Capítulo 1 - O Começo de Tudo

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Confesso que não queria sair. O resultado de vestibular sairia no dia seguinte, às 9h da manhã e gostaria muito de não estar com uma dor de cabeça horrível nesse dia. No entanto, Barbara, minha BFF não me deu opção. Disse que eu já tinha passado tempo demais estudando e precisava de um tempo pra mim. Com uma encheçao de saco dessas não tinha como dizer não.

Chegamos por volta das 22h no Pagodinho mais famoso de Araguaína, mas confesso, não estava empolgada, principalmente porque Babs chegou na festa e encontrou o boy. Ou seja, Ana Clara teve que que ficar sozinha com seu copinho de cerveja.

Eu estava tão mal humorada que não fiz nenhum esforço pra disfarçar. Me sentei numa mesa e olhei o celular algumas vezes. Depois de uns 20 minutos ali, fazendo vários nadas, Babs chegou na mesa em que eu estava, acompanha de uma moça que eu jurava conhecer e depois descobri que havíamos estudado juntas no ensino médio.

- Ninha, você se importa de fazer companhia pra Vitória? Meu boy quer me apresentar pra uns amigos e a amiga da Vi acabou não vindo. Você não se importa né?

- Não tem problema não. - senti que fui rude mas tranquilizei meus pensamentis quando Babs saiu e Vitoria começou a falar.

- Ana, você canta, não é mesmo? - fui pega de surpresa e só quando começamos a conversar foi que eu percebi quão lindos eram os olhos dela.

- Eu tento... Mas como você sabe? - indaguei.

- Mulher, eu te vi cantar a primeira vez numa competição da escola e sempre quis te chamar pra dizer isso. - e corou. Que amorzinho.

- Pois é, menina, eu canto. Mas é uma só paixão mesmo. Música não dá dinheiro não. - e rimos. O sorriso dela...

- Olha, posso te dizer que paixão foi uma coisa que eu senti quando te vi cantar... -Não respirei. Como assim? Como se ela estivesse lendo meus pensamentos, começou a se explicar. - Calma, deixa eu explicar direito... Você cantou uma musica do Jota Quest... Aquela... Como chama... E se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra la que eu vou... - cantarolou.

Nesse momento, meus amigos, meu queixo foi aos pés e voltou. A voz dessa menina foi uma das coisas mais lindas que eu ouvi em muito tempo.

Conversamos mais umas horas e nos pegamos completamente a vontade uma com a outra. Já não estavamos na mesa, fomos pro lado de fora da festa e continuamos a conversar e beber, mas agora sentadas num banco de madeira. Conhecer a Vitória nesse momento foi maravilhoso. Eu precisava de um anestésico pra todos os estresses que o período pré vestibular me trouxe.

- Vi, eu to amando ficar aqui com você, mas já passa das 2h e eu preciso ir pra casa... - enquanto eu falava, ela tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.

- Amanhã é sabado, Ninha, não vai não. Fica só mais um pouquinho. - Eu nem conhecia aquela menina mas não tinha forças pra contestar aquele pedido... Aquela voz manhosa...

- Ta bem... Mais meia hora, tá? - Foi então que ela abriu aquele sorriso de orelha a orelha e me abraçou pelo ombro. Um abraço de gratidão e carinho, o qual eu retribui.

O clima estava muito gostoso, a conversa com ela era leve, não tinha nada que não pudéssemos falar. Parecia que éramos amigas de longa data. Foi instantâneo. Apesar de toda meiguice da situação... Confesso que já não conseguia conversar com Vitória olhando nos olhos. A boca dela me parecia muito atrativa, mas apesar do papo maravilhoso, ela não havia me dado nenhum indício de que estava sentindo a mesma atração. Diante disso, meio que caí na real e de forma abrupta, depois de uma instante de devaneio ao pensar na maciez do toque dos lábios dela, me levantei e disse que precisava ir embora. Disse meia hora mas já passava das 3h da manhã. Como já havíamos trocado telefones, não tinha mais razão pra não ir embora...

- Ta uma delícia aqui contigo, Vi... Mas eu preciso ir.

- Ah... Ta. Tudo bem. A gente se fala depois então. Boa sorte no vestibular.

Esperei mais um breve instante pra ver se ela levantaria pra me abraçar, mas ao ver que isso não ia acontecer, me virei e comecei a caminhar.

- Burra, Burra! Como você pode pensar que ela ia estar afim de você? Ainda bem que sua casa é aqui do lado porque imagina a vergonha ter que esperar o taxi la com ela? Ela é hetero, com certeza. Você ficou afim de uma hetero! Mas não é surpresa né Ana Clara. Você nem levanta da cama de manhã se não for pra se fod...

- Ana! - Ouvi uma voz me chamar num tom nao muito alto mas que deu pra eu ouvir assim que destranquei a porta. Era ela.

- Vitória? Que que houve? - Estava tão concentrada em me martirizar mentalmente que não ouvi quando ela me chamou.

- Você esqueceu uma coisa. - De imediato toquei meu bolso de trás e a bolsa na lateral do corpo. Estava tudo ali. Confusa ao pensar que tinha esquecido algo importante, não tive muito tempo pra pensar quando ela se aproximou da porta da minha casa e me puxou pra dentro, me encostando na parede da sala. Uma das mãos dela tocava meu rosto e a outra me puxava pela cintura, contra seu próprio corpo, ao mesmo tempo que me pressionava contra a parede. Eu não conseguia pensar, apenas sentir as borboletas no meu estômago e o coração acelerado. Por um segundo, ao perceber que ela ainda não havia me beijado, abri os olhos e os meus emcontraram os dela. Naquele momento, com nossas respirações descompassadas se cruzando, senti seus lábios tocando os meus. Imaginei que seria um beijo doce, e foi, mas não foi só isso. Foi um beijo quente. No primeiro toque de sua língua com a minha, meu corpo começou a pedir mais do dela. O beijo ficava mais quente, nossos labios cada vez com mais desejo, mas senti que iria sair de mim quando ela mordeu meu lábio inferior mas parou de me beijar. Ficamos com os rostos próximos por um breve instante, então ela aproximou seus lábios do meu ouvido e sussurrou:

- Foi isso que você esqueceu.


Foi então que ela me soltou, abriu a porta e saiu. Fiquei ali, parada, o corpo tentando absorver o que acabava de acontecer, mas não conseguia. Eu nem conhecia aquela menina e ela já tinha feito um estrago tão grande em mim? Fiquei pensando nessas coisas durante o proces
so de me trocar e ir deitar. Naquela noite dormi pensando na Vitoria, no entanto, acordei com a notícia de que passei no vestibular. Eu ia fazer medicina em Minas Gerais e a Vitória estaria aqui em Araguaína. E agora?

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