XXII

20 1 0
                                    


Enquanto decorriam todas estas conversas na sala de visitas e nos aposentos da princesa, uma carruagem com Pedro, enviada para o trazer, e Ana Mikailovna, que entendera por bem acompanhá-lo, penetrava rio pátio da residência do conde Bezukov. No momento em que o carro deslizava maciamente por cima da palha estendida debaixo das janelas. Ana Mikailovna, que procurava consolar o companheiro, verificou que ele adormecer,—, encolhido no seu canto e acordou-o. Pedro, tendo voltado a si, apeou-se atrás de Ana Mikailovna, e só então se lembrou da entrevista que ia ter com o pai moribundo. Tinha notado que a, carruagem parara não junto da escadaria nobre, mas em frente da escada das traseiras. No momento em que punha os pés no chão, dois homens com aspecto de comerciantes acolheram-se apressadamente à sombra da parede.

Enquanto se deteve. Pedro pôde ver na sombra, de cada lado da entrada, outros homens do mesmo género. Mas nem Ana Mikailovna, o trintanário, ou o cocheiro, que não podiam ter deixado de dar por eles, lhes prestaram a mais pequena atenção, «Naturalmente, tem de ser assim», decidiu de si para consigo, e lá foi na peugada da sua condutora. Ana Mikailovna, em passinhos rápidos, subia a estreita escada de pedra, fracamente iluminada, chamando Pedro, que ficava para trás: embora este não compreendesse porque lhe era absolutamente indispensável apresentar-se junto do conde, e muito menos ainda porque tinha de subir pela escada de serviço, a segurança e a pressa de Ana Mikailovna persuadiram-no da urgência do que ia fazer.

A certa altura ia sendo derrubado por um grupo de homens, carregados com uns baldes, cujas grossas botas ressoavam no chão. Mas eles encostaram-se à parede para dar passagem aos visitantes sem mostrar qualquer surpresa.

— É este o caminho para os aposentos das princesas? — perguntou Ana Mikailovna a um deles.

— É — replicou um dos lacaios, numa grossa voz atrevida, como se naquela altura tudo fosse permitido — a porta à esquerda, minha senhora.

«Talvez que o conde não me tenha mandado chamar», pensou Pedro na altura do patamar. «Era bem melhor eu ir para o meu quarto.»

Ana Mikailovna deteve-se, para que Pedro a pudesse alcançar.

— Ah!, meu amigo! — exclamou ela, pegando-lhe num braço, como tinha feito ao filho nessa mesma manhã, — Pode crer que sofro tanto como o Pedro, mas precisa de ser homem.

— Realmente, era melhor eu não ir — disse Pedro, olhando para ela através das lentes das lunetas, com um ar afectuoso.

— Ah!, meu amigo, esqueça-se das injustiças que lhe fizeram, lembre-se que seu pai.., está talvez na agonia. — Soltou um suspiro.— Gostei logo de si como se fosse meu filho. Confie em mim. Pedro. Não me esquecerei dos seus interesses.

Pedro não compreendia nada; o mais claro para ele era pensar que as coisas deviam ser assim, e seguiu docilmente Ana Mikailovna, que já abria a porta.

A porta dava para o vestíbulo dos aposentos das traseiras. O velho criado das princesas estava sentado a um canto a fazer meia. Pedro nunca entrara naquela parte da casa, ignorava mesmo a existência de tais dependências. Ana Mikailovna perguntou pela saúde das princesas a uma rapariga que trazia uma garrafa em

cima de uma bandeja, e que se tinha juntado a elos, chamando-lhe «minha cara» e «minha boa rapariga», e em seguida conduziu Pedro ao longo de um corredor lajeado. A primeira porta à esquerda que abria para esse corredor levava aos aposentos das princesas.

De tão apressada que ia — em circunstâncias daquelas tudo se fazia apressadamente— a criada de quarto que levava a bandeja com a garrafa não fechou a porta, e tanto Pedro como Ana Mikailovna, ao passarem, olharam involuntariamente para o quarto onde a princesa mais velha e o príncipe Vassili conversavam muito animadamente. Ao vê-los, este teve um movimento de impaciência e recuou; a princesa deu um pulo e fechou a porta com um gesto violento.

Guerra & PazWo Geschichten leben. Entdecke jetzt