-Seu pai iria gostar de te ver assim. Apesar de tudo, eu tenho que reconhecer que ele te amava e sempre quis seu bem. – Ela voltou a falar.

-A senhora não acredita mesmo que ele possa ser inocente de tudo que acusaram né?

Pela primeira vez perguntei diretamente sobre o assunto, aquele não era meu favorito e todas as vezes que ela já tentou abordar, eu desviava. Mas algo tinha mudado e eu achei que deveria ouvir o que minha mãe sabia, afinal, ela o conheceu mais do que eu.

-Eu não sabia nada desse caso. Nada. Mas eu conhecia muito bem seu pai pra saber que ele sempre andava envolvido em uma coisa ali, outra coisa aqui.

-Mas roubo... sequestro, trafico, formação de quadrilha, a senhora não acha que é demais não?

-Descobriram essas coisas depois que ele morreu. – Ela me explicou ciente daquilo que falava.

-Ou aproveitaram pra jogar toda a culpa em um morto, assim ficaria bom pra todo mundo, né.

-Ele não era santo, Joaquim, eu entendo que a imagem que você ainda tem dele, é a imagem de quando você tinha 10 anos, mas isso não é uma verdade. Eu sei que é difícil, mas tenta entender que foi ele que escolheu esse caminho independente de qualquer coisa. E não deixe que isso interfira na sua vida.

Pensei no que ela estava me dizendo ali agora, seu conselho de mãe pareceu bastante preocupado e eu me esforcei pra entender. Ela não queria de jeito nenhum me ver tomando os mesmos rumos que viu meu pai tomando, por isso, tentava a todo custo colocar juízo na minha cabeça. Essa parte eu conseguia entender, o que não encaixava de jeito nenhuma na minha cabeça, é que de uma hora pra outra meu pai, aquele que eu tinha uma imagem séria na cabeça, possa ter feito tudo aquilo que foi falado. Eu simplesmente me negava aceitar aquilo, mesmo que tudo tenha sido tido pela minha mãe. Mas, diferente das outras vezes, eu prometi a mim mesmo que estaria mais aberto a tudo que ouvi. Talvez meu plano, aquele que já estava quase esquecido mesmo, nem fizesse mais sentido.

Depois de ouvir mais uns três discursos da minha mãe, eu consegui me livrar daquilo e na primeira oportunidade fui embora. Eu queria tempo pra pensar, colocar as novas informações que tinha em ordem e embora a companhia dela e do meu irmão fossem aturáveis, eu queria ficar sozinho. Mas não foi bem isso que aconteceu assim que cheguei em casa e vi que tinha mais alguém ali:

-Como você entrou aqui?

-Qualquer um entra aqui, meu parceiro. Você deveria saber disso, já que é especialista em invadir estabelecimento dos outros.

-O que você quer, Ferrugem?

Perguntei ao ser enferrujado logo ali na minha frente, aquele apelido combinava perfeitamente com sua aparência sardenta e suja. Tanto que eu já nem me lembrava mais seu verdadeiro nome... Caio, Caíque, Carlos? Era algum desses.

-Tá precisando de dinheiro? Tenho um esquema aí qu...

-Valeu. – Interrompi. – Tô de boa.

A vida de bebidas e noitada tinha acabado assim que decidi que iria levar a sério a droga do colégio e pelo menos pegar o diploma, então, eu já não precisava de tanto dinheiro como antes.

-Qualé, o Joaquim topa tudo vai recusar um esquema dos bons? O que tá acontecendo com você, hein?

-Nada. – Dei de ombros indo pegar uma água e tentando desviar das suas perguntas.

-Os Albuquerques já fizeram a lavagem cerebral em você, né? Deve ser comum com todo mundo que se aproxima demais deles.

-Eu só não quero participar de nada agora, tá legal? Não tem nada a ver com o Théo ou o pai del...

-Como é que é? – Ele me interrompeu com um tom sarcástico. – O garoto tem nome pra você agora? Antes era só o viadinho, o moleque. Kim, você tá com um sério problema.

-Ferrugem, dá um tempo, valeu...

-Vem cá, aquele Kim do plano de vingança ainda tá aí? Sim, porque eu agora só tô vendo um mongolóide, fraco e inútil.

-Eu não fraquejei, tá legal... É só que as coisas mudaram de um tempo pra cá. – Respondi, torcendo inutilmente para que ele se desse por vencido e parasse de me encher com aquilo.

-Você se apaixonou, né. Droga, Kim, eu não imaginava que você podia ser tão idiota a ponto de deixar isso acontecer. Esqueceu de tudo que eles fizeram com seu pai, esqueceu de tudo que eles fizeram você passar quando ainda era criança?

Engrossou a voz, me olhando de cima a baixo e esperando alguma resposta, como se eu devesse alguma explicação.

-Não, não esqueci... mas eu descobri coisas de um tempo pra cá. Cara a minha mãe revelou que meu pai pode ter sido sim culpado dessas coisas, cara, é a minha mãe, ela com certeza sabe de mais coisas que eu. Sabe o que isso significa?

Completei, ignorando sua pergunta anterior, o que estava em jogo não era meus sentimentos, e que eu nem tinha certeza que existia, mas sim outra coisa.

-E daí? – Ele questionou e de inicio eu não entendi, mas depois ele voltou a falar. – E mesmo que seu pai não tenha sido tão inocente, ele era funcionário daquela empresa, que assistência você e sua mãe receberam depois que tudo aconteceu? Pelo que eu sei, o que eles fizeram foi estampar o selo de culpado na foto do seu pai e dar o caso como encerrado. Você e sua mãe praticamente foram enxotados da casa onde moravam por ser da empresa e não terem mais condições de pagar, isso foi certo? Eles não pensaram no filho que o homem tinha e que só tinha dez anos. Seu pai ser culpado não justifica tudo que eles fizeram depois.

-Ferrugem... – Comecei a falar, mas de novo aquela confusão me tomou. O que ele falava era verdade, mas os conselhos da minha mãe ainda estavam bem presentes na minha cabeça. – Eu não vou matar ninguém só porque meu pai fez coisa errada, se matou e eu não tive uma vida fácil depois disso.

Por fim, finalizei relembrando do que ele havia me sugerido alguns dias atrás.

-Claro que você não vai matar o molequinho, da pra ver na sua cara que não.

-Não começa com isso de novo. – Tentei ignorar sua provocação.

-Mas então como vai ser? Vai desistir assim, me encheu o saco por meses com isso pra tudo não dar em nada?

Ele voltou a me cobrar, sabendo que estava certo em fazer isso e estava mesmo. Por meses eu me empenhei em planejar algo, tentar ao máximo conseguir me aproximar daquela família e finalmente conseguir o que queria. Ele me acompanhou em tudo, varias vezes me ajudou, mas agora estava me vendo querer desistir de tudo.

-Não sei... – Respondi.

-E esse seu "namoro"? Já que você resolveu aceitar seu passado e seguir em frente, não faz sentido você ainda continuar com esse moleque então, né?

Jogou isso na minha cara como se a todo esse tempo eu estivesse deixando passar o obvio, talvez até estivesse mesmo, pois ainda não tinha pensado nisso. Meu namoro não era mais necessário se eu enfim tivesse decidido a deixar tudo pra trás. Isso era bom, era o que eu queria a um tempo atrás, não era? Então porque eu não conseguia mais me animar com aquela ideia? 

*****

Tá acabando gente 💔😔

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