Buscando Inspiração

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Eu não sei o que escrever. Não tenho personagens, não tenho um título, não tenho um assunto. Não tenho uma história. Não consigo pensar em nada. Nunca tive um bloqueio tão grande. Por isso comecei a escrever a primeira a frase que passou pela minha cabeça, na esperança de que, enquanto escrevo meus pensamentos, uma história se forme na minha mente de forma mágica. Cheguei a pensar em retomar algum de meus antigos projetos, mas não me sinto inspirada para continuar eles.

Beatriz deitou a caneta na mesa e esfregou os olhos. Estava cansada, havia passado o dia inteiro encarando aquele caderno tentando ter alguma ideia. Nunca tinha sido tão difícil escrever. Sempre que começava a pensar em uma história não conseguia continuar. Não entendia o motivo. Estava separada há um ano e aparentemente, alguma coisa mudou dentro dela quando, na semana anterior, assinou os documentos oficializando a separação. Se tornou real. Pensou enquanto se levantava da cadeira.

Caminhou lentamente até a cozinha e, ao andar pelo corredor estreito, sentiu como se tivesse invadido a casa de um desconhecido. Como se aquela não fosse a sua casa. Estava silenciosa demais. Talvez fosse por isso que não conseguia se concentrar. Estava tão acostumada a escrever enquanto escutava seu ex-marido gritando com a televisão.

Passara o último ano escrevendo os dois últimos livros de sua trilogia. Por isso não teve problemas. Sabia exatamente o que estava fazendo, já tinha tudo planejado desde que começara o primeiro livro. Mas depois que terminou o último decidiu descansar um pouco e passar algumas semanas sem escrever. As semanas se foram e era hora de voltar ao trabalho.

Ao entrar na cozinha se deparou com o cômodo grande e espaçoso. Tudo estava organizado e limpo, mas isso não a impressionava há meses. Um dos prós de morar sozinha era que, agora, sua casa estava sempre organizada. Abriu uma das portas do armário e pegou algumas bolachas, não se daria ao trabalho de cozinhar naquela noite, não sentia muita fome.

Quando terminou de comer, voltou para a sala e ligou a televisão. Passou alguns minutos pulando os canais, tentando achar algo para assistir, mas desistiu. Percebeu que estava inquieta demais para assistir qualquer coisa. Aquele bloqueio a estava matando. Decidiu tentar dormir um pouco. Uma boa noite de sono poderia ajudá-la.

*

No dia seguinte, Beatriz estava em seu escritório encarando o caderno e com a caneta na mão. Já passava do meio-dia. Estava tentando escrever desde que terminara seu café da manhã. Tinha dormido bem e acordado confiante, mas foi apenas sentar na cadeira do escritório que toda sua confiança se esvaiu. Pensou que talvez precisasse de uma mudança de ambiente e foi para a sala de estar. Sentou no sofá e começou a escrever frases soltas, mas nada que pudesse ser o começo de uma história ou a formação de um personagem. Amaçou a folha e, em uma outra, começou a fazer o mesmo que fizera no dia anterior... Escrever seus pensamentos.

Aqui estou eu novamente. Sem saber o que colocar nesse papel. Não consigo nem ao menos criar um personagem! Nunca tive problemas com isso. Criar personagens sempre foi a parte mais fácil do meu trabalho. Não sei o que fazer. Sempre que tento começar a escrever minha mente se esvazia e fico sem ideias. Não entendo o que está acontecendo. Criar minha trilogia foi tão fácil... tão simples. Em um minuto estava tudo lá. Os personagens principais, o enredo e os lugares. Devo ter utilizado toda minha criatividade nesses livros.

Isso está se tornando um diário, pensou. Então se cansou. Pegou o caderno e a caneta e os colocou na mesinha de centro. Ela precisava se distrair. Foi para o quarto, trocou de roupa e pegou sua bolsa. Talvez conseguisse alguma inspiração se saísse de casa um pouco. Lembrou-se de uma praça, não muito longe de sua casa, onde ela costumava ir para passar o tempo.

Buscando InspiraçãoWhere stories live. Discover now