Eu apenas gostava de sentir o seu toque, saber como é ser amado por ela, poder vê-la e que este meu problema não lhe é problema algum.
Sinto raiva de mim mesmo por ter nascido assim!
A CEGUEIRA é algo que nunca me ajudou na vida... As...
Estou sentado no café a beber a minha meia de leite como costume. Todas estes simples momentos da minha rotina já os faço facilmente.
Ouço o som dos seus sapatos a bater no chão velho do café, porque o mesmo já se encontra aberto à bastantes anos. Ouço-a aproximar-se.
- Vai desejar mais alguma coisa, senhor?
Eu queria poder responder, mas as palavras não saiam. Ela deve pensar que para mais de ser cego devo ser mudo. É a primeira vez que ela fala para mim. Isto não pode ser real. Como é que ela sabe que eu existo? Não sejas idiota Luke! Ela trabalha no café é óbvio que te vê aqui todos os dias e pensa que és a pessoa mais aborrecida do mundo por passares aqui maior parte do teu tempo. No entanto, mal ela sabe que todo o meu tempo passado aqui é totalmente dedicado a ela. Todo o tempo que passo aqui é apenas para ouvir a sua voz, ouvir os seus suspiros e os seus passos. Sei de cor o tom da sua voz...mas apenas gostava de a ver. Sei que isso é um sonho impossível mas que não deixo de sonhar.
Gosto de a ouvir falar com os velhotes que vêm aqui falar da sua vida, beber o seu café e ler o jornal. Ouço claramente a sua voz doce e simpática a falar com eles... ela parece-me tão feliz. Ela está aqui todos os dias... digo-o eu que também cá estou. Acho que é exatamente isso que ela deve pensar de mim: que sou apenas um jovem velho. Ok, eu sei que isso não fez muito sentido, mas eu sou como eles... venho para cá todos os dias beber a minha meia de leite com gelo e com um pouco de chocolate em pó; não venho ler o meu jornal, mas venho ouvi-la; não venho falar, porque apenas com ela quero trocar palavras mas nem para isso tenho coragem. E o meu amor é isso. Quando somos jovens o amor pode ser tão irreal e tão traidor,que, no fundo, a juventude se torna mais solitária que a velhice.
- Está a ouvir-me?- perguntou ela com a sua voz serena.
-Aaah... sim...-respondi finalmente.
- Ah, então quer alguma coisa?
-Não, não é isso. Eu estou a ouvi-la.
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