria pra casa.

- Não, não, não. Não quero ir pra lá. Ele vai... Não quero. - E quis chorar de novo.

- Tá, meu bem, calma. Você dorme lá em casa hoje e eu cuido de você, tá? A gente avisa sua mãe que ele tá na cidade e você fica lá comigo até elas voltarem, tá?

Ela se acalmou um pouco mais e, nesse momento, nos levantamos. Caminhamos bem de vagar por todo trajeto até minha casa. Nunca havia visto a Vitória desse jeito e, apesar de ser desesperador, não podia transparecer.

Quando chegamos em casa, expliquei pra minha mãe e ela prontamente disse que não havia problema e ainda faria um caldinho de feijão bem gostoso pra Vi. Mamãe sempre foi muito compreensiva com relação à minha sexualidade e isso era um alívio pra mim.

Levei a Vi pro quarto, dei um beijinho em sua testa e fui pegar uma roupa confortável pra que ela pudesse tomar um bom banho. O silêncio predominava o quarto mas eu estava feliz por saber que eu podia cuidar dela, nem que fosse só por alguns dias.

Depois do banho, fomos jantar e Vitória falou pouco, mas pelo menos comeu. Cheguei a rir baixinho quando pensei "pra uma pessoa tão magrinha ela come muito". Depois que terminamos, fomos pro quarto e mamãe foi pro dela. Coloquei How I Met Your Mother no computador, ajeitei a cama e me deitei com ela. Deixei o computador em cima de nós e a acolhi no meu abraço enquanto começamos um episodio, mas logo ela pediu pra eu tirar. Guardei o computador e a apertei bem forte no meu abraço.

- Ninha, eu to com medo... - Ela chorou baixinho e eu a apertei mais forte. Falei em seu ouvido:

- Vi, ele não vai machucar vocês. Eu te prometo. Vou cuidar de você enquanto eu puder. - por um instante pensei que essa promessa estava sendo exagerada, mas eu queria mesmo...

Fez-se um silêncio no quarto, quebrado apenas por uma fungada da Vitória, que nos fez rir. Dei um beijinho em sua testa e um selinho; ela sorriu e falou baixinho:

- Obrigada, Ninha. Faz tão pouco tempo que estamos vivendo isso, mas não sei o que seria de mim sem você pra acalmar meu caos.

Nesse momento eu apenas sorri. Aquele sorriso de orelha a orelha. Abracei-a com mais força, sussurrando também:

- Você é meu pedacinho de sonho, Vi. Cuidar de você é importante pra que eu fique bem também. Quero sempre ver esse sorriso aí, tá? - ela sorriu de novo, me deu outro selinho e se encolheu no meu abraço de novo. Ao perceber seu cansaço, falei baixinho em seu ouvido: - Agora, meu cheirinho, você vai descansar sem se preocupar com nada, tá? Prometo que vou cuidar do seu sono e nada vai acontecer. - Ela concordou com a cabeça e pegou no sono.

Apesar de ter tentado o dia todo acalmar a Vitória, alguma coisa em mim me deixava angustiada. Não era só aquilo. Alguma coisa a mais tinha acontecido nessa história e ela não quis me contar ainda. Decidi respeitar sua decisão e me preocupar apenas em cumprir minha promessa de protege-la, mas tinha algo muito errado em toda essa história e eu precisava descobrir... Precisava proteger meu dengo, nem que isso me custasse todo o tempo em que Vitória não estivesse comigo. Eu iria descobrir.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 12, 2017 ⏰

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