Capítulo único: Desde que seja portuguesa!

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Tirando esses eventos de tempos de festa tudo era muito calmo, tão calmo que nem mosca passava mais por lá. Eram sempre os mesmos clientes em busca de quase sempre as mesmas coisas. Mas ele gostava bastante, por exemplo, da senhora Margarete que ia lá pelo menos duas vezes no mês e lhe presenteava com um pacote de bolacha ou chocolate. Uma vez  lhe deu algo que, segundo ela, eram balas de menta, em seu carrinho haviam três pacotes coloridos, sendo um de menta e dois de morango, mas não eram balas. A coitada estava sem seus óculos nesse dia e foi uma situação um tanto embaraçosa. As até então balas eram camisinhas! Mas tudo foi resolvido e Arthur fez questão de depois comprar um pacote realmente de balas e dar para ela.

É, talvez nem tudo fosse tão calmo a ponto de ser um completo tédio, mas esses episódios eram raros de se acontecer.

Todo dia tinha a mesma rotina: acordar, enrolar na cama, se arrumar atrasado, tomar café dentro do ônibus, chegar no trabalho e fazer o de sempre.

Mas hoje Arthur estava a espera de uma nova briga! Era páscoa e ele havia ouvido um dos repositores dizer a Rafael que os ovos infantis estavam acabando e que a última caixa seria esvaziada naquele momento. Ele já podia ouvir os gritos e os choros das crianças jogadas no chão, fazendo birra porque os ovos do homem aranha tinham acabado, até que uma voz feminina lhe despertou de seu transe.

— O caixa está aberto? — A jovem em sua frente lhe sorria a espera de uma resposta com três ovos na mão.

— Anh, est... Está sim. — ele diz desconcertado por ter sido pego em outros pensamentos e pela jovem bonita que estava em sua frente.

— Então pode passar esses ovos para mim? — ela os coloca sobre a esteira do caixa.

— É claro. — Ele já ia passar o primeiro item quando se lembrou. — Nota fiscal paulista?

— Não, mas eu quero uma recarga da Oi de dez reais, por favor! — ela abre a carteira em busca do dinheiro.

Arthur coloca as informações da recarga no computador e pede para ela digitar seu número, enquanto ela o faz, ele a analisa. Ela devia ter no máximo vinte anos, tinha olhos castanhos, era baixa e corpulenta, seus cabelos ruivos eram cheios e ondulados, iam até a metade de suas costas. Mais uma vez, ela o despertou de seus devaneios.

— Acho que os papéis já saíram. — Ela diz apontando em direção a máquina ao lado de Arthur que estava com os papéis pendurados. Ele os retira, ficando com o que devia ser do caixa e entrega o dela.

— Obrigada, tenha um bom dia! — Ela sai e ele a segue com o olhar e só depois de perdê-la totalmente de vista volta a realidade e percebe o que havia feito: os papéis tinham sido trocados. Ele estava com o que devia ser do cliente, que estava com o número do celular e ela com o que devia ter permanecido no caixa. Sem saber ao certo o que fazer, ele olha para os lados e ao perceber que ninguém o estava observando, o guarda em seu bolso.

— Arthur! — Rafael grita atrás dele, ele sobressalta e automaticamente começa a pensar em milhares de desculpas para o que havia acabado de fazer. — O que é isso? Tá devendo para ficar tão assustado? — antes dele poder responder, o gerente continuou. — Já pode ir almoçar, o Murillo ficará em seu lugar. Hoje fizeram uma gororoba lá na cozinha, até que dá para matar a fome.

— Ah, não. Prefiro comer fora, não deu para trazer marmita hoje. — Era mentira. A comida do mercado era feita pelos próprios funcionários e realmente não era grande coisa, uma vez, fizeram uma sopa de feijão que era só uma água marrom. Era melhor nem dizer o que realmente parecia e ele estava com uma marmita sim dentro de sua mochila mas precisava sair para respirar e pensar sobre sua atitude.

Pegou sua carteira e foi em direção á uma loja que vendia coxinhas no copo, no caminho, pegou o papel que estava guardado no seu bolso e analisou o número que estava nele. Queria ligar, queria muito, mas ficou pensando o quão louco e errado aquilo iria parecer, e se ligasse, o que iria dizer?

Nota fiscal paulista Onde as histórias ganham vida. Descobre agora