III. A Sala Escura

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Nein! ─ Ele negou prontamente.

Aos poucos ouviu as batidas do coração desacelerarem. Era estranho poder ter a noção do próprio medo em alto som. Engoliu em seco e se recostou, não tinha para onde fugir e sabia não poder quebrar o contracto ou iria mais ao fundo do que alguma vez esteve. Não o viu, mas sentiu como as rachas laterais do seu vestido deixavam suas coxas à mostra, percebeu que ele a poderia olhar sem algum pudor.

─ Estou nervosa. ─ Deixou as palavras escaparem de sua boca, sem saber para onde olhar, porque ele poderia estar em qualquer lugar daquela Sala Escura. Que tamanho aquela Sala teria? Seria grande ou pequena? Estaria decorada ou só havia aquela cadeira que estranhamente se moveu sem que Ruby pudesse raciocinar. O encosto cedeu para trás lhe colocando numa posição quase deitada.

─ Não fique. ─ A voz ao mesmo tempo que a assustava, fazia com que ficasse relaxada pela forma como era flexionada, cheia de uma ternura fria. Ou Ruby é que não conseguia descrever. ─ Alguém até agora lhe fez algum mal?

Ela não conseguiu responder, mas meneou a cabeça em negativo sem saber se ele iria ver. Tinha as folhas espalmadas contra o peito que subia e descia de forma um pouco agitada.

─ Tom às vezes tem alguma falta de modos. Es tut mir leid. ─ Se lamentou. ─ Esteve muito tempo fora do convívio pessoal.

─ Quem é você? ─ Ruby precisava saber.

─ Sem perguntas, Mein Gott! ─ Ele exclamou. A voz fez o peito dela congelar. Principalmente pelo sotaque que beirava ao cruel. ─ Sabe para que está aqui, não sabe?

─ Para ler, para ler! ─ Respondeu em seguida, precisava se acalmar de uma vez.

─ Então leia.

Ficaram em silêncio. As pequenas mãos dela tremiam sem parar enquanto ajeitava as folhas, os olhos pareceram embaciados até conseguirem focar nas letras. Estava com receio da voz sair esganiçada, mas sabia que quanto mais rapidamente terminasse a leitura, mais rápido saberia se poderia ir embora dali.

─ Não lhe foi dado um orçamento para preparar o seu conto? ─ Dark quebrou a mudez que se tinha instalado na Sala. Salve as batidas do coração dela que pareciam ter encontrado um ritmo mais normal.

─ Foi. ─ Respondeu sem compreender aonde ele poderia querer chegar. Queria se sentar numa posição mais recta, mas parecia que não tinha controlo nem mesmo da cadeira onde estava.

Dann, por que me aparece com folhas simples sem nenhum interesse? ─ Não soube decifrar se a voz dele estava zangada, ou se o tom usado era mais rude. Podia jurar que estava sentado, mas conseguiu escutar o Toc! Toc! Da mão dele a bater repetidamente com a bengala contra o chão, demonstrava alguma impaciência.

─ Eu...

─ Leia!

Ruby respirou fundo por alguns instantes e entreabriu os lábios devagar, antes de começar a sua leitura. Não estava confortável, essa era a verdade e Dark conseguia enxergar isso com toda facilidade do mundo. Não só isso, como via o tufo de cabelo cacheado que se espalhava contra o encosto de cabedal. Os lábios pareciam ter sido desenhados com pincel, eram bem contornados e aquele batom encarnado era brilhante de um jeito que lembrava calda de morango. Tinha o rosto redondo, lembrava uma criança com o nariz pequeno arrebitado e os olhos quase rasgados com pestanas abundantes, em circunferências que quase tocavam nas pálpebras. O vestido encaixava no corpo pequeno, era baixinha e mesmo os saltos altos eram de pouca ajuda. Tinha seios redondos e médios que se notavam por trás do tecido de seda, e a pequena corrente fina de ouro que desaparecia no meio deles, davas asas a qualquer imaginação.

DILACERADO [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now