Capítulo 1

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Para você que está chegando agora, aviso logo: Não tenho a pretensão de ser um exemplo ou espelho para ninguém e muito menos uma referência. E, por isso mesmo, não entendi o porquê da autora usar meu nome como se fosse um verbo, no imperativo, como título. Eu sou Bellanne e, por mais que esteja lisonjeada, não compreendo porque alguém deveria "bellannizar-se". Talvez, depois de conviver comigo um tempo, você possa me dizer. Ou, avisar à infeliz da autora para mudar de título. "Inadequada" soaria bem, segundo a minha mãe. Por mim, seria apenas "Divirta-se".

Ok... Não sou revoltada e nem tenho a autoestima em baixa. Aliás, sou até bem feliz e satisfeita com os "meus padrões", mas não sou hipócrita, sei que sou aquele ovo azul que veio por engano na cesta de ovinhos perfeitos, alvos e lisinhos. E sabe o que eu fiz quando isso me chegou à consciência? Eu amei a cor azul!


Mordi os lábios, em êxtase, quando comecei a analisar o meu trabalho de 18 dias no Hawaii. Aquilo estava divino! E quase gritei de excitação, quando vi estampada na foto digital a essência do que eu havia ido buscar: Adrenalina, medo, ansiedade. Aquele segundo que precede a descarga elétrica.

Meu coração disparou e me deixei admirar aquelas cenas... Uns garotos se preparando para pular na Piscina da Morte; dois rapazes prestes a enfrentar uma onda de 15 metros de altura; e um close da jovem finlandesa que, absolutamente morta de medo e excitação, sobrevoou a cratera de um vulcão em um helicóptero - e eu estava lá, em todos esses momentos, registrando... eternizando. Aquilo era adrenalina em seu estado bruto! E eu estava sentindo a danada correr em minhas veias neste exato instante.

- Lucien precisa ver isso aqui... - murmurei para mim mesma. - Valeu a pena! Valeu muito a pena!

Selecionei quinze dentre as melhores fotos. E, modéstia à parte, estavam exatamente como eu desejava. Talvez um ajuste no brilho fosse necessário, por causa da luz fria que inscindia naquele horário.

Abri o programa de edição com certa cautela. Tenho minhas reservas com respeito às edições em imagens. Trago comigo o resquício da ideia - retrógrada, eu sei - de que fotografia se faz é na câmera (embora essa minha teoria também houvesse, em parte, caído por terra, quando adotei a câmera digital). Eu ainda usava a câmera analógica para fotos e momentos especiais, mas a Canon EOS 5D Mark - mais conhecida como Chiquinha - era a minha grande companheira.

Comecei pela foto dos garotos na Piscina da Morte. Ajustei o brilho, fiz um discreto recorte e pronto. Abri a da garota no vulcão. Aquela me daria um pouco mais de trabalho, exatamente porque eu resistia a mexer em suas configurações.

Enquanto lidava com minhas questões éticas, com relação à edição de imagens, pensava na edição de gente. Do mesmo jeito que acontecia com as fotos digitais, as pessoas desejavam o tempo inteiro editar umas às outras. Sombrear alguns pontos, iluminar aquilo que quisesse ressaltar, recortar partes que não lhes interessavam e montar tantas outras partes que sequer lhe caíam com perfeição.

Assim como na foto digital, eu também sou avessa à edição de pessoas. Será que algum dia me dobraria a isso, do mesmo jeito que enverguei - um pouquinho, mas a verdade é que enverguei - aos programas de edição? Será que algum dia me pegaria tentando editar as pessoas e, pior, me deixando editar? Quanto sobraria de mim, depois das montagens? Quanto haveria de mudar o meu olhar, quando alterassem minhas luzes?

Respirei fundo e quando dei por mim, estava no último tratamento. Assim também se desenrolaria a minha história: com dúvidas sobre edições, com uma montagem aqui, um ajuste ali... Mas e no fim? Depois que tivéssemos editado tanto uns aos outros e já não nos reconhecêssemos, só nos restaria uma última decisão: Salvar ou deletar as alterações?

Bellanne-se! - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora