Bailarina de gelo

Capítulo 1

Rond de jambe, jeté, tendu… Rond de jambe, jeté, tendu… para quem não esta acostumado a treinar ballet todos os dias, esses podem ser passos difíceis de serem executados. Para mim, que pratico desde os 5 anos, eles soam como andar, e tenho certeza que nunca vou esquecer de como se anda. Girar a perna, saltar, lançar a perna ao ar, podem até ser considerados passos simples, mas se feitos com um milésimo de segundo de atraso, podem diferenciar se você vai ou não para Columbia University com uma recomendação da melhor escola de dança do pais. Não que eu precise, porque já tenho uma vaga garantida lá a anos, mas e sempre bom saber que você foi perfeita o bastante para quererem que você faça melhor ainda.

A musica acaba , e Lívia Santiro, minha professora de ballet desde os 11 anos,  nos dispensa para um curto intervalo. Me direciono para o banco e estou pegando uma garrafa de água quando sou interrompida.

- Thalía, madame Diossa quer falar com você. – Carol me avisa com sua voz baixa e suave, referindo-se a nossa diretora

-Obrigada por avisar, com licença.

Carol nunca levantou a voz para ninguém durante as aulas, nem mesmo para a Vídia que vive menosprezando seu talento. Nunca entendi como alguém como ela possa ter alcançado um nível tão alto no ballet, não que ela seja ruim, longe disso , ela e uma das melhores da academia, mas para se ser bailarina é preciso de persistência, e isso é uma coisa que ela perde se disserem que não conseguira.

Bato na porta do escritório de madame Diossa e aguardo sua autorização para poder entrar. Assim que ouço um entre e abro a porta dou de cara com minha mais honrosa  concorrente. Vídia Mestilli é, com toda certeza, uma ótima bailarina, mas que tem o péssimo hábito de fazer qualquer coisa para conseguir o que quer. Ela estava sentada em frente a madame Diossa, em uma cadeira que ao meu ver era muito desconfortável, mesmo sendo belíssima.

-Thalía, que bom que você chegou. Entre e sente-se , por favor. Como vocês duas sabem, esse e o último ano de vocês aqui na  Academy of dance Copenhagen, e por esse motivo vocês estariam competindo por uma recomendação para a universidade que escolhessem. Depois de muito observar vocês duas pelos últimos meses, e conversar com a professora de vocês, eu escolhi a que mais se destacou na pratica do ballet.

Me manti impassível enquanto ela falava as palavras que já eram esperadas tanto por mim, quanto pela Vídia. Nos duas sabíamos que estávamos sendo avaliadas, vimos por anos as garotas mais velhas indo embora e recebendo um recomendação para sua universidades dos sonhos. Nos dedicamos, ao menos durante as aulas, igualmente para sermos as melhores no que fazíamos, somente para que quando tivéssemos que fazer uma faculdade, conseguíssemos uma recomendação que nos garantiria a que quiséssemos.

Eu vi cada uma das garotas que se igualou a mim caírem por não conseguirem me acompanhar menos a Vídia. Ela tem em sua essência um brilho para o ballet. Mal distribuído, mas brilhava mesmo assim. Em todas as competições que eu não me inscrevia, para não mostrar o meu talento antes da hora, eu percebia como ela agia de modo para que somente ela ganhasse. Nos nunca tínhamos competido, mas eu sabia que mesmo se o fizéssemos ela não tentaria nada contra mim. Ela, assim como eu, sabe reconhecer quando bate de frente com alguém maior que ela.

Desviando minha atenção de Vidia por um minuto pude notar que o escritório onde estávamos era maior do que parecia. Com as paredes pintadas de um tom suave de marrom que combinava perfeitamente com os olhos da madame Diossa. Assenti, sendo repetida por  Vídia quando percebi que ela aguardava algum tipo de integração da nossa parte para poder continuar.